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Onda de calor: motorista de Uber pode cobrar por ar-condicionado? Veja resposta da empresa

Com o Rio em meio à nova onda de calor, esse comportamento, mais para o calorento do que para o caloroso, provoca justa indignação nos usuários

Rodando pela mesma empresa há um ano e sete meses, o motorista Carlos Cezar, de 32 anos, repudia a ação de alguns colegas (Redes Sociais/Reprodução)

Rodando pela mesma empresa há um ano e sete meses, o motorista Carlos Cezar, de 32 anos, repudia a ação de alguns colegas (Redes Sociais/Reprodução)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 15 de dezembro de 2023 às 09h52.

Última atualização em 15 de dezembro de 2023 às 10h07.

Quem recorre ao serviço de transporte por aplicativo e pede ao motorista para ligar o ar-condicionado já deve ter ouvido uma dessas respostas: “está quebrado”, “não está incluído nesta categoria” ou, o que é ainda mais surpreendente, “será cobrada uma taxa extra”.

Com o Rio em meio à nova onda de calor, esse comportamento, mais para o calorento do que para o caloroso, provoca justa indignação nos usuários. A cobrança “por fora” ou qualquer outra negociação no valor da corrida em troca de refresco nestes dias de altas temperaturas são proibidas pelas empresas que oferecem o serviço.

As regras vigentes não impediram a advogada Karina Bruno de penar com o calor durante uma viagem na terça-feira passada. Dentro do carro que havia pedido, ao deparar com o aviso pendurado atrás do banco do carona, ela resolveu desabafar nas redes sociais: o motorista da categoria X da Uber, que geralmente oferece a menor tarifa, informava em comunicado que cobrava taxa extra, por quilômetro rodado (R$ 0,50, e um mínimo de R$ 5), para ligar o ar-condicionado durante as corridas.

É verdade esse bilhete: o cartaz esclarecia ainda que o pagamento poderia ser feito via PIX. O protesto da advogada, que deu entrevista ao site G1, incentivou outras reclamações de clientes. Imagens de plaquinhas, cobrando valores entre R$ 1 e R$ 5 — algumas já com o QR code — viralizaram.

Imagem manchada

Rodando pela mesma empresa há um ano e sete meses, o motorista Carlos Cezar, de 32 anos, repudia a ação de alguns colegas. Ele conta que a prática, além de ilegal, “mancha a imagem dos que trabalham corretamente nesta categoria mais econômica”.

"Antes da pandemia, todas as categorias da Uber eram obrigadas a circular com o ar-condicionado ligado, independentemente do valor da corrida ou do destino do passageiro. Acho errado que motoristas cobrem taxas por fora. Daqui a pouco, os passageiros revoltados com isso vão deixar de andar na categoria X, migrando para a categoria comfort, que, mesmo sendo mais cara, obrigatoriamente oferece ar condicionado nas viagens. Isso mancha a imagem dessa categoria mais econômica", opinou o motorista.

Carlos Cezar diz que, nos dias em que consegue rodar sem ar condicionado, costuma abastecer o carro com até R$ 100 de gasolina e trabalha cerca de 12 horas. Quando o calor aumenta e é necessário deixar o ar ligado o dia inteiro, ele afirma gastar R$ 50 a mais com combustível.

Fernando Castro Pinto, professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica da UFRJ, faz uma conta mais precisa. Ele diz que o gasto de combustível, com o ar desligado ou ligado, pode variar de 0,5 a 1,5 km/l, aproximadamente. Ou seja, um carro que faz 10km/l passaria, com a refrigeração acionada, para algo entre 9,5 e 8,5 km/l. Há outras variáveis a se levar em conta, como o trânsito enfrentado e o estilo de direção do motorista. Com o ar ligado, o consumo pode aumentar de 5% a 15%, calcula o professor.

"O ar-condicionado funciona a base de energia. No caso do carro essa energia vem toda do consumo de combustível. O mesmo vale para carros a gás, gasolina, álcool e diesel", explica o engenheiro Fernando Castro Pinto.

