Fortes chuvas provocam enchente em Juatuba, Minas Gerias (Douglas MAGNO/AFP)
Agência O Globo
Publicado em 11 de janeiro de 2022 às 06h48.
A semana começou com previsão de extremos climáticos severos no país. A chuva que castiga boa parte do Sudeste deve continuar intensa até quarta-feira (12) trazendo risco de desastres como os que afetam Minas Gerais. Para o Sul, castigado pela seca, a previsão é de aumento do calor, com possibilidade de altas temperaturas inéditas no Rio Grande do Sul, diz o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador-geral de Operações e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
Infelizmente, é de chuva pesada até quarta-feira, de 80mm a 100mm numa região que tem mais 300 mm acumulados, em alguns lugares, até mais, nos primeiros dias de janeiro. Há risco de inundação, de deslizamento e de rompimento de barragens: Minas é um estado repleto delas, principalmente as de mineração. Elas estão acompanhadas pela Defesa Civil, técnicos, para que a população possa ser alertada e retirada a tempo.
Cânions, cachoeiras, falésias, são perigosos porque a chuva intensa desestabiliza áreas naturalmente instáveis. Devem ser evitados, é uma questão de bom senso.
Rio de Janeiro e Espírito Santo sofrem com as chuvas e a previsão para eles é semelhante à de Minas Gerais. O risco é maior principalmente nas regiões montanhosas, com encostas encharcadas há dias e rios muito acima do nível. Temos tido incidentes menores, mas, assim como em Minas, uma pancada mais forte pode ser o gatilho para um desastre maior. Todos devem estar alertas e seguir as orientações da Defesa Civil. Os próximos dias não serão fáceis.
A partir de quinta-feira e pelas duas semanas seguintes a tendência é de chuvas até abaixo da média histórica e as temperaturas sobem.
Um calor intenso não só para a região, mas para qualquer lugar. Certamente chegarão aos 40ºC no Rio Grande do Sul, parte da Argentina e no Uruguai.
O calor é perigoso para a saúde e em alguns lugares pode faltar energia porque as redes de transmissão, principalmente as mais antigas, não suportam o excesso de demanda por mais gente ligando o ar-condicionado ao mesmo tempo. É também péssimo para a agricultura, que tem sido castigada pela estiagem.
Não acho que seja apenas efeito da La Niña. Vemos o que seria uma flutuação normal da atmosfera, porém, com uma intensidade muito maior. A atmosfera é como um oceano de ar, tem ondas. O que os modelos de previsão projetam para os próximos dias são um mar revolto, ondas com cristas elevadíssimas e fundos muito pronunciados. Essas cristas são zonas de alta pressão. Os pontos fundos, verdadeiros vales, são as de baixa. Nas zonas de baixa pressão pronunciada temos chuvas torrenciais e nas de alta, calor.
Dois motivos combinados. As zonas de alta pressão inibem a formação de nuvens e a radiação do sol atinge a superfície sem piedade. São dias de sol de rachar. E alta pressão comprime o ar, que esquenta.
Os modelos de mudança climática preveem o aumento da frequência e da intensidade de eventos extremos. É preliminar fazer qualquer afirmação. Mas, sim, podemos dizer que está no contexto dessas mudanças climáticas. Temos um evento de chuva extrema e um evento de calor extremo ocorrendo simultaneamente. O trágico é que podemos prever, mas não podemos evitar esses eventos.