São Paulo - O cenário setorial elaborado pelo Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco parte das seguintes premissas para 2011: ampliação dos investimentos, desaceleração moderada do crédito e da renda, taxa de câmbio valorizada no atual patamar e expansão moderada da demanda externa. O texto explica que o real valorizado tem impacto desigual sobre os setores. "Se por um lado a moeda barateia as matérias-primas importadas, reduzindo custos em setores com elevado coeficiente de importação, por outro reduz a rentabilidade de setores exportadores, nem sempre compensada pela elevação nos preços dos bens exportados. Outro efeito colateral do câmbio é o acirramento da concorrência interna com produtos importados, notadamente os chineses, e da externa, também com os chineses, nos nossos mercados de destino. Para os exportadores de commodities, entretanto, a perda de rentabilidade com o câmbio tem sido compensada pelo aumento recente no preço das exportações." A partir de critério qualitativos, o estudo deu notas positivas e negativas para nove variáveis macroeconômicas: câmbio, concorrência acirrada, pressão de custos/aperto de margens, demanda externa, investimentos, renda, programas de transferência de renda, crédito e juros e elevação de preços das commodities agrícolas. Feitos os cálculos, a nota máxima (scoring, na linguagem do banco) foi 8 e a mínima, -5. Com base nesse scoring, os setores foram divididos em quatro grupos (ver imagem ao lado): alta performance, média performance, média-baixa performance e baixa performance. Veja a seguir o relatório feito por Regina Helena Couto Silva, Priscila Pacheco Trigo e Rita de Cássia Milani, sob a direção do economista Octavio de Barros. Observação: O título desta matéria utilizava a expressão setores "micados". Foi modificado para refletir mais diretamente a terminologia usada pelo Bradesco
2. Cimento, construção pesada e petróleo serão os campeõeszoom_out_map
2/6(Oscar Cabral/VEJA)
São Paulo - Os setores com melhor desempenho em 2011 estarão ligados aos investimentos públicos e privados, como cimento, construção pesada e petróleo. Diz o relatório do Bradesco: "A dinâmica desses setores será favorável por conta das elevadas inversões que deverão ser realizadas nos próximos anos em ampliação da capacidade produtiva industrial, em diversos segmentos, em infraestrutura para a Copa e as Olimpíadas, em obras que estão no PAC (na foto, obra do PAC no Recife) e na extração de petróleo da camada pré-sal. O setor de borracha e plástico deverá ser beneficiado pela demanda advinda da construção e dos bens de consumo duráveis, bem como pelo câmbio apreciado que reduz o custo com matérias-primas importadas pelo setor."
Fonte: Bradesco
Setores / Alta Performance
Nota
Cimento
8
Construção - Infraestrutura
8
Petróleo e Derivados
8
Borracha e Plástico
7
3. Comércio, Energia, Construção e Minério têm boas perspectivaszoom_out_map
3/6(Cristiano Mariz/VOCÊ S/A)
São Paulo - Nesse grupo, classificado pelo Bradesco como Média Performance, estão os setores ligados à renda e ao crédito ou à demanda chinesa. "Celulose e minério de ferro claramente deverão ter demanda robusta advinda da China, mas o câmbio apreciado atuará negativamente nas margens das empresas", diz relatório do banco, que salienta que o agronegócio dependente de exportação terá sua rentabilidade afetada pelo câmbio, ainda que a demanda externa e os preços estejam em alta. Segue o texto: "Os demais setores, muito ligados à renda e ao crédito, ainda terão o benefício da demanda interna robusta no próximo ano, porém em desaceleração, dado o cenário de menor taxa de crescimento de variáveis como renda, emprego e crédito. Destacamos neste grupo de setores a construção imobiliária (foto), que também deverá ter demanda aquecida, mas terá que administrar a elevação dos custos de materiais e de mão-de-obra, bastante escassa."
Fonte: Bradesco
Setores / Média Performance
Nota
Informática
6
Transporte Aéreo
6
Construção - Imobiliária / Energia Elétrica
6
Bens de Capital
6
Agronegócio
6
Papel e Celulose / Minério de Ferro
6
Química / Farmacêutica
6
Comércio / Supermercados
6
Máquinas Agrícolas / Fertilizantes
5
Eletroeletrônicos / Telefonia
5
Embalagens
5
4. Alimentos, móveis e carros terão dificuldades um pouco maioreszoom_out_map
4/6(Divulgação/VOCÊ S/A)
São Paulo - O Bradesco classifica como Média-baixa Performance os setores que ainda possuirão demanda robusta em 2011, mas com margens apertadas por causa do câmbio valorizado, da forte concorrência e dos custos elevados. O complexo automotivo (foto) é citado como exemplo de um setor que ainda vai vender bastante, mas que sofre com os custos altos de mão-de-obra e com a concorrência acirrada dos importados. Sem falar, é claro, na dificuldade que as montadoras estão encontrando para exportar sua produção. "Esse setor também foi afetado pelas medidas recentes de restrição ao crédito", destaca o relatório. Segue o texto: "Outro setor a ser citado como exemplo neste grupo é a indústria de alimentos, beneficiada pela demanda firme no mercado doméstico, mas que se depara, por outro lado, com a elevação de custos vinda das commodities agrícolas combinadas com câmbio apreciado, comprimindo as margens da exportação."
Fonte: Bradesco
Setores / Média-baixa Performance
Nota
Indústria de Alimentos / Bebidas
4
Complexo Carnes
4
Alumínio / Siderurgia
4
Complexo Automotivo
4
Editorial e Gráfica
4
Transportes / Autopeças
3
Indústria de Móveis
3
5. Têxtil, calçados e madeira serão os setores de baixa performancezoom_out_map
5/6(Germano Luders/EXAME)
São Paulo - Segundo o relatório do Bradesco, apenas três setores são classificados como Baixa Performance: têxtil, calçados (na foto, fábrica da Vulcabras) e madeira. Não por coincidência, são os segmentos que mais sofrem atualmente com o câmbio valorizado, a concorrência chinesa e a demanda fraca dos países ricos. Diz o texto: "Estes setores têm em comum o fato de as exportações serem concentradas nos países desenvolvidos, além de serem intensivos em mão-de-obra. Por conta disso, sofrem sobremaneira com a concorrência chinesa, dado que a China é bastante competitiva em setores intensivos em mão-de-obra."
São Paulo - Conforme pode ser observado na imagem ao lado, as melhores oportunidades nos próximos anos estarão concentradas nos setores ligados a investimentos e os que dependem de renda e crédito. Diz o relatório do Bradesco: "Numa visão de mais longo prazo, podemos esperar que, apesar da enorme capacidade exportadora do Brasil, o motor do crescimento brasileiro siga sendo o mercado doméstico, alavancado pelo emprego, renda, crédito e investimentos. Nesse sentido, os setores ligados a investimentos deverão ter alta performance nos próximos cinco anos, enquanto que os setores ligados à renda deverão ter média/alta performance. Apenas para ressaltar, os segmentos ligados à renda encontrarão ainda demanda aquecida nos próximos anos, mas terão o desafio de lidar com um mercado doméstico altamente concorrencial." Para os exportadores, as noticias não são animadoras, pois a previsão é de um câmbio médio apreciado nos próximos cinco anos. Com isso, a performance setorial será de nível médio-baixo. "Os setores que já sofrem com a concorrência chinesa e o real valorizado continuarão com baixa performance. É fato que, no longo prazo, as empresas deverão manter seus programas de ganhos de produtividade organizando processos produtivos para se ajustarem a este cenário", concluiu o estudo.