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Orientação vocacional não deve se limitar às escolas

Família deve colaborar no processo, pois escolha da profissão também passa por desejos e ansiedades pessoais

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 27 de agosto de 2012 às 12h19.

São Paulo - Pesquisa sobre orientação vocacional destinada a alunos do ensino médio mostra que a escolha profissional migrou do âmbito familiar para ser mais uma atribuição das escolas particulares. A psicanalista Deborah Bulbarelli Valentini, que realizou o estudo em seu mestrado na Faculdade de Educação (FE) da USP, afirma que, no entanto, há a necessidade de se dimensionar quais são os objetivos da orientação. Caso isto não ocorra, “corre-se o risco de que ela se transforme em apenas mais um produto a ser vendido pelas escolas particulares”.

A psicanalista defende que a escola deve instruir o aluno, mas há a necessidade que a família não se ausente deste processo. “A escolha profissional como qualquer outra escolha importante que o adolescente faz, será determinada por aspectos inconscientes, pelo que se transmite de geração a geração familiar”, destaca.

O estudo buscou compreender os discursos que circundam e direcionam a educação atual, o modo como as mudanças sócio-político-culturais levaram a orientação vocacional a se transformar em um processo psicopedagógico e até que ponto a escola realmente está apta a auxiliar na escolha de uma profissão.

Para a análise, a pesquisadora utilizou a definição do psicanalista Jacques Lacan em que o discurso é condição para que haja laços entre as pessoas, além de explicitar as relações de poder e de influenciar os posicionamentos que as pessoas assumem diante do mundo.

Ela explica que o desejo de realizar a pesquisa veio com a implementação de um projeto de orientação vocacional em uma escola particular da Grande São Paulo voltada para alunos de classe alta. Com vinte anos de experiência em educação, a psicanalista pode perceber grandes alterações na forma de percepção da relação escola, aluno e família.


“A escola a cada dia alarga suas responsabilidades e abrange até mesmo atribuições que no passado eram da família. Ao mesmo tempo que a família se torna menos presente na educação”, observa.

Discurso capitalista

A pesquisadora considera que a escolha de uma profissão pelos adolescentes tem sido cada vez mais caracterizada por sofrimentos e ansiedades. Dentro dos fatores que alicerçam tais sentimentos estariam a diminuição do convívio familiar, uma certa visão de ciência que privilegia a informação e o discurso capitalista em que se propõe às pessoas um objeto de fácil consumo e rápido.

Dentro da mentalidade capitalista de que tempo é dinheiro, no corre-corre diário, “nem sempre é possível disponibilizar tempo para questões familiares”, aponta Deborah. Assim, a busca por estas soluções rápidas, práticas e ‘científicas’ torna-se frequente. É preferível pagar para se resolver o problema. “É sob esta perspectiva que a orientação profissional toma outras dimensões e acaba por se inserir no rol de produtos a serem oferecidos sob o rótulo de educação diferenciada”, conclui.

A dissertação de mestrado Impasses pedagógicos contemporâneos: um estudo sobre a orientação vocacional em escolas foi orientada pelo professor Rinaldo Voltolini, da FE.

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