Polícia Federal apreende carros de luxo de quadrilha especializada em lavagem de dinheiro e desvio de dinheiro público, na Operação Miqueias (Elza Fiúza/ABr)
Da Redação
Publicado em 20 de setembro de 2013 às 09h20.
Brasília e São Paulo - A Operação Miqueias, deflagrada ontem pela Polícia Federal, desarticulou um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou R$ 300 milhões num período de um ano e meio e causou prejuízos de R$ 50 milhões a fundos de pensão municipais. Relatório da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros da PF, ao qual o Estado teve acesso, relaciona entre os contatos do grupo criminoso deputados federais, estaduais e, pelo menos, um senador. Há menção, ainda, nos diálogos, a um ministro, mas a Polícia Federal não informa quem seria.
O esquema consistia em aliciar agentes públicos para que as prefeituras investissem o dinheiro dos fundos de pensão em títulos indicados pelo grupo. Em troca, o gestor recebia uma parte do dinheiro.
Esses investimentos eram em títulos com baixa remuneração, o que causou prejuízos em fundos de pensão de dez municípios. No total, 20 pessoas foram presas, entre eles o policial civil aposentado do Distrito Federal Marcelo Toledo, réu no processo do mensalão do DEM, e o doleiro Fayed Traboulsi. Por causa da proximidade de integrantes do esquema com políticos, a PF irá enviar parte da investigação para a Procuradoria-Geral da República.
Durante a investigação, o deputado federal Leandro Vilela (GO) foi fotografado ao lado dos deputados estaduais Daniel Vilela e Samuel Belchior, todos do PMDB, em almoço com Luciane Hoepers - uma das operadoras do esquema, segundo a PF. Belchior é presidente do partido em Goiânia.
O deputado federal Luís Tibet (PTdo B-MG) também é citado numa conversa entre uma lobista e uma "pastinha", como a PF identifica operadores do grupo criminoso. " Lembra que eu te falei do Luís Tibet, o deputado que está me querendo puxar pro partido dele, tudo? Aí falei com ele... pra ele abrir tal os municípios deles aí eu ia pro partido dele e tudo", disse Marta Lança - uma das investigadas, considerada peça-chave no esquema -, conforme o relatório da PF. "O diálogo é bastante esclarecedor para dar uma ideia da jogada política que é feita envolvendo deputados e os respectivos municípios de sua base aliada", concluem os agentes federais.
Lavagem. A Polícia Federal apurou também lavagem de dinheiro. Trinta empresas foram criadas pelo grupo, constituídas em nome de laranjas. Somente uma das empresas do esquema, a MC Incorporações e Consultoria movimentou R$ 63,5 milhões entre julho de 2011 a março de 2012. Os dois esquemas eram operados pelas mesmas pessoas. O comando da operação era de Fayed Traboulsi, que a PF descreve como "um dos maiores doleiros de Brasília", e Marcelo Toledo.
A PF fez ontem busca e apreensão em 38 endereços de nove Estados mais o DF e tinha mandados de prisão de 22 pessoas temporária e preventiva. Também foi pedida a prisão de Carlos Eduardo Carneiro Lemos, o Dudu, também apontado como um dos líderes do grupo.
Ligado ao líder do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ), Dudu estava foragido até o fechamento desta edição. Ele é conhecido como um eficiente operador de fundo de pensão. O deputado Leandro Vilela (PMDB-GO) diz não se lembrar do encontro com Luciana Hopers e não ter "relação com fundos de pensão".
O Estado tentou contato com o deputado federal Luís Tibet, mas as ligações feitas ontem para seu gabinete não foram atendidas. Os advogados dos suspeitos presos não foram localizados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.