Brasil

ONG holandesa oferece pílulas de aborto a mulheres com zika

A organização, alarmada pela situação, pede ao governo do Brasil que não intercepte os pacotes "ao menos durante a duração da epidemia de zika"


	Zika: "O zika vírus está se espalhando para a maioria dos países onde o aborto é muito restrito"
 (Thinkstock/JPC-PROD)

Zika: "O zika vírus está se espalhando para a maioria dos países onde o aborto é muito restrito" (Thinkstock/JPC-PROD)

DR

Da Redação

Publicado em 2 de fevereiro de 2016 às 11h16.

Uma ONG holandesa oferece pela internet pílulas gratuitas às mulheres grávidas infectadas com o vírus zika para provocarem, se desejarem, um aborto medicinal seguro, diante da suspeita de que a doença gera malformações congênitas.

A organização, alarmada pela situação, pede ao governo do Brasil que não intercepte os pacotes enviados "ao menos durante a duração da epidemia de zika".

"O zika vírus está se espalhando para a maioria dos países onde o aborto é muito restrito", explicou à AFP Rebecca Gomperts, fundadora e diretora do Women on Web.

"Ficamos preocupados que isso provoque o aumento de abortos inseguros. Realmente nos preocupamos com a saúde e a vida das mulheres e queremos garantir que as mulheres tenham acesso a um bom aborto medicinal", acrescentou Gomperts.

Na segunda-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que o zika vírus é o principal suspeito da multiplicação de malformações congênitas na América Latina e declarou uma emergência de saúde mundial.

Gomperts disse que as mulheres que temem que seus filhos nasçam com malformações podem entrar no site http://www.womenonweb.org para uma consulta on-line gratuita.

A página do site possui opções em vários idiomas, incluindo inglês, francês e espanhol.

A mulher interessada que se conecta ao site é direcionada a "um doutor habilitado que poderá fornecer a ela um aborto medicinal", afirma a Women on Web.

A mulher completa um questionário on-line e se "não há contraindicações" é enviado "o aborto medicinal (com as pílulas Mifepristone e Misoprostol)", explica o site, que aponta três condições para que a ajuda seja concretizada.

Viver "em um país no qual o acesso ao aborto seguro está restrito", "gravidez de menos de 9 semanas" e não sofrer "nenhuma doença grave", explica o site.

Um "aborto medicinal" é uma combinação de duas pílulas diferentes para desencadear uma interrupção de gravidez não cirúrgica, explicou Gomperts.

A Women on Web foi criada em 2005 para apoiar o acesso ao aborto seguro em todo o mundo.

Atualmente recebe cerca de 10.000 mensagens de e-mail mensais pedindo assessoramento.

"Nosso objetivo é salvar a vida das mulheres", insiste Gomperts, que não quis revelar quantos pacotes de aborto medicinal envia por mês.

Com mais de 1,5 milhão de pessoas contagiadas desde abril, o Brasil é o país mais afetado pelo vírus, seguido da Colômbia, que no sábado informou sobre mais de 20.000 casos, 2.000 deles em mulheres grávidas.

O Brasil, com 4.000 casos suspeitos de microcefalia, também é o maior país católico do mundo por população e impõe restrições rígidas sobre o aborto.

Entre estas restrições figura a interceptação dos pacotes que contêm as pílulas para um aborto medicinal, indicou a Women on Web.

Por esta razão, a ONG pede ao governo brasileiro a suspensão da medida, "ao menos durante a duração da epidemia de Zika", disse sua diretora, que também demonstrou preocupação pela atitude dos correios de Colômbia e Guatemala, que podem atrasar a chegada dos pacotes.

Texto atualizado às 12h16.

Acompanhe tudo sobre:AbortoDoençasMicrocefaliaONGsZika

Mais de Brasil

'Ônibus elétrico custa uma fábula e não deveria pegar trânsito', diz representante das empresas

PGR defende que Collor vá para prisão domiciliar

Dino suspende pagamento de emendas parlamentares de saúde sem conta bancária específica

Oposição formaliza pedido de CPI do INSS com 184 assinaturas e aumenta pressão pela saída de Lupi