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País viverá 48 horas históricas com impeachment e Olimpíada

O pontapé destes dias foi dado nesta terça-feira, quando Anastasia recomendou à comissão que instrui a acusação contra a presidente que siga com o processo


	Dilma: o pontapé destes dias foi dado nesta terça-feira, quando Anastasia recomendou à comissão que instrui a acusação contra a presidente que siga com o processo
 (Ueslei Marcelino / Reuters)

Dilma: o pontapé destes dias foi dado nesta terça-feira, quando Anastasia recomendou à comissão que instrui a acusação contra a presidente que siga com o processo (Ueslei Marcelino / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 3 de agosto de 2016 às 12h51.

O Brasil avança rumo a 48 horas históricas, marcadas pela fase final do dramático processo de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, e a festa de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

O pontapé inicial destes dias vertiginosos foi dado nesta terça-feira, quando o senador da oposição Antonio Anastasia recomendou à comissão que instrui a acusação contra a presidente Dilma que siga com o processo.

A presidente está suspensa do cargo desde maio, enquanto se investiga se violou a Constituição ao autorizar gastos sem a aprovação do Congresso.

Se as acusações forem confirmadas, ela será destituída por "crimes de responsabilidade".

"Começa uma etapa decisiva com a apresentação do informe na comissão especial de 21 senadores e não há dúvida nenhuma sobre o resultado que terá: 16 votos contra 5 a favor da acusação", disse à AFP a senadora Ana Amélia, do PP (conservador).

O voto de Anastasia foi categórico: "Voto pela procedência da acusação e o prosseguimento do processo. É inegável (...) a ofensa ao texto constitucional das condutas sob exame neste processo de impeachment", escreveu em seu relatório de 441 páginas.

Após tirar um dia para discutir o informe, a comissão votará o parecer na quinta-feira, a tempo para ver a estreia da seleção brasileira masculina de futebol contra a África do Sul, quando Neymar tentará começar a cimentar o sonho de dar o inédito ouro olímpico ao Brasil.

Se a comissão do Senado recomendar prosseguir com o impeachment, será aberta a última etapa do processo que mergulhou o Brasil em sua pior crise política em 24 horas antes da cerimônia de abertura das primeiras Olimpíadas da história na América do Sul.

Uma tragédia brasileira

O afastamento de Dilma Roussef deixará a cerimônia de abertura dos Jogos nas mãos do vice e presidente interino, Michel Temer, de 75 anos, que se afastou de sua antiga companheira de chapa nas eleições de 2014 e agora conta com a sua destituição definitiva para concluir o mandato em 2018.

Quatro dias após o início da festa no Rio, em 9 de agosto, haverá uma votação para definir por maioria simples (41 votos) se o caso avança ou será arquivado. Neste mesmo dia, Michael Phelps poderia estar procurando ampliar sua coleção de medalhas na final dos 200 metros borboleta.

O impeachment misturado com as Olimpíadas formam uma parábola dramática entre o triste presente e o passado recente, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva presidia o Brasil e o Rio ganhou, em 2009, em Copenhague, a oportunidade de sediar Os Jogos.

Ali, um Lula feliz aparecia ao lado de Temer, soltando frases como "o Brasil saiu do status de segunda classe e entrou no da primeira" e citava o Banco Mundial para antecipar que seu país seria a quinta economia global em 2016.

Hoje, Lula é acusado de obstruir as investigações em uma escandalosa rede de propina que desviou recursos da Petrobras e enlameou o Partido dos Trabalhadores (PT), do qual foi fundador.

Para Ricardo Antunes, sociólogo da Unicamp, "é a fotografia da tragédia brasileira. O fim do mito criado por Lula, que não tinha uma base real duradoura, era fenomenal, superficial, uma circunstância. O final desta tragédia é 2016, que deveria ter sido a coroação do ciclo dourado e, em seu lugar, tem o impeachment".

"É o que me dizem"

As sessões para a fase final do impeachment de Dilma Rousseff começarão entre o dia 25 e o dia 29 de agosto, após o encerramento das competições, no dia 21.

Uma ampla maioria de senadores e analistas políticos coincidem em que Dilma Rousseff perderá a Presidência e ficará inabilitada a exercer cargos públicos por oito anos. Para que isto ocorra, pelo menos 54 dos 81 senadores terão que apoiar a acusação.

"Quando o Senado aceitou o impeachment, houve 55 votos a favor e agora serão mais. Talvez 58. Este será o desenlace e o próprio PT sabe".

Nenhnum dos dois estará no estádio do Maracanã para a abertura dos Jogos. Reclusa na residência presidencial, Dilma Rousseff prepara sua defesa e insiste em que foi vítima de um golpe do Legislativo.

Para seus críticos, a primeira mulher a presidir o Brasil conduziu o país à pior recessão da história e fez o país mergulhar na corrupção.

"Os governos de Lula e de Dilma Rousseff criaram uma expectativa espetacular quando começaram em 2003 e seu final, em 2016, é melancólico. As Olimpíadas hoje são a expressão de um drama misturado com farsa e um pouco de comédia", disse Antunes.

Com o clima azedo pela luta política, Temer disse estar "preparadíssimo" para ser vaiado no Maracanã.

E, claro, faz contas. Em encontro recente com veículos estrangeiros, perguntaram se teria os votos necessários para ficar na Presidência e terminar o mandato de Dilma Rousseff no final de 2018.

"É o que me dizem", sussurrou.

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