Palocci completou, na terça, um ano preso em Curitiba (Renato Araújo/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 28 de setembro de 2017 às 10h56.
São Paulo - Pouco antes da divulgação de uma carta na qual Antonio Palocci pede sua desfiliação do PT e faz duras críticas a Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente disse na terça-feira, 26, que o ex-ministro era um "refém" da Operação Lava Jato e do Ministério Público Federal.
"Por falta de prova, por falta de responsabilidade no comportamento, perante à opinião pública, todo dia uma mentira, todo dia uma invenção e mantém uma série de reféns: (Antonio) Palocci preso há um ano, Marcelo Odebrecht preso há três anos, Leo (Pinheiro) preso há não sei há quanto tempo", disse o petista, em entrevista à Rádio Trianon, de São Paulo.
Palocci completou na terça um ano preso em Curitiba. Seu pedido de desfiliação foi encaminhado à presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR). No texto, ele criticou a sigla que ajudou a fundar e reafirmou declarações dadas ao juiz federal Sérgio Moro. "Somos um partido político sob a liderança de pessoas de carne e osso ou somos uma seita guiada por uma pretensa divindade?", questionou.
Ex-ministro dos governos Lula e Dilma Rousseff, ele foi afastado pelo Diretório Nacional do partido no dia 22 por 60 dias. O motivo foi o depoimento prestado a Moro, no começo deste mês, em que relatou um "pacto de sangue" entre Lula e Emílio Odebrecht por propina.
"As pessoas são obrigadas a dizer o que o Ministério Público quer que elas digam, as pessoas vão sendo obrigadas a dizer o que os advogados dos delatores querem que digam. Ou seja, e vai aumentando a quantidade de mentira, uma atrás da outra e não tem saída", afirmou Lula. A entrevista foi concedida a distância e transmitida ao vivo pela página do petista no Facebook.
Após chamá-lo de refém à tarde, no fim da noite, a assessoria do ex-presidente disse que Palocci "voltou a dizer mentiras" contra Lula com objetivo de fechar uma colaboração.
Palocci foi um dos fundadores do PT e, até o momento, é o único envolvido em escândalos de corrupção da Lava Jato que enfrentou processo disciplinar na sigla.
As declarações de Lula à rádio foram em resposta a como ele teria reagido quanto ao aumento de quase dez anos da pena do ex-ministro José Dirceu pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4).
"Primeiro recebo com tristeza, em saber que o companheiro José Dirceu teve a pena aumentada e acho isso grave. Porque ele já pagou por qualquer crime que ele tenha cometido", afirmou. Para Lula, não havia motivo para a decisão da Justiça. O ex-ministro foi condenado a mais de 30 anos por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Lula, porém, se disse esperançoso no caso do ex-tesoureiro João Vaccari Neto, que foi absolvido pelo mesmo tribunal anteontem. "Mas tem outros inquéritos no caso do Vaccari, certamente eles vão arrumar um pretexto qualquer para não liberar o Vaccari", disse.
Para o ex-presidente, o País vive "época de anormalidade" e "anomalia muito séria". Setores do Judiciário, da Polícia Federal e do Ministério Público, segundo ele, "fazem a condenação das pessoas mesmo sem provas, porque o que é mais grave em todo esse processo é que as pessoas não querem mais prova". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.