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Opinião: Abuso de telas e imperialismo digital, o que fazer?

Do declínio da concentração à crise educacional: por que precisamos debater o uso excessivo das telas

Uso de celular para redes sociais (Getty Images)

Uso de celular para redes sociais (Getty Images)

Publicado em 28 de março de 2025 às 16h00.

Última atualização em 28 de março de 2025 às 17h03.

A educação brasileira pública e mundial enfrenta um novo desafio: a falta de concentração, a ansiedade, o desinteresse aos professores e os demais problemas ocasionados pelo abuso do uso de telas.

Em especial, garanto: nenhum objeto alterou a sociabilidade humana na história recente mais do que o celular com internet e touch. Desde uma simples refeição em família, passando por relacionamentos e, claro, a sala de aula, os smartphones têm alterado como nos comportamos e agimos.

A “geração ansiosa” citada por Jonathan Haidt recebe a maior quantidade de notícias e informações em toda a história e, consequentemente, isso impactou a forma de aprendizagem, a diminuição dos índices de QI e inteligência para a resolução de problemas simples. Melhor dizendo, a “facilidade” trazida pela tecnologia não forçou nossos cérebros a se desenvolverem mais, ao contrário, uma geração inteira tem mais problemas de leitura e escrita, e, portanto, educacional, porque relega tais funções às inteligências artificiais. Este é o relato de diversos professores, especialmente do ensino médio, que estão em sala de aula.

Nesse sentido, a recente lei aprovada sobre celulares no ambiente escolar, inclusive nos intervalos, foi recebida, geralmente, como uma boia de salvação por parte dos professores. Não que a lei esteja sendo cumprida à risca, mas em seus primeiros meses de aplicação, os professores têm nos dito que a ampla divulgação do tema, quando da sua aprovação, fez os alunos refletirem e diminuírem o ímpeto — e respeitarem a normativa com mais facilidade. Obviamente, não sem dificuldade, mas o fato é que a lei ajudou.

Em 2024, apresentei um projeto de lei para combater o abuso de telas, entendendo que essa é uma questão que envolve toda a sociedade. Entre as medidas propostas, defendemos uma campanha nacional de conscientização, nos moldes do combate ao tabagismo nas décadas de 1980 e 1990. A ideia é alertar a população com mensagens como: “este produto vicia”; “este produto causa ansiedade”; “este produto causa depressão”, e assim por diante. É um debate urgente, que precisa ser ampliado e aprofundado.

“É preciso uma vila inteira para fazer uma criança”. Stephen Grahan, ator e produtor inglês, um dos criadores da série Adolescência, utilizou a frase em recente talk show, após a enorme repercussão de sua minissérie que aborda o assassinato de uma garota por um adolescente de 13 anos, levantando reflexões profundas sobre o impacto do ambiente social e digital na formação das novas gerações.

As big techs e seus feeds infinitos já admitiram que seus produtos altamente lucrativos podem contribuir para diversos problemas. E a crescente quantidade de casos e produções como essa revelam a influência significativa das redes sociais no comportamento de crianças e jovens.

O Brasil precisa exercer sua soberania e não se submeter aos imperialismos digitais vindos do Vale do Silício ou de qualquer outro lugar. Proteger nossas crianças, adolescentes e o sistema educacional é, em última análise, proteger o futuro do nosso país. Essa responsabilidade é coletiva. Cabe a nós estudarmos, refletir, arregaçar as mangas e agir.

*Dorinaldo Malafaia é deputado federal pelo Amapá e membro da Frente Parlamentar Mista da Educação

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