Brasil

Os quatro recados de Lula no discurso de abertura da cúpula entre a Celac e União Europeia

Na fala, o presidente relembrou que a última vez que esteve em Bruxelas, em novembro de 2021, ainda era pré-candidato a Presidência e pregou pela união de todos os países em prol do futuro do planeta e da humanidade

Lula: o presidente brasileiro afirmou que a cúpula "representa um passo importante na construção do mundo que sonhamos" (EMMANUEL DUNAND/AFP/Getty Images)

Lula: o presidente brasileiro afirmou que a cúpula "representa um passo importante na construção do mundo que sonhamos" (EMMANUEL DUNAND/AFP/Getty Images)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 17 de julho de 2023 às 13h42.

Última atualização em 17 de julho de 2023 às 14h07.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou nesta segunda-feira, 17, na abertura da terceira reunião de Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-America e Caribenhos (Celac) e da União Europeia (UE), em Bruxelas, na Bélgica

Na fala, o presidente brasileiro relembrou que a última vez que esteve em Bruxelas, em novembro de 2021, ainda era pré-candidato à Presidência e pregou pela união de todos os países em prol do futuro do planeta e da humanidade. Ele afirmou que a cúpula "representa um passo importante na construção do mundo que sonhamos".

Acordo Mercosul-União Europeia

No seu discurso, Lula apontou para "uma longa história e laços econômicos e sociais" da América Latina com a Europa, mas que é necessária uma parceria que "ponha fim a uma divisão internacional do trabalho que condena a América Latina e o Caribe ao fornecimento de matéria-prima e de mão de obra migrante, mal remunerada e discriminada".

O brasileiro disse querer uma relação comercial "justa, sustentável e inclusiva" com o continente, e garante que o acordo Mercosul e União Europeia é "uma prioridade e deve estar baseada na confiança mútua e não em ameaças".

Ele também afirmou que a defesa do meio ambiente não poder ser desculpa para o protecionismo. "O poder de compra do estado é uma ferramenta essencial para os investimentos em saúde, educação e inovação. Sua manutenção é condição para industrialização verde que queremos implementar, disse Lula.

O novo texto do acordo entre Mercosul e União Europeia deve incluir pedidos de mudança no capítulo de compras governamentais. O petista quer resguardar o acesso a licitações federais. 

Mais cedo, em encontro com empresários, o mandatário disse que espera concluir um acordo "equilibrado" até o fim de 2023. O presidente falou sobre o ponto que está em discussão para o acordo sair do papel, as compras governamentais. Segundo ele, "as compras governamentais são um instrumento vital para articular investimentos em infraestrutura e sustentar nossa política industrial”.

Mais uma vez falando sobre a guerra na Ucrânia, Lula afirmou que o conflito é a "confirmação de que o Conselho de Segurança das Nações Unidas não atende aos atuais desafios à Paz e à Segurança" e que os próprios membros não respeitam a carta da ONU.

O brasileiro repudiou a invasão russa e disse que apoia as iniciativas em favor de uma negociação de paz. "Recorrer a sanções e bloqueios sem o amparo do direito internacional serve apenas para penalizar as populações mais vulneráveis", afirmou.

O petista disse que o mundo precisa de paz para superar os grandes desafios e que dividir o mundo em blocos antagônicos é "uma insensatez". Lula garantiu que uma reforma da governança global será uma dos principais temas da presidência brasileira do G-20, no próximo ano.

O presidente brasileiro disse que a floresta tropical não deve ser vista "apenas como um santuário ecológico" e defendeu um desenvolvimento sustentável do mundo.

O discurso de Lula vai ao encontro dos planos do governo nos próximos meses. O Ministério da Fazenda irá lançar um projeto que promete fazer uma "revolução verde" na economia brasileira e começará com uma nova proposta para o mercado de carbono.

Regulamentação das plataformas digitais

Lula afirmou que a revolução digital trouxe oportunidades, mas também desafios, principalmente a necessidade da regulamentação das plataformas digitais. "É urgente regulamentarmos o uso das plataformas para combater ilícitos cibernéticos e a desinformação. O que é crime na vida real, deve ser crime no mundo digital", afirmou o petista.

O mandatário criticou os aplicativos e disse que eles não podem "simplesmente abolir as leis trabalhistas pelas quais tanto lutamos". Ele reforçou que é necessário reverter a precarização do trabalho e resgatar uma indústria mais intensiva em tecnologia e voltada para a sustentabilidade como "grande motor da geração de empregos de qualidade".

O que esperar da cúpula Celac-UE

Segundo o Itamaraty, a cúpula "propiciará oportunidade para a retomada do diálogo de alto nível sobre temas de interesse comum e os desafios da atualidade". A expectativa é que 60 países participem do encontro de dois dias, entre 17 e 18 de julho. Mais cedo, a presidente da comissão europeia anunciou investimentos de R$ 243 bilhões na América Latina e Caribe. Representantes do setor privado e de bancos de financiamento também estarão no evento. São esperados os blocos discutam temas como:

  • Mudança do clima e transição justa e sustentável;
  • Comércio e desenvolvimento sustentável;
  • Inclusão social;
  • Transição digital inclusiva e justa;
  • Segurança cidadã e combate ao crime organizado;
  • Transição energética;
  • Reforma da arquitetura financeira internacional;
  • Recuperação econômica pós-pandemia da covid-19.

Na sexta-feira, negociadores de países membros dos blocos se reuniram e discutiram uma declaração final da cúpula. Segundo a agência Lusa, o texto inicial tinha 13 páginas, e já foi reduzido para três. É esperado uma declaração de enceramento que firme compromissos pelo meio ambiente e desenvolvimento sustentável. A cúpula, segundo integrantes da diplomacia espanhola, será mais política do que de negociação.

Foram realizadas duas reuniões de cúpula entre as regiões. A primeira aconteceu em janeiro de 2013 no Chile. O último encontro ocorreu em junho de 2015 em Bruxelas. A previsão é que um novo encontro ocorra em 2025, na Colômbia. O Brasil havia deixado a Celac durante o governo Jair Bolsonaro, mas retornou em janeiro, assim que Lula tomou posse.

A reaproximação dos blocos acontece após a União Europeia anunciar uma “Nova Agenda para o Fortalecimento da Parceria com a América Latina e o Caribe”, com foco em uma parceria política renovada e no reforço das agendas comercial e de investimentos. Em 2021, as relações comerciais entre os dois blocos foram de € 300 bilhões.

Acompanhe tudo sobre:Luiz Inácio Lula da SilvaEuropaUnião Europeia

Mais de Brasil

Entenda 'fatiamento' de denúncia contra Bolsonaro e veja quem está em cada grupo

Rio cria canal para denúncias de trabalhadores em calor extremo

Senado aprova projeto que libera emendas bloqueadas em primeira sessão presidida por Alcolumbre

Entenda os argumentos da PGR para denunciar Bolsonaro e outras 33 pessoas por tentativa de golpe