São Paulo – Desde o dia 13 de agosto, quando o avião que levava Eduardo Campos (PSB) caiu em Santos (SP), a trajetória de Marina Silva na campanha eleitoral assumiu traços de pico de uma montanha russa – que sobe e desce bruscamente.
De 21% das intenções de voto nos dias seguintes à morte do então parceiro de chapa, a candidata pulou para 34% das intenções no primeiro turno durante a última semana de agosto, segundo o Datafolha.
Não deu outra. Acuada com a ameaça do efeito Marina, Dilma Rousseff (PT) começou a revidar com uma série de ataques contra a ex-senadora. Resultado: desde então, a candidata ao Planalto do PSB só tem visto seu desempenho sucumbir nas pesquisas.
Neste sábado, véspera do primeiro turno das eleições, aconteceu aquilo que os marineiros mais temiam: Aécio Neves (PSDB), isolado no terceiro lugar até pouco tempo, ultrapassou Marina Silva, segundo Ibope e Datafolha.
Veja alguns dos possíveis erros que a candidata pode ter cometido ou obstáculos que teve que enfrentar ao longo da campanha que levaram ao quadro atual.
Ela demorou para revidar
Na última propaganda do horário eleitoral, veiculada na quinta-feira, Marina subiu o tom nas críticas contra Dilma Rousseff. No entanto, para especialistas, a reação chegou tarde.
"Ela poderia ter antecipado a contra propaganda”, afirma Roberto Gondo, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e presidente da Politicom. “A Marina não é uma pessoa de ataque, mas chega uma hora que você tem que se posicionar”.
O programa de governo expôs fragilidades
Em vez de fortalecer, apresentar um programa de governo apenas serviu de brecha para ataques dos adversários de Marina. Primeiro, com a revisão dos trechos que versavam sobre casamento igualitário. Depois, com as propostas para o pré-sal e Banco Central, por exemplo.
Faltou didática
Paulo Baía, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acredita que faltou didática à candidata nos esclarecimentos do plano de governo e até sobre sua posição como religiosa, por exemplo.
“Ela deveria demonstrar claramente sua capacidade de ser presidente, de viabilizar o plano de governo em discursos mais efetivos. Ela tem intenções, propostas institucionais e algumas até intangíveis, que são frágeis”, afirmou Emmanuel Publio Dias, professor de marketing político da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) em entrevista a EXAME.com.
A relação com o PSB atrapalhou
As fragilidades internas e a cultura partidária do PSB também podem ter atrapalhado a candidata, segundo especialistas. “A grande fragilidade dela é a falta de estrutura partidária”, diz Gondo. “O PSB não é o partido de origem de Marina, não é o espaço em que ela tem influência”.
Além disso, faltou tempo para a candidata – e não estamos falando apenas de tempo na televisão, que também era pífio. Enquanto as outras campanhas estão se mobilizando há meses, a de Marina teve cerca de 50 dias para se organizar.
Logo após a morte de Eduardo Campos, Roberto Romano, professor de Filosofia Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirmou a EXAME.com que o tempo poderia ser um obstáculo para a candidata.
“Trocar a roda com a caminhonete andando é muito difícil. O tempo é um elemento essencial da política: você gasta tempo para ganhá-lo. O PSB não tem tempo para gastar. Ele foi tolhido pela tragédia”, disse.
-
zoom_out_map
1/11 (Valter Campanato/Agência Brasil)
São Paulo – Após o (barulhento) primeiro racha depois da candidatura, a equipe de
Marina Silva para a corrida ao Planalto já está costurada. Luiza Erundina (
PSB) e Walter Feldman, recém-chegado ao grupo de confiança de Marina, serão responsáveis pela coordenação-geral da campanha. Segundo nota do PSB, o deputado federal Márcio França deve cuidar do caixa da campanha junto com o "marinista" Bazileu Margarido. Detalhe: França é candidato a vice-governador de São Paulo na chapa de Geraldo Alckmin (
PSDB). A aliança foi criticada pelo grupo de Marina. A lista completa dos nomes que compõem a equipe de campanha de Marina Silva ainda não foi divulgada.
-
2. Beto Albuquerque
zoom_out_map
2/11 (Reprodução/Facebook/Beto Albuquerque)
Candidato à vice-presidente na chapa do PSB, foi quatro vezes deputado federal. Atualmente, é o líder do partido na Câmara. Irá representar a coligação nos estados que Marina se recusar a fazer campanha com aliados, como São Paulo e Santa Catarina. Formado em Direito, ele mantém um
bom relacionamento com representantes do agronegócio – inimigos históricos de Marina. Nas duas últimas eleições para a Câmara, boa parte do dinheiro arrecadado por Beto veio dos cofres de empresas ligadas ao setor.
