Ativismo gay: grandes associações pelos direitos gays no Brasil não se manifestaram, mas jovens cariocas organizam protesto com a vinda do papa (REUTERS/Gleb Garanich)
Da Redação
Publicado em 22 de julho de 2013 às 11h15.
São Paulo - Apesar do relacionamento historicamente conflituoso entre líderes católicos e a comunidade homossexual, a visita do papa Francisco, que chega hoje ao Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude, não deve causar grandes repercussões na comunidade gay brasileira. Embora esteja previsto um "beijaço", não é esperada uma chuva de protestos por parte de grupos defensores dos direitos homossexuais durante a estadia do pontífice.
Francisco aponta para uma direção mais tolerante na Igreja que seu antecessor, Bento XVI, embora ainda seja firme nos preceitos milenares da Igreja. É contra o casamento gay, mas não contrário à união civil, por exemplo.
Nas últimas semanas, a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), não se manifestou oficialmente sobre a vinda do papa. A reportagem tentou entrar em contato com membros da Associação, mas não conseguiu até o fechamento da matéria.
Outras grandes lideranças gays também se mantiveram afastadas de polêmicas com a Igreja.
O deputado federal Jean Wyllys, por exemplo, se limitou a tuitar um texto do blog “Diversidade Católica”, que defende os “novos ares da Igreja Católica”, com a suposta renovação trazida pelo papa Francisco. Para a Jornada desta semana, jovens católicos homossexuais organizaram sua participação com eventos e encontros religiosos e debates sobre “ser homossexual na Igreja hoje”.
Beijaço
Do outro lado da moeda, três jovens cariocas vindos de diferentes grupos menores, organizaram um evento no Facebook e vão promover um “beijaço LGBT durante o discurso do papa na JMJ”. Mais de 2.200 pessoas já confirmaram presença no evento, marcado para o dia 22 de julho, até o fechamento dessa matéria.
A manifestação em si não é contra nenhuma religião nem o papa, explicam os organizadores. “A manifestação é contra um pensamento conservador, de influência notadamente cristã, que marginaliza as sexualidades e corpos que não se encontram na hegemonia heteronormativa”, afirmam.
O protesto foi pensado desde o ano passado, quando o papa anterior, Bento XVI, fez declarações consideradas pelo grupo como homofóbicas.
“Nosso interesse político, e nossa estratégia, é dar visibilidade à opressão que a população LGBT sofre nas ruas, alertando para o perigo de discursos religiosos fundamentalistas”, explicam. Esse interesse, dizem os organizadores, não mudou com a mudança de líder religioso pela qual passou a Igreja.
Segundo os organizadores, o protesto “espontâneo” não tem a participação de nenhuma das grandes associações pelos direitos gays. “Eu acho que nessa nova onda de protestos, as entidades clássicas têm muito pouco a dizer”, conta João Pedro Accioly, que ajuda a organizar o evento. Ele integra um “coletivo universitário”, grupos políticos de menor expressão quando comparado à ABGLT, por exemplo.
As pautas do protesto de hoje serão muitas: contra homofobia, contra criminalização do aborto e contra a campanha da Igreja contrária ao uso de preservativos, explicam os jovens.
Para Accioly, uma das grandes preocupações é que o público entenda essas pautas e, para isso, a organização está produzindo “panfletos e faixas” para usar durante a caminhada do Largo do Machado até o Palácio Guanabara, no Rio de Janeiro.