Homem com suspeita de Ebola chega ao Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, no Rio de Janeiro (Mauro dos Santos/Reuters)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2014 às 18h58.
Genebra - Depois de anunciar que o governo brasileiro não havia notificado a Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o caso suspeito de ebola, a entidade agora reconhece que errou e que, de fato, o Brasil já havia passado a informação para a organização internacional.
O caso revela o desencontro de dados sobre a crise em uma entidade que não estava preparada para enfrentar a ameaça que representa o vírus.
Pela manhã, em Genebra, a OMS indicou que estava sabendo do caso suspeito no Brasil apenas por meio de "artigos de imprensa".
"Por enquanto, não houve qualquer tipo de informação oficial para a OMS vinda das autoridades brasileiras sobre o caso suspeito de ebola", declarou Fadela Chaib, porta-voz da entidade.
O surto de ebola parece que realmente chegou ao Brasil. O africano Souleymane Bah, de 47 anos, suspeito de ter contraído a doença em Guiné, foi transferido para o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, no Rio de Janeiro, na madrugada desta sexta-feira.
Souleymane, que viajou da África para o Brasil no último dia 18, começou a ter sintomas da doença já em Cascavel, no Paraná e foi encaminhado para a Unidade de Pronto Atendimento.
Em mais de uma ocasião, a OMS deixou claro que o Brasil não estava em suas prioridades e alertou que "rumores existem em todos os países".
"Na OMS, lidamos com cerca de 50 desses rumores por dia", disse. Chaib ainda fez ligações para sua sede e confirmou, com funcionários que monitoram a situação pelo mundo, que o governo não passou a informação nem para a OMS e nem para a Organização Pan-Americana de Saúde.
"Não temos nada registrado e nem na Opas", completou. A publicação da informação pelo portal do jornal O Estado de S. Paulo fez o governo brasileiro reagir.
"O Ministério da Saúde notificou a Organização Mundial de Saúde (OMS), às 01h11 desta sexta-feira, 10, conforme rege o Regulamento Sanitário Internacional", indicou um e-mail enviado à reportagem por Brasília.
Quatro horas depois da queixa do governo, a OMS decidiu "corrigir" sua declaração feita pela manhã.
"O Ministério da Saúde informou à OPAS depois da meia noite do dia 10 de outubro um caso suspeito de ebola em um homem de 47 anos que chegava da Guiné, com uma parada no Marrocos", declarou a mesma porta-voz que pela manhã insistia que eram "apenas rumores".
Questionada sobre a mudança de versões, ela não respondeu e apenas admitiu que foi preciso fazer "a correção" em relação à sua versão original.
Nos últimos dias, a OMS tem vivido uma série de polêmicas em relação à crise do ebola.
Há dois dias, ela errou ao publicar o número de mortos, não somou de forma correta o volume de casos de pessoas infectadas em cada país e chegou a reconhecer que não há mais como confiar nos números de vítimas na Libéria.
Pelos regulamentos internacionais da OMS, "cada país deve notificar, pelos meios mais eficientes de comunicação, pelo ponto focal nacional, e dentro de 24 horas, todos os eventos que possam constituir uma emergência de saúde pública de preocupação internacional dentro de seu território, assim como medidas de saúde implementadas em resposta a esses eventos".
A suspeita deixou em alerta o ministro da saúde, Arthur Chioro, que, em pronunciamento nesta sexta-feira, anunciou medidas de prevenção para que a doença não se espalhe.
O secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, que também participou do evento, tranquilizou as pessoas que tiveram contato com Souleymane Bah, dizendo que eles tem risco baixo de ter contraído a doença.
O assunto é tratado como prioridade em todo o mundo e virou tema de assembleia extraordinária das Nações Unidas. O secretário geral, Jan Eliasson, anunciou investimento para o tratamento da doença.
A decisão vem após uma manifestação na Moldávia, onde um grupo de pessoas que perderam familiares por causa da ebola se reuniram pedindo maiores investimentos no tratamento da doença.
Na Espanha, Javier Limon, marido de Teresa Romero Ramos, que foi a primeira pessoa diagnosticada com a doença fora da África, está sendo tratado em uma área isolada do hospital Carlos III, em Madri.
Os médicos que tratam de Javier e de outras seis pessoas que estão no hospital utilizam roupas especiais para não correrem riscos de contrair ebola.
Na África o problema é cada vez mais grave. A cada dia, mais pessoas morrem por causa da doença, que já é comparada com a aids.
A origem da doença está em gorilas e os humanos foram contaminados quando comeram a carne do animal. Cientistas acreditam que morcegos também podem incubar o perigoso vírus.