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Da Redação
Publicado em 27 de julho de 2013 às 11h16.
São Paulo - As diversas falhas ocorridas na organização da visita do Papa e da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) no Rio de Janeiro geram preocupação para o Mundial de Futebol 2014 e para os Jogos Olímpicos de 2016.
A primeira viagem do papa Francisco, que foi recebido por um milhão de jovens peregrinos de todo o mundo, se converteu em um calvário diário para a "cidade maravilhosa" e suas autoridades.
A ponto de o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, admitir sua derrota: "se me perguntarem a nota da organização da JMJ, diria que estamos mais próximos de zero do que de 10".
As falhas começaram desde o início do evento. Na segunda-feira, um incrível engano do motorista - que errou o percurso - fez com que o pequeno carro Fiat Idea no qual o pontífice viajava desde o aeroporto ficasse bloqueado em várias oportunidades entre ônibus e uma multidão entusiasmada.
Na terça-feira, um problema de eletricidade paralisou por mais de duas horas o metrô do Rio, semeando o caos na cidade pouco antes da missa de abertura da JMJ na praia de Copacabana, onde se reuniam meio milhão de peregrinos de 170 países.
O mesmo calvário foi vivido para voltar para casa, quando sob uma incessante chuva as filas eram intermináveis nas estações de metrô, havia poucos ônibus e os bares e restaurantes estavam completamente lotados. Estas cenas se repetiram na quinta-feira durante o discurso de boas-vindas do pontífice aos peregrinos.
Por último, as autoridades foram obrigadas a modificar completamente a programação de três grandes eventos: a peregrinação, a vigília e a missa de encerramento.
As chuvas transformaram em um lamaçal o terreno de 300 hectares preparado para a ocasião, em Guaratiba, a 60 km do centro do Rio. Apesar do dinheiro gasto, não se previu que poderia chover. E embora este clima seja pouco previsível, era possível que este terreno inundasse em caso de chuva.
Em um primeiro momento canceladas, a peregrinação e a vigília foram, posteriormente, restabelecidas. Os peregrinos caminham neste sábado do centro da cidade até a praia de Copacabana, onde irá ocorrer a vigília e onde não foi possível, por falta de tempo, instalar banheiros públicos. O Papa presidirá no mesmo local a missa de encerramento.
"O Rio não passou no teste", resumiu Chris Gaffney, um universitário americano que estuda o impacto urbanístico de grandes eventos esportivos no Rio. Mas isto não surpreende este especialista, que destaca "carências estruturais e uma falta de profissionalismo".
"Se você introduz um ou dois milhões de pessoas adicionais em uma cidade com infraestruturas frágeis, tanto no saneamento quanto no transporte, passando pelo sistema de saúde, é evidente que terão problemas", disse.
Segundo ele, a segurança pública é o principal desafio para o Mundial: "Os torcedores de futebol não os são bons peregrinos católicos. Quando você vê com quanta violência a polícia dispersa os manifestantes, imagina o que aconteceria se tivesse que lidar com 2.000 torcedores ingleses bêbados e excitados. É preciso formar a polícia, desmilitarizá-la a partir de agora".
No caso dos Jogos Olímpicos, o que provoca questionamentos é, sobretudo, a mobilidade urbana. "Se o metrô não funcionar, será catastrófico", afirmou Gaffney.
A isto se soma um mal-estar da população, que protestou pedindo mais dinheiro para reforçar os sistemas de transporte, educação e saúde, em vez de destiná-lo a estes grandes eventos.
"Acredito que as pessoas não vão se conformar" e as históricas manifestações sociais da Copa das Confederações voltarão a ganhar espaço, considerou o especialista.
Os jovens brasileiros colocaram à prova os nervos da Federação Internacional de Futebol (Fifa) protestando, às vezes com violência, perto dos estádios para denunciar os gastos públicos, e forçando seu presidente, Joseph Blatter, a dizer: "Caso ocorram novos distúrbios no próximo ano, talvez deveremos reconhecer que o Brasil não era um bom lugar para organizar a Copa do Mundo".