Carteira de trabalho: a situação continua a preocupar especialistas do ponto de vista da produtividade e do crescimento potencial do país (Daniela de Lamare/Gloss)
Da Redação
Publicado em 22 de janeiro de 2014 às 13h29.
Rio - Os novos dados do mercado de trabalho apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que quase um terço das pessoas ocupadas no Brasil não terminaram o ensino fundamental ou não têm sequer algum nível de instrução.
Por outro lado, a fatia da população empregada que concluiu o ensino superior corresponde a pouco menos de 15% dos trabalhadores.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, inaugurada na última sexta-feira, 17, exibe dados a partir do primeiro trimestre de 2012. De lá para cá, a proporção de pessoas na base mais baixa da pirâmide educacional diminuiu.
Uma tendência já mostrada pela Pnad anual. Mas a situação continua a preocupar especialistas do ponto de vista da produtividade e do crescimento potencial do País, algo debatido incansavelmente por economistas.
De acordo com as informações da Pnad Contínua, as pessoas de 14 anos ou mais que não tinham concluído o ensino fundamental respondiam por 26,9% dos 90,6 milhões de ocupados no segundo trimestre de 2013 (dado mais recente divulgado pelo instituto).
Entre as pessoas que não têm nível algum de instrução, esse porcentual era de 5,4%. Os que concluíram o ensino superior, por sua vez, eram 14,9% dos ocupados naquele período.
"Basicamente, há duas consequências (do baixo nível de instrução). Primeiro, a economia brasileira cresce pouco no longo prazo. Não é sustentável, porque a produtividade não aumenta. Além disso, contribui para a má distribuição de renda", afirma o professor da PUC-RJ e economista-chefe da Opus Gestão de Recursos, José Márcio Camargo.
"Um dos fatores preponderantes que compõem o Produto (Interno Bruto, o PIB) é o nível educacional", ressalta o economista Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria.
Sem calcular o quanto um melhor nível da educação poderia acrescentar ao PIB, ele afirma que a formação tem papel fundamental para o crescimento potencial do País, o que demandaria investimentos não só em capital físico e tecnologia, mas também em capital humano.
A Pnad Contínua ainda não divulga dados segregados por atividade. Mas o IBGE pretende abrir mais essa possibilidade na nova pesquisa.
"Será importante para entender qual é o tamanho dessa força de trabalho e, assim, analistas poderão calcular o quanto pode aumentar a produtividade", destaca o coordenador de Trabalho e Rendimento do instituto, Cimar Azeredo, sem definir um prazo para a inclusão desses dados.
Solução
De 2004 para cá, o crescimento do mercado de trabalho ocorreu em cima da ociosidade, destacou o economista Douglas Uemura, da LCA Consultores. Hoje, com uma taxa de desemprego relativamente baixa e uma dinâmica de emprego mais apertada, ele afirma que a economia vai depender cada vez mais da ampliação da capacidade.
"Tem por onde crescer. Mas cada vez mais o crescimento vai depender de produtividade", afirma. Ele ressalta, porém, que não basta investir em educação. "É preciso também avaliar a qualidade."
A resolução do problema não é fácil. Segundo Camargo, alguns países tentam abreviar o caminho com a oferta de cursos técnicos de curta duração, mas o retorno é pequeno. "Não conheço solução de curto prazo. É preciso haver enorme aumento do investimento no ensino público, principalmente na pré-escola e no ensino fundamental.
Hoje, os investimentos são muito focados no ensino superior", afirma Camargo. "É preciso concentrar investimentos para evitar que, no futuro, a pessoa chegue à idade adulta com tão baixa qualificação."
Para o economista-chefe da Opus, o Brasil nunca criou uma liderança política que tivesse como prioridade os investimentos em educação. "É um problema histórico, difícil de resolver. A culpa não é só dos atuais governantes."
Perfil
O perfil das pessoas ocupadas é um retrato da própria situação educacional do País. Entre as pessoas em idade de trabalhar (a partir dos 14 anos), 31,6% não têm o ensino fundamental completo, e outras 9,4% não têm nenhum nível de formação.
Entre os que têm nível superior completo, o porcentual chega a 10,7%. Segundo o IBGE, os dados mostram que o nível de formação da mão de obra brasileira ainda é superior à média geral, pois a proporção dos que têm ensino superior e estão ocupados é maior.
"O mercado de trabalho é exigente", afirma Azeredo. "Quanto mais escolarizada a pessoa, mais oportunidades ela vai ter".
O coordenador do IBGE ainda afirma que os dados devem seguir a tendência de melhora, na medida em que a população idosa de hoje sair da força de trabalho.
"Há uma parcela idosa que não estudou na idade adequada. E, para o posto atual, ela não sente a necessidade de estudar. Então, alguns recuperaram isso, mas outros não", explica.