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Ocupantes de hotel dizem ter água e alimentos para 3 meses

Segundo o porta-voz da PM, mesmo que seja verdadeira a informação sobre esse estoque, a tendência é que, aos poucos, os ocupantes do prédio desistam


	Ocupação: uma das líderes do movimento, Doriana Nunes disse que, na manhã de hoje (3), havia ainda 53 pessoas no interior do hotel
 (José Cruz/Agência Brasil)

Ocupação: uma das líderes do movimento, Doriana Nunes disse que, na manhã de hoje (3), havia ainda 53 pessoas no interior do hotel (José Cruz/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 3 de junho de 2016 às 17h50.

Líderes do Movimento Resistência Popular (MRP) que, desde outubro do ano passado ocupa o Hotel Torre Palace, localizado em um dos principais pontos turísticos de Brasília, disseram hoje (3) à Agência Brasil que têm água e comida suficientes para resistir de dois e três meses ao cerco que, desde o dia 1º, é feito pela Polícia Militar (PM).

Segundo o porta-voz da PM, capitão Michello Bueno, mesmo que seja verdadeira a informação sobre esse estoque, a tendência é que, aos poucos, os ocupantes do prédio desistam de continuar no local por causa do estresse e da pressão psicológica naturais em situações como esta.

Enquanto o PM conversava com a reportagem, um dos ocupantes do imóvel gritava do alto do prédio: “Vou ficar aqui até morrer!”

De acordo com o capitão, a situação é “delicada porém, natural" em situações desse tipo. "Mas a PM está habituada a deparar com todo tipo de mazelas”, disse ele.

Entre as preocupações dos policiais está o risco de que ocupantes caiam do prédio, em meio algum tumulto, uma vez que não há esquadrias, nem proteção nas janelas e escadarias.

“Esse risco ficaria ainda maior, caso algum helicóptero se aproxime da cobertura. Por isso, temos de ter sempre muito cuidado com esse tipo de aproximação.”

Uma das líderes do movimento, Doriana Nunes disse que, na manhã de hoje (3), havia ainda 53 pessoas no interior do hotel, um edifício de 14 andares e 140 apartamentos.

Já a PM estima que haja entre 10 e 14 pessoas. Segundo Doriana, o hotel chegou a abrigar entre 130 e 150 pessoas, entre crianças, trabalhadores e desempregados.

Todos ficaram abrigados em quartos a partir do 3° andar. Os andares mais baixos estavam sendo ocupados por usuários de drogas, mas, com a chegada da PM, estes foram os primeiros a deixar o local.

Desde o dia 1º, com a chegada da PM, o prédio está cercado e não é permitida a entrada de ninguém que não seja autorizado pelos policiais.

“Eles [policiais] esperaram a gente sair para levar as crianças à escola e, na volta, disseram que estavam desratizando o prédio. Desde então, não nos deixaram mais entrar. Estamos agora dormindo ao relento nesses colchões aqui”, disse Doriana, apontando para o gramado onde estavam cerca de 25 pessoas – na maioria senhoras – ligadas ao movimento.

Segundo ela, ninguém está deixando o prédio por medo de não conseguir retornar. “Mas todos estão lá por livre e espontânea vontade”, garantiu a líder do movimento.Estratégia da PM é esperar cansaço

Coordenando um efetivo de 144 policiais militares, o tenente-coronel Alexandre Lema diz que a principal estratégia “é esperar o cansaço [dos ocupantes] chegar e aguardar que, por iniciativa própria, eles desocupem o hotel”.

Segundo o capitão Michello, o cerco feito pela PM tem entre os objetivos pressionar psicologicamente aqueles que ainda resistem na ocupação.

“Geralmente, entre o segundo e o terceiro dias, eles começam a se estressar e discutir entre si. Hoje mesmo já saiu uma pessoa dizendo que não concordava com a estratégia da ocupação.”

Michello foi um dos policiais que entraram no prédio durante as negociações.