Exemplos

Em uma corrida do Aeroporto Santos Dumont até o Hospital Souza Aguiar, no Centro, O GLOBO encontrou um motorista de aplicativo que pediu “caixinha de natal” para ligar o ar-condicionado. A “caixinha” propriamente dita, era de papelão e ficava em cima do banco do carona. Bastava “depositar um valor”, sugeriu o motorista.

"A atitude desses motoristas que cobram taxas é controversa. Imagine o seguinte: o valor da corrida não cobre o consumo do ar condicionado. Mas também não cobre o consumo do pneu, revisão do veículo, do motor. Então não faz sentido. As empresas deveriam rever suas políticas de pessoal, contratando motoristas qualificados para a categoria, justamente para não constranger o passageiro", opina o professor Fernando Castro Pinto.

Nos últimos dias, O GLOBO percorreu pontos das zonas Sul e Norte do Rio e constatou que a cobrança indevida é mais comum do que se imagina. A escritora Bruna Paiva, de 25 anos, lembrou que, em novembro, pegou uma corrida de R$ 24,90 de Olaria até o Méier, ambos bairros da Zona Norte. Com os vidros do carro abertos, o motorista perguntou se ela queria que o ar fosse ligado. Ela aceitou, mas logo em seguida ele puxou de um compartimento atrás do banco do carona um papel que dizia: “Em caso de ar ligado será cobrada uma taxa de R$ 3 sobre o valor da corrida”.

"Lembro que estava fazendo muito calor. Estava indo para a casa de uma amiga e quando cheguei lá tive que tomar outro banho. Achei um absurdo ele cobrar pelo ar. Fomos derretendo de calor, mas não paguei. Fiquei com medo de reagir à situação porque estava sozinha no carro. No final da corrida, dei três estrelas para ele no aplicativo", contou Bruna.

Empresas como a Uber e a 99 esclarecem que o ar-condicionado faz parte dos requisitos para o cadastro de automóveis nas plataformas. E que diversificam o serviço oferecido por categorias para melhor atender os clientes. Em uma corrida de Uber do Centro a Copacabana, num trajeto de dez quilômetros, o valor cobrado na categoria comfort, em que os motoristas usam o ar condicionado, pode chegar a R$41,06 — na X, que geralmente circula apenas com as janelas abertas, o preço cai para R$ 29,96.

Confira as regras em cada transporte

  • Uber: A empresa diz que o ar-condicionado faz parte dos requisitos para o cadastro do veículo na plataforma, em todas as modalidades de viagens (UberX, Comfort, Black etc.). Entretanto, não existe obrigatoriedade nem proibição, por parte da Uber, de seu uso durante as viagens, independentemente da modalidade. A temperatura do veículo e o uso do rádio podem ser combinados mutuamente entre o motorista e o usuário, diz a Uber.
  • Aplicativo 99: A empresa informou que a utilização ou não do ar-condicionado deve ser combinada entre motorista e passageiro. A empresa reforça, ainda, que o bom senso, respeito, empatia e gentileza são fundamentais para que a experiência do passageiro e do motorista parceiro seja a melhor possível. Após a viagem, tanto os condutores quanto passageiros são incentivados a avaliar suas corridas, podendo registrar eventuais ocorrências.

  • Táxi: Os motoristas de táxi com passageiros devem ligar o ar-condicionado durante a corrida, conforme determinação da prefeitura do Rio. No entanto, o cliente tem a opção de viajar com as janelas abertas, sem refrigeração, se assim preferir. Os táxis só são licenciados se tiverem o aparelho.

  • Ônibus: Desde 2016, a prefeitura tenta obrigar as empresas a climatizarem os ônibus. No entanto, até hoje parte dos passageiros enfrentam viagens no calorão. Este ano, a prefeitura começou a cortar os subsídios dos consórcios quando flagrava veículos sem o ar ou com o aparelho desligado. A iniciativa, no entanto, foi derrubada pela Justiça. De acordo com a Secretaria de Transportes, hoje, 80% da frota em circulação tem ar-condicionado.

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