Odebrecht: o MPF descobriu que a Odebrecht montou um setor específico dentro da empresa para gerenciar e controlar os pagamentos de propina da empresa (REUTERS/Rodrigo Paiva)
Da Redação
Publicado em 22 de junho de 2016 às 15h13.
São Paulo - Um dos responsáveis pelo sistema de informática do "departamento da propina" da Odebrecht, Camilo Gornati, afirmou nesta quarta-feira, 22, ao juiz federal Sérgio Moro, que a empreiteira mantinha seu servidor na Suíça "por questão de segurança".
O interrogado foi alvo da 26ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Xepa. O servidor teria sido bloqueado pelas autoridades suíças.
"O que me falaram é que era mais seguro deixar na Suíça", afirmou Gornati, ouvido na ação penal contra o marqueteiro do PT João Santana, o presidente afastado da Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht, e outros executivos do grupo.
"Uma vez que perguntei, seria por segurança", afirmou ele ao ser questionado pela procuradora da República Laura Tessler, da força-tarefa da Lava Jato.
Gornati foi alvo de condução coercitiva na Operação Xepa, apontado como um dos responsáveis pela operação e manutenção do sistema Drousys, que era usado pelos executivos da Odebrecht para controle do "departamento da propina", chamado oficialmente de Departamentos de Operações Estruturadas.
O Ministério Público Federal (MPF) descobriu que a Odebrecht montou um setor específico dentro da empresa para gerenciar e controlar os pagamentos de propina da empresa.
Por esse sistema, eram controlado os repasses feitos para políticos e agentes públicos, por meio de operadores e contas em nome de offshores.
Gornati trabalha na empresa JR Graco Assessoria e Consultoria Financeira Ltda. O nome dele constava na agenda da secretária Maria Lúcia Tavares do "departamento da propina" da Odebrecht. Maria Lúcia confessou em delação premiada com a Lava Jato a existência do setor no grupo.
A JR Graco pertence a Olívio Rodrigues Júnior, que foi responsável pela abertura de contas da Odebrecht, em Antígua, por onde chegaram a circular mais de US$ 2,6 bilhões da empreiteira, segundo o delator Vinicius Borin, que trabalhava nas instituições financeiras.
A força-tarefa da Lava Jato apura se parte desses valores ou se totalidade deles são referentes a propinas e caixa 2.
Questionado pelo juiz Sérgio moro, Gornati afirmou que o servidor utilizado pela Odebrecht "ainda está na Suíça, bloqueado pelo Ministério Público daquele país".
A testemunha foi arrolada pela acusação, no processo, e prestou depoimento, em São Paulo, por videoconferência para Moro.
O criminalista Ralph Tórtima Stettinger Filho, defensor de Gornati, ressaltou que o cliente foi inicialmente investigado em possíveis relações com os pagamentos, mas a conclusão foi de sua atuação foi especificamente técnica.
O presidente afastado da Odebrecht e seus executivos negociam acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República (PGR) desde o início do mês.
Para a Lava Jato, houve tentativa de destruição do sistema de informática da propina, após a Odebrecht virar alvo da operação.