O TIME TEMER: fazer o “Brasil trabalhar” é o mote do presidente / Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil
Da Redação
Publicado em 13 de setembro de 2016 às 12h05.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h47.
Lucas Amorim
O deputado afastado Eduardo Cunha foi finalmente cassado na noite desta segunda-feira por maioria esmagadora na Câmara. É um problema a menos para o presidente Michel Temer, sem dúvida. Cunha era próximo do presidente, com quem conversava com frequência, e recentemente confidenciou a aliados que se sentia abandonado pelo Planalto. Espera um gesto de gratidão por ter encaminhado o impeachment de Dilma Rousseff. “Alguém aqui tem alguma dúvida que se não fosse por mim o processo não teria andado?”, perguntou na tribuna.
Mas no cenário atual de Brasília é impossível ficar realmente aliviado. No mesmo dia em que se livrou de Cunha, Temer recebeu a notícia de que André Moura (PSC-SE), líder do governo na Câmara, se absteve de votar ontem, causando constrangimento na casa. Poucas horas depois, os jornais noticiaram que o Tribunal de Contas da União vai investigar uma transação do grupo J&F com a Alpargatas feita enquanto Henrique Meirelles, atual ministro da Fazenda, era presidente do conselho.
Ou seja, Cunha se foi, os enrolados continuam aí. “Cunha era de fato o maior dos problemas. Mas novas denúncias vão continuar pipocando. Vai ser preciso lidar com elas”, afirma Saulo Porto, sócio da consultoria política Prospectiva. A melhor saída, segundo Porto, será colocar logo na rua uma agenda positiva, com medidas concretas para resgatar a economia. A primeira delas é logo nesta terça-feira, com a divulgação da primeira fase do Programa de Parcerias e Investimentos. “As ações precisam se impor às denúncias”, diz. A seguir, os problemáticos de Temer:
André Moura, líder do governo na Câmara
Moura foi um dos nove deputados que se abstiveram de votar na sessão que cassou Cunha na noite desta segunda-feira. Ou seja: como não votou contra, se manteve fiel a Cunha. Moura é o responsável por defender e encaminhar as pautas do governo na Câmara, e foi escolhido para acalmar os partidos do Centrão (que inclui 12 partidos como PSC, PSD, PTB e PRB e tem 225 deputados). É réu em três ações no Supremo Tribunal Federal e responde a outros três inquéritos, um deles por tentativa de homicídio. Já foi condenado quatro vezes pelo Tribunal de Contas da União e só conseguiu concorrer em 2014 por liminar.
Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil
Padilha é um dos principais conselheiro de Temer. É também réu em uma ação civil de improbidade administrativa, acusado de ordenar pagamento superfaturado de 2 milhões de reais a uma empresa quando era ministro dos Transportes com Fernando Henrique Cardoso (de 1997 a 2001). A ação foi aceita em 2013 pela 6a Vara Federal do Distrito Federal, e aponta Padilha como lobista que usava o cargo para “pagamentos absolutamente ilícitos”. Recentemente, o Ministério Público Federal pediu o bloqueio de seus bens e a restituição de 300.000 reais por empregar um funcionário fantasma. Em junho, reportagem da revista VEJA afirmou que, nos tempos de FHC, seu apelido era “Eliseu Quadrilha”.
Geddel Vieira Lima, ministro da Secretaria de Governo
Geddel é um dos principais responsáveis pela articulação política do governo. Foi deputado federal pela Bahia por cinco mandatos, ex-ministro de Integração Nacional de Lula e vice-presidente da Caixa Econômica Federal entre 2011 e 2013. Seu nome aparece em mensagens apreendidas pela Polícia Federal, em janeiro, em que teria atuado em favor da empreiteira OAS na Caixa e Secretaria de Aviação Civil para acordos em seu estado natal. Há também acusação do Tribunal de Contas da União por favorecimento à Bahia na liberação de verbas para prevenção de catástrofes durante sua passagem pelo Ministério da Integração Nacional.
Henrique Meirelles, ministro da Fazenda
Meirelles é o nome forte da economia de Temer e o responsável por passar credibilidade para atrair os investimentos que o país tanto precisa. Foi colocado na berlinda na semana passada, quando os controladores do grupo J&F, dono do frigorífico JBS, foram afastados do comando da empresa em decorrência da Operação Greenfield, que investiga desvios em fundos de pensão. Meirelles foi executivo da companhia entre 2012 e 2016 – em nota, a Fazenda afirmou que o ministro “se limitava a prestar consultoria”. Nesta terça, um novo episódio pode complicar sua situação. O TCU começou a investigar um empréstimo de 2,7 bilhões de reais da Caixa para a J&F comprar a Alpargatas no fim de 2015 – quando Meirelles era presidente do conselho.
Moreira Franco, titular da Secretaria de Parcerias e Investimentos
Moreira Franco não é ministro, mas pode vir a ser, segundo afirmou Temer ao jornal O Globo no domingo. Ainda assim, é um dos principais interlocutores do presidente e o responsável pela área de parcerias que será fundamental para turbinar o caixa do planalto. A primeira leva de projetos será divulgada nesta terça-feira – os planos é conseguir entre 20 e 30 bilhões de reais em 2017. Um problema nada desprezível: Eduardo Cunha tem dito que Moreira Franco vai ser o primeiro alvo de suas denúncias, o que deixa o governo de cabelo em pé. O ministro foi citado na Lava-Jato em mensagens trocadas com o ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, sobre a concessão para o aeroporto de Confins, quando era ministro da Aviação de Dilma.
Renan Calheiros, presidente do Senado
De todos os homens fortes do governo, Renan é o mais enrolado. El responde atualmente a 12 inquéritos na Suprema Corte, nove deles relacionados às investigações da Lava-Jato sobre a corrupção na Petrobras, um relativo à Operação Zelotes, além de dois que apuram irregularidades no pagamento da pensão de uma filha. Renan é mestre em fazer jogo duplo. No dia que selou o impeachment de Dilma Rousseff, articulou para salvar os direitos políticos da ex-presidente, mas se reaproximou de Temer ao votar pela cassação do mandato. Deve ser decisivo para encaminhar pautas importantes no Senado até o fim do ano.
Romero Jucá, senador
Jucá foi ministro do Planejamento por dez dias no governo interino de Michel Temer e é um dos políticos mais poderosos do governo. Mas pediu exoneração do cargo após o jornal Folha de S. Paulo divulgar uma conversa em que ele sugere um “pacto” para barrar a Lava-Jato com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Jucá é investigado na Lava-Jato e em outro processo no Supremo Tribunal Federal. Na sua saída, Temer divulgou uma nota em que afirmava que contava com ele para auxiliar “o Governo Federal no Congresso de forma decisiva, com sua imensa capacidade política”.