Brasil: "a reforma é necessária, mas é preciso ter um olhar atento para não penalizar alguns grupos, como agricultores e mulheres", disse a organização (Chris McGrath/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de março de 2017 às 12h56.
Última atualização em 21 de março de 2017 às 12h57.
Brasília, - Ao anunciar o relatório de Desenvolvimento Humano na manhã desta terça-feira, 21, o coordenador residente do Sistema das Organização das Nações Unidas Niky Fabiancic, afirmou que Brasil enfrenta desafios urgentes, como a questão da pobreza, do desemprego e do crescimento humano e que o sistema acompanha com interesse as discussões de reforma no País. "Estamos atentos às propostas de reforma de ensino médio, da previdência, trabalhista e tributária."
A coordenadora do relatório no Brasil, Andrea Bolzon, observou que a maior preocupação é com as pessoas que estão em maior vulnerabilidade.
"A reforma é necessária, mas é preciso ter um olhar atento para não penalizar alguns grupos, como agricultores e mulheres", disse.
O mesmo ocorre com a reforma trabalhista. "É preciso cuidado para que trabalhadores não sejam explorados, não se enfrentam situações de insegurança no trabalho."
Andrea observou que está em curso no sistema das Nações Unidas um estudo mais aprofundado sobre as reformas que estão em discussão no País.
Fabiancic avaliou que, embora o País tenha avançado de forma significativa nos últimos 20 anos, há muito ainda para se alcançar. Ele citou, por exemplo, a baixa participação da população feminina na política.
"Em média 22% das mulheres ocupam assentos nos parlamentos do mundo. O Brasil tem somente 10,8%", comparou. Esse porcentual é menor até mesmo do que o registrado por exemplo na República Centro Africana, última colocada no ranking do IDH. Naquele país, 12,5% das vagas do parlamento são ocupadas por mulheres.
Batizado de "Desenvolvimento Humano para Todos", o relatório divulgado nesta terça pelas Nações Unidas tem como meta apoiar a discussão e implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e dedica um olhar especial para as desigualdades.
O documento propõe quatro eixos de atuação de política nacional, com destaque para ações de afirmação a facilitação da participação de grupos excluídos.
"Esses eixos podem ajudar a pensar o cenário brasileiro, tendo como meta seguir o avanço no desenvolvimento humano, com preocupação de não deixar ninguém para trás", disse ele.
No mundo, observou, um em cada três pessoas vive em um nível de desenvolvimento humano baixo. Mulheres ganham em média 24% menos que os homens e ocupam somente 24% dos altos cargos empresariais.
A coordenadora Andrea Bolzon citou que em 2014 e 2015 a pobreza no Brasil aumentou, rompendo um ciclo de queda identificado desde a década anterior.
A pesquisadora observa que, a partir dos dados, é necessário pensar quais medidas devem ser adotadas para que a tendência não se mantenha.
Pela primeira vez na série histórica, o Brasil ficou estagnado no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Relatório das Nações Unidas divulgado nesta terça-feira, 21, revela que o País alcançou o indicador 0,754, de uma escala de 0 a 1, o mesmo obtido no ano anterior. Com esse desempenho, o País se mantém na 79ª posição no ranking, empatado com a Ilha de Granada.
A Noruega, primeira da lista, alcançou o IDH 0,949. A pior colocação foi da República Centro-Africana, com 0,352. Ao todo, participam do ranking 188 países e territórios.
"São poucos os países que ficam estagnados ou caem no desempenho do IDH. A tendência é de todos avançarem de um ano para o outro", afirmou a coordenadora do Relatório de Desenvolvimento Humano Nacional, Andréa Bolzon. Neste ano, por exemplo, mais de uma centena de países apresentou melhora nos indicadores.
A queda de IDH foi registrada sobretudo em países que enfrentaram condições adversas. Foi o caso, por exemplo, da Síria. Para Andrea, o desempenho brasileiro é reflexo da crise econômica que o País já enfrentava em 2015, ano da coleta dos dados do relatório.
A pesquisadora observa, por exemplo, que entre 2014 e 2015 a pobreza no Brasil aumentou, rompendo um ciclo de queda identificado desde a década anterior.
Dados indicam que, em 2015, 3,63% da população vivia em situação de extrema pobreza, com uma renda mensal per capita de até R$ 70.
Naquele mesmo ano, 9,96% da população era classificada como vulnerável à pobreza, com rendimento de até R$ 140 reais por mês.
O desemprego, por sua vez, cresceu de forma expressiva neste mesmo período. Os mais afetados foram jovens. A taxa de desemprego entre 15 a 24 anos em 2015 era de 23,1%, bem acima dos 17% identificados em 2014.
Em seguida, estavam as mulheres. O nível de desemprego entre mulheres cresceu de 8,9% para 11,8% no biênio 2014-2015, de acordo com dados da PNAD.
Desenvolvido há 26 anos, o IDHtem uma escala de 0 a 1. Quanto mais próxima de um, melhor a situação do país. As notas são dadas a partir da avaliação de três quesitos: saúde, educação e rendimento.
Entre 1990 e 2015, a média de crescimento do IDH brasileiro foi de 0,85% ao ano. A análise dos dados mostra que o que levou o País a quebrar essa trajetória foi o padrão de vida.
A renda nacional per capita foi de 14.145 P.P.P. (paridade de poder de compra, uma medida internacional usada para permitir comparação entre diferentes moedas).
Em 2014, a renda havia sido 14.858. O relatório mostra que, em 2015, a renda per capita na Turquia, por exemplo era de 18.705. Já o México era de 16.383 e o Chile, de 21.665.
Nos outros quesitos do IDH, o País apresentou uma discreta melhora. A expectativa de vida (usada para medir o desenvolvimento na área de saúde) foi de 74,7 anos.
Mais do que os 74,5 indicados em 2014. Na área de conhecimento, o Brasil obteve um pequeno avanço na média de anos de estudo. Passou de 7,7 em 2014 para 7,8 em 2015.
Por outro lado, chama a atenção da estagnação de outra variante usada para avaliar o conhecimento, a expectativa de anos de estudo. Desde 2013, esse indicador não ultrapassa a marca dos 15,2 anos.
O IDH brasileiro está um pouco acima da média regional da América Latina e Caribe, que foi de 0,751 em 2015. Na comparação entre Brics, apenas a Rússia traz um IDH superior ao do Brasil: 0,804.
China, África do Sul e Índia aparecem no ranking em posições abaixo do País, com indicadores 0,738; 0,666 e 0,624, respectivamente.