-
3. Luiza Erundina
zoom_out_map
3/11 (Agência Câmara)
Com a renúncia de Carlos Siqueira, Luiza Erundina assumiu a coordenação da campanha. Aos 77 anos, ela já foi prefeita de São Paulo e deputada federal quatro vezes consecutivas.
Também já foi filiada ao PT, do qual se desvinculou em 1997 depois de brigas internas por ter assumido um ministério no governo Itamar Franco. Desde então, está no PSB – embora não seja unanimidade dentro do partido.
-
4. Walter Feldman
zoom_out_map
4/11 (Agencia Camara)
Recém-chegado ao Rede Sustentabilidade, Walter Feldman teve toda sua trajetória política ligada ao PSDB. Foi três vezes deputado federal pelo partido, coordenador de subprefeituras da cidade de São Paulo durante o período em que José Serra foi prefeito e secretário chefe da Casa Civil durante o governo de Mário Covas no estado. Ele deixou o grupo tucano no ano passado. Antes disso, ele já participava da articulação para criar o partido de Marina, do qual hoje é porta-voz. A sua nomeação como coordenador-geral adjunto da campanha do PSB teria sido o estopim para a saída de Carlos Siqueira.
-
5. Maria Alice Setubal
zoom_out_map
5/11 (EXAME/Arquivo)
Amiga íntima de Marina desde 2010, a socióloga Maria Alice Setubal é herdeira de Olavo Setubal, o fundador do banco Itaú. Ela foi a principal responsável pela
captação de recursos e apoio à fundação da Rede Sustentabilidade – cujo registro foi negado pelo TSE no ano passado.
Conhecida como Neca (apelido originário da palavra “boneca”), é presidente da Fundação Tide Setubal e fundadora do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC). Socióloga formada pela USP, é coordenadora do programa de governo da campanha. .
-
6. Maurício Rands
zoom_out_map
6/11 (Câmara dos Deputados/Arquivo)
É primo da viúva de Eduardo Campos e coordenador do programa do governo da campanha junto com Neca. Advogado, foi eleito deputado federal duas vezes consecutivas pelo PT. Em 2012, ele se desfiliou do partido e renunciou ao cargo para não ser acusado de infidelidade partidária. Depois de se filiar ao PSB, o nome dele chegou a ser cotado para suceder Campos no governo de Pernambuco. Em entrevista ao
Rádio Jornal Pernambuco, ele afirmou ontem que continua na equipe até o final da campanha.
-
7. Eduardo Giannetti da Fonseca
zoom_out_map
7/11 (Divulgação)
Guru econômico de Marina desde 2010, Eduardo Giannetti é defensor da autonomia do Banco Central e do restabelecimento do tripé macroeconômico que pautou as políticas do governo de Fernando Henrique Cardoso e o primeiro mandato de Lula. Giannetti é formado em Economia e Ciências Sociais pela USP.
-
8. André Lara Resende
zoom_out_map
8/11 (Paulo Jares)
André Lara Resende é um dos nomes por trás da elaboração do Plano Real. Economista pela PUC-Rio, combina a teoria econômica com meio ambiente e psicanálise. O produto deste pensamento o aproximou de Marina Silva. Ele foi citado por Neca em entrevista ao jornal
Folha de São Paulo como o parceiro de Giannetti na elaboração das propostas econômicas da chapa. A assessoria de imprensa da campanha, contudo, não confirma se ele integrará a equipe oficialmente.
-
9. Márcio França
zoom_out_map
9/11 (Divulgação/Assessoria de Imprensa)
Candidato a vice-governador na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB), Márcio França assume a coordenação financeira da campanha, segundo nota do
PSB. Foi prefeito de São Vicente (SP) e duas vezes deputado federal. É o líder do PSB em São Paulo. O partido de Marina é contrário à aliança com os tucanos. Em entrevista ao jornal
Estado de São Paulo no ano passado, ele afirmou que “não dá para a Rede chegar e apertar o delete em tudo”. Marina não irá fazer campanha em São Paulo.
-
10. Bazileu Margarido
zoom_out_map
10/11 (Reprodução/YouTube)
Bazileu Margarido foi chefe do gabinete de Marina no Ministério do Meio Ambiente e um dos principais articuladores da criação da Rede. Dividirá as responsabilidades no comitê financeiro da campanha com França.
-
11. Agora, veja uma seleção de frases de Marina Silva
zoom_out_map
11/11 (Lailson dos Santos/Veja)