O ex-governador mineiro precisa mostrar sua capacidade de liderança nacional para unir o PSDB (Fabio Rodrigues Pozzebom/AGÊNCIA BRASIL)
Da Redação
Publicado em 19 de julho de 2012 às 14h36.
Nenhum outro tucano saiu das urnas tão vitorioso quanto Aécio Neves. Após oito anos à frente do governo de Minas Gerais, ele se elegeu senador com 7,6 milhões de votos e ainda empenhou seus 70% de aprovação no estado nas vitórias de Itamar Franco (PPS), também para o Senado, e de Antonio Anastasia, o antes desconhecido vice-governador que se transformou em seu sucessor.
Da popularidade de Aécio Neves, portanto, ninguém pode duvidar. A prova que se apresenta a ele agora é de outra natureza. Nos próximos quatro anos, o ex-governador mineiro precisa mostrar sua capacidade de liderança nacional para unir o PSDB e pavimentar o caminho até as eleições presidenciais de 2014.
Ao lado do governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, Aécio é hoje o principal nome do PSDB para a disputa. Alckmin, apesar da votação expressiva em São Paulo, já foi derrotado uma vez por Luiz Inácio Lula da Silva. Aécio é, no conteúdo e na forma, a grande novidade. Terá voltados para si todos os holofotes da oposição.
Para Marco Antonio Villa, historiador e professor de Ciência Política da Universidade de São Carlos, Aécio terá de evoluir para se firmar no cenário nacional. "A rotina de senador lhe exigirá outra postura. A cada dia ele precisa estar pronto a discutir uma pauta diferente", analisa Villa. "Não basta ser conciliador, ter jogo de cintura. É preciso ter e defender ideias em um ambiente de tensão permanente."
O voto de 44% dos brasileiros em José Serra no segundo turno das eleições de 2010 serve de recado para Aécio: há demanda por um discurso e uma proposta de oposição. "Aécio deve falar, antes de tudo, a esse eleitorado", diz Villa.
O sociólogo Humberto Dantas, doutor em Ciências Políticas pela Universidade de São Paulo, lembra que, para construir a viabilidade de seu nome para 2014, Aécio precisa quebrar a centralização do PSDB em São Paulo. Seria a saída para suavizar a rixa entre tucanos mineiros e paulistas e seus reflexos negativos nas urnas – foi por causa dessa disputa interna que Serra se saiu mal em Minas, e se a questão não for resolvida, pode se voltar contra Aécio em São Paulo numa futura eleição nacional.
Para dar conta de tantas missões, bastaria a Aécio o cargo de senador? Ele jura que sim. Correligionários fazem eco. "Ele não procura títulos, é um líder nato. Aécio pode ser qualquer coisa, menos um qualquer", afirma o fiel escudeiro Nárcio Rodrigues, presidente do PSDB de Minas.
Apesar do discurso, circulam pelos bastidores pelo menos três possibilidades, complementares ao Senado, para 2011. Aécio poderia assumir a presidência do Senado, poderia ainda presidir o PSDB, ou abandonar o partido que ajudou a fundar.
Presidência do Senado
O posto dos sonhos de Aécio é tão desejado quando improvável. E o mineiro dá sinais de que não pretende encampar essa guerra, ao assumir o discurso de que vai respeitar a proporcionalidade como critério de escolha do presidente da Casa. "Ele pode até sonhar com a presidência do Senado, mas não aposta em cavalo perdedor", analisa Marco Antonio Villa. Para Humberto Dantas, assumir a tarefa seria "uma jogada de mestre". "Ao mesmo tempo, porém, representaria um custo muito alto", avalia.
A escolha preza pela representação proporcional dos partidos que compõe a Casa. Quem tem a maior bancada decide. No caso, o PMDB, com 20 cadeiras, e o PT, com 14, estão na frente do PSDB, que tem 11. "Há um acordo muito bem amarrado entre PMDB e PT para comandar o Senado. É uma posição com poder e visibilidade enormes. A base não entregaria isso a Aécio", diz Villa.
Os galanteios do governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), lançando Aécio ao posto, têm outra explicação. “São um recado ao PT, para que preste atenção ao PSB na partilha de espaço dentro do governo Dilma Rousseff”, diagnostica Dantas. “Aécio tem proximidade com Cid, Ciro Gomes e Eduardo Campos. Eles podem agir juntos, se quiserem.” PSDB e PSB firmaram alianças regionais em cinco estados nas eleições de 2010: Paraná, Alagoas, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Paraíba. Em todos eles, os candidatos a governador apoiados saíram vitoriosos.
Presidência do PSDB
O PSDB decidiu esticar até maio de 2011 o mandato do presidente nacional do partido, senador Sérgio Guerra, que terminaria em outubro. E não foi à toa. O objetivo é evitar o acirramento de ânimos entre apoiadores de José Serra e de Aécio Neves em um momento já delicado, após a derrota de Serra nas urnas. A disputa pela presidência do partido mobilizará os dois grupos, mas tende a terminar com uma decisão no melhor estilo tucano: um nome de convergência.
"Não seria bom para o PSDB ter Serra ou Aécio como presidente nacional, por conta das rusgas entre os grupos de cada um. Um deles assumir representaria que o outro foi derrotado, o que só aumentaria a cisão", afirma Humberto Dantas.
Para Marco Antonio Villa, a tarefa de dirigir o partido exigiria de Aécio dedicação. "O PSDB é um condomínio de algumas lideranças regionais fortes. Precisa de alguém que o transforme em partido, com discurso, proposta e identidade”, diz o professor. “A tarefa envolve muito esforço interno. E Aécio precisa garantir visibilidade externa se quiser sair candidato a presidente em 2014."
O caminho natural, portanto, será Aécio tentar colocar na presidência do partido um nome de sua confiança, avalia cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais. "Não interessa a Aécio que Serra assuma a presidência do partido. Isso daria ao adversário força para tentar mais uma candidatura à Presidência da República." Um dos nomes de confiança de Aécio cotados para o cargo é o do senador em fim de mandato Tasso Jereissati (PSDB-CE).
Por hora, tanto serristas quanto aecistas são só elogios a Sérgio Guerra. "Ele tem ido muito bem na condução do partido, mostra muita tranqüilidade e uma paciência incrível para acomodar correntes", afirma a senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), uma das apoiadoras mais fieis do ex-governador paulista. "O partido está muito bem conduzido na mão de Guerra", afirma o deputado federal Nárcio Rodrigues (PSDB-MG).
Fora do PSDB
Possibilidade remota, mas que ainda será muito ventilada nos próximos meses. Os boatos a respeito da saída de Aécio Neves do PSDB facilitam barganhas do mineiro dentro do partido e negociações de líderes do PSB e do PMDB com o PT. "Se houver alguma mudança de partido, so acontecerá depois das eleições municipais de 2012, quando o cenário eleitoral estiver mais claro", acredita Villa. "Até lá surgirão muitos balões de ensaio."
Sair de verdade só se a situação dentro do partido ficar insustentável, avalia Fábio Wanderley. "Aécio só sai se o partido estiver se desintegrando, que não é o que se vê agora.” Para Humberto Dantas, o perfil de Aécio deve garantir sua permanência entre os tucanos. “Sair seria difícil e arriscado. Aécio teve paciência para esperar o melhor momento para se candidatar, cedeu a vez a Serra. Além disso, tem uma boa relação com Alckmin. Juntos os dois darão identidade ao novo PSDB."