Construtora Odebrecht: a empresa brasileira é suspeita de ter pago subornos, por meio de um empresário italiano, para garantir contratos (Paulo Fridman/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 6 de março de 2015 às 08h38.
Genebra e São Paulo - A Odebrecht é citada em um caso de corrupção, sob investigação na Procuradoria Antimáfia, na Itália, envolvendo o pagamento de propinas no Panamá.
A empresa brasileira é suspeita de ter pago subornos, por meio de um empresário italiano, para garantir contratos no país da América Central, principalmente no que se refere às obras do metrô.
A empresa foi citada na corte de Nápoles e apresentada como parte do processo.
O centro da investigação é o italiano Valter Lavitola - que está preso no país europeu sob a acusação de extorsão. Lavitola passou a ser investigado pela Procuradoria Antimáfia por suas ligações com o crime organizado.
O empresário foi um dos principais aliados do ex-premiê Silvio Berlusconi em negócios com empresas italianas em várias partes do mundo, incluindo o Brasil.
Numa carta de dezembro de 2011 endereçada a Berlusconi, Lavitola fez ameaças ao ex-líder político italiano e revelou a relação entre os dois.
O documento foi usado como base do processo que condenou Lavitola à prisão por tentar extorquir Berlusconi em 5 milhões.
As autoridades italianas estão convencidas de que Lavitola guarda "importantes segredos" em relação ao ex-primeiro-ministro.
Conexão Brasil
O italiano morou no Brasil - em 2008, obteve um visto de residência. Documentos do Banco Central obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo revelam, por exemplo, que Lavitola estava registrado no órgão e chegou a ter importações financiadas.
Mas Lavitola também mantinha negócios no Panamá e, na audiência realizada em novembro na Corte de Nápoles sobre seu envolvimento, o Ministério Público italiano revelou a existência da suspeita de ligação entre o empresário, a Odebrecht e o ex-presidente do Panamá, Ricardo Martinelli.
O metrô é a segunda maior obra do país, superada apenas pela reforma e ampliação do Canal do Panamá, e a Odebrecht venceu a licitação em julho de 2010 ao lado da empresa FCC, da Espanha.
Em sua apresentação diante da Corte de Nápoles, em novembro, o procurador italiano Vincenzo Piscitelli indicou que Lavitola "exerceu um canal corruptivo no Brasil" e que ele teria sido o mediador dos interesses da Odebrecht no Panamá.
O que chamou a atenção do procurador foi a forma pela qual a Odebrecht venceu o contrato do metrô, com um valor superior ao que havia sido oferecido por um concorrente.
"Que o projeto era melhor, não acredito", disse Piscitelli à corte. "Martinelli preferiu o brasileiro. Quem sabe o que ele conseguiu com isso?", questionou.
O procurador ainda citou que, pelas mãos de Lavitola, cerca de US$ 850 milhões circularam em propinas para obras no Panamá. Cerca de um terço desse valor teria sido pago por conta do metrô.
Ao final da sessão, Piscitelli ainda entregou aos juízes italianos cópias de artigos de imprensa e documentos apontando para o envolvimento da Odebrecht com a Petrobrás, investigada na Operação Lava Jato.
Essa não é a primeira vez que a Odebrecht é citada em operações sob investigação com conexões no Panamá.
Em sua delação premiada, o ex-gerente executivo de Engenharia da Petrobrás, Pedro Barusco, afirmou à Polícia Federal que a construtora depositou parte de propinas em contas no Panamá.
Entre maio e setembro de 2009, ele indicou que a Odebrecht transferiu US$ 916.697,00 para uma conta da empresa offshore Constructora Internacional del Sur. Dali, o dinheiro depois seguiu para Barusco. A Odebrecht nega qualquer tipo de envolvimento no caso da Lava Jato.
Procurada pela reportagem, o grupo informou, por intermédio de sua assessoria de imprensa, que "desconhece qualquer investigação relacionada à obra do metrô do Panamá".
Segundo nota enviada à redação, "o Consórcio Línea Uno, do qual a Odebrecht faz parte, disputou legitimamente a licitação de acordo com as regras do edital e obteve 917 pontos frente aos 708 do consórcio concorrente".
O texto ainda destaca que "a Odebrecht cumpre rigorosamente as regras dos processos licitatórios e a legislação em todos os países onde atua" e que a empresa "não fez qualquer pagamento ou depósito em suposta conta de qualquer pessoa a título de comissão sobre o contrato no Panamá". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.