Coronavírus: presidente afirmou que decisão será definida nesta quarta (25) (Ueslei Marcelino/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 25 de março de 2020 às 09h27.
Última atualização em 25 de março de 2020 às 10h53.
O presidente Jair Bolsonaro afirmou que pedirá ao Ministério da Saúde mudança na orientação de isolamento da população durante a pandemia do novo coronavírus.
Ao deixar o Palácio da Alvorada nesta quarta-feira, Bolsonaro relatou que vai conversar com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, sobre a decisão.
Após fazer um pronunciamento criticando o confinamento e defendendo a abertura de comércios e escolas, o chefe do Planalto pediu a adoção do que chamou de "isolamento vertical", ou seja, somente para idosos e portadores de comorbidades.
"Conversei por alto com o Mandetta ontem (terça). Hoje vamos definir essa situação. Tem que ser, não tem outra alternativa", disse Bolsonaro ao deixar o Palácio da Alvorada.
"A orientação vai ser vertical daqui para frente. Eu vou conversar com ele e tomar a decisão. Não escreva que já decidi, não. Vou conversar com o Mandetta sobre essa orientação."
No discurso, o presidente questionou a quarentena imposta por Estados pelo coronavírus e defendeu a volta do país à "normalidade", ignorando recomendações explícitas de especialistas sobre a necessidade de isolamento social para não sobrecarregar os hospitais.
O presidente também afirmou que "alguns poucos governadores" -- citando especificamente os de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) -- estão cometendo "um crime" e "arrebentando com o Brasil".
"O que é que preciso ser feito? Botar este povo para trabalhar, preservar os idosos, preservar aqueles que têm problemas de saúde, mais nada além disso. Caso contrário, o que aconteceu no Chile vai ser fichinha perto do que pode acontecer no Brasil", disse.
"Todos nós pagaremos um preço que levará anos para ser pago, se é que o Brasil não possa ainda sair da normalidade democrática que vocês tanto defendem. Ninguém sabe o que pode acontecer no Brasil", disse o presidente, citando a possibilidade de saques a supermercados.
Ele ainda acusou Doria e Witzel, com quem se reunirá nesta manhã em videoconferência junto aos demais governadores da Região Sudeste, de fazerem demagogia em relação à pandemia de coronavírus.
O pronunciamento nacional de rádio e televisão foi recebido por uma série de críticas de políticos, inclusive entre a cúpula do Congresso Nacional.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), afirmou, em nota, que a fala foi grave. Ele cobrou uma liderança "séria, responsável e comprometida com a vida e a saúde da sua população".
Já o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, (DEM-RJ), considerou “equivocado” o posicionamento do presidente. Ele criticou o fato de Bolsonaro usar a estrutura da transmissão para atacar a imprensa, governadores de Estado e especialistas em saúde pública.
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), apontado como possível adversário de Bolsonaro nas próximas eleições presidenciais, afirmou que o pronunciamento "mostra que há poucas esperanças" de que o presidente "possa exercer com responsabilidade e eficiência a Presidência da República".
"Os danos são imprevisíveis e gravíssimos", criticou. Dino anunciou também que manterá no Maranhão "todas as providências preventivas e de cuidado em face do coronavírus".
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), afirmou que Bolsonaro é "desconectado das orientações dos cientistas do mundo e das ações do Ministério da Saúde". Casagrande afirmou que o presidente "confunde a sociedade, atrapalha o trabalho nos Estados e municípios, menospreza os efeitos da Pandemia". "Mostra que estamos sem direção", tuitou.
A líder do PSL na Câmara e ex-líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (SP), chamou o presidente de "irresponsável, inconsequente e insensível" e que ele "erra e se orgulha do erro estúpido".