Moro para Lula: "minha convicção é que o senhor é culpado” (Montagem de Rodrigo Sanches/EXAME.com/Divulgação)
Luiza Calegari
Publicado em 21 de dezembro de 2017 às 11h23.
Última atualização em 21 de dezembro de 2017 às 11h30.
São Paulo — O ano que está acabando foi marcado por muitas animosidades. Confrontos diretos ou velados entre várias figuras da política tomaram os noticiários, fazendo recrudescer o clima de polarização política.
Relembre três embates do ano que passou, que podem ajudar a compreender o que nos espera em 2018, das eleições presidenciais:
O juiz Sérgio Moro interrogou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva duas vezes neste ano. E, nas duas, o que se viu foi um bate-boca entre o magistrado e o político do PT.
No primeiro interrogatório, Lula foi chamado para prestar depoimento sobre o caso do tríplex no Guarujá. Na segundo, para fornecer esclarecimentos sobre a acusação de ter recebido propina da Odebrecht para a compra de um terreno que seria destinado à construção da sede do Instituto Lula.
O primeiro encontro foi menos tenso, com o detalhe curioso de Moro estar vestindo uma gravata vermelha enquanto Lula usava uma verde e amarela. Depois do interrogatório, Moro condenou Lula a nove anos e seis meses de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção passiva.
O segundo depoimento teve um clima mais pesado. Nas considerações finais, o ex-presidente Lula acusou o juiz de agir com parcialidade no julgamento do caso do tríplex.
“Eu não vou discutir a outra ação com o senhor, ex-presidente”, respondeu Moro. “A minha convicção é que o senhor é culpado”.
O presidente Michel Temer se viu em apuros quando o jornal O Globo divulgou uma conversa gravada entre ele e o empresário Joesley Batista, da JBS, num encontro fora da agenda oficial, à noite, no palácio Jaburu.
Na conversa, Joesley supostamente alude a pagamentos feitos ao ex-deputado Eduardo Cunha, que está preso, e Temer responde: “tem de manter isso aí, viu”.
A frase escandalosa motivou a primeira denúncia da Procuradoria-Geral da República contra um presidente em exercício. Para se defender, Temer partiu para o ataque. Ele chamou Joesley de “grampeador-geral da República”, ao que o empresário rebateu dizendo que Temer era o “ladrão-geral da República”.
Após descobertas irregularidades na delação de Joesley, o empresário foi preso. Já Temer conseguiu barrar as duas denúncias contra ele no Congresso; e só poderá ser investigado após o fim do mandato.
A disputa entre o prefeito de São Paulo, João Doria Junior, e o governador do estado, Geraldo Alckmin, foi mais passivo-agressiva. Novato na política e eleito com o apadrinhamento de Alckmin durante a campanha, Doria começou a demonstrar pretensões presidenciais, o que desagradou ao mentor.
Quando começava a ser criticado por suas viagens a várias capitais do país, o prefeito de São Paulo afirmou que "o povo" deveria escolher o candidato tucano à presidência, o que acabou criando uma crise até entre aliados.
Suas ofensas ao ex-governador do PSDB, Alberto Goldman, também pegaram mal. Doria afirmou que Goldman era "fracassado”, “improdutivo” e disse que ele “vive de pijama”.
A aprovação de sua gestão caiu entre os paulistanos. Ao mesmo tempo, Alckmin montou uma ofensiva para unificar o partido e foi eleito presidente do PSDB.
Agora, Doria parece ter abandonado, por enquanto, suas pretensões à presidência da República. Deve sair candidato ao governo do Estado em 2018.
Não foram só os políticos que protagonizaram cenas de antagonismo neste ano. Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso bateram boca em mais de uma ocasião em 2017.
Em junho, eles trocaram farpas durante a discussão sobre invalidação das provas em delações premiadas já firmadas. “Essa é a opinião de Vossa Excelência. Deixa os outros votarem", disse Gilmar, irritado, a Barroso.
Em outubro, novo bate-boca, nessa vez sobre a extinção dos tribunais de contas municipais. Gilmar Mendes começou alfinetando, criticando a situação financeira do estado do Rio de Janeiro, onde Barroso nasceu. Ele rebateu, então, perguntando se no Mato Grosso, estado de Gilmar Mendes, “está tudo muito preso”.
O último embate foi há dois dias, quando Gilmar Mendes criticou a investigação da Procuradoria Geral da República na delação da JBS, chamando o trabalho de "corta e cola mal feito".
Barroso saiu em defesa da PGR, afirmando: "eu vi a mala de dinheiro, vi a corridinha na televisão".