“Percorri todos os andares e observei muita coisa. O interior parece um hotel em reforma ou construção, cheio de entulho. Há quartos arrumados e desarrumados. O que mais me chamou a atenção foi a condição ruim deles... dá pena. Não é uma situação boa e não queria isso para mim. Sei que eles não são bandidos, mas estão infringindo a lei. E estão prejudicando todo o Setor Hoteleiro Norte, o que resulta em muitas queixas de empresários, porque ninguém quer ficar nos hotéis vizinhos. Fora o transtorno nas pistas, que foram fechadas depois deles começarem a jogar pedras”.

“O problema é que o governo do Distrito Federal [GDF] só se preocupa com os empresários desses hotéis e seus negócios”, disse Doriana.

“Aliás, ninguém está aqui porque quer. Estamos aqui exatamente para chamar a atenção da sociedade para o nosso problema. Ninguém gosta de dormir nem aqui, nem na rua com suas crianças. E este governo não cumpre nada do que nos promete há anos. Todos somos cadastrados e a maioria de nós já é habilitada no cadastro de moradias do governo”, afirmou a líder do MRP.

Ao lado de Doriana, Maria Rita de Sousa, de 59 anos, disse que desde os 19 anos integra o cadastro de moradias do governo local.

“Há quase 40 anos eu espero alguma coisa e nada acontece. Esse cadastro já até mudou de nome, mas nada muda para a gente”, disse à Agência Brasil Maria Rita.MRP: dificuldades são antigas

De acordo com Doriana, as dificuldades com o GDF são antigas e datam desde 2007. Ela diz que, de lá para cá, nada avançou. “Até que em julho de 2015, iniciamos uma ocupação de mais de cinco meses na Secretaria de Fazenda do DF. O governador Rodrigo Rollemberg nos despejou e ficamos acampados no Conic [centro comercial localizado no centro de Brasília]. Ocupamos, então, o o Hotel Saint Peter, ali perto. Novamente fizemos um acordo com o GDF, que nos enviou ao Clube Primavera, em Taguatinga. Sete dias depois fomos despejados. Agora estamos aqui”.

“Para a gente, sair daqui é fácil. Basta o GDF ceder uma área com documento, dizendo que ficaremos em algum lugar até conseguirmos casa em definitivo. Mas esse governo atual é o pior de todos. Apenas nos ignora e não cede nada. Só propõe que fiquemos em albergues onde nem morador de rua, nem noiados [viciados em crack] querem morar. Isso a gente também não quer.”GDF diz que houve negociação

Contatado pela Agência Brasil, o GDF informou que, de fato, ainda não foram oferecidos terrenos aos integrantes do movimento.

A assessoria do GDF disse, ainda, que o movimento tem mudado suas reivindicações e que, anteriormente, pedia auxílio-aluguel, mas há um limite de tempo estabelecido por lei para esse benefício, e ele já foi ultrapassado – motivo pelo qual foi cortado.

Quanto às pessoas inscritas no cadastro de moradias, o GDF disse que, para receber o benefício, é necessário cumprir vários requisitos.

No entanto. não há, no momento, condições para detalhar por que esse benefício não foi concedido às pessoas citadas pela reportagem. Posteriormente, o secretário adjunto de Relações Institucionais e Sociais da Casa Civil do DF, Igor Tokarski, disse à Agência Brasil que em todos os momentos houve diálogo, conversações com representantes do MRP.

Segundo ele, muitos dos ocupantes do hotel já foram beneficiados com auxílios-aluguel e vulnerabilidade, além de cestas básicas.

Em relação aos albergues considerados  inadequados pelas lideranças do movimento, Tokarski disse ver contradição no fato de os ocupantes se recusarem a ficar lá, optando pelo hotel abandonado, “prédio que, além de perigoso e com problemas estruturais, a ponto de ter sido condenado pela Defesa Civil, é hoje um dos principais pontos de insegurança a partir da utilização de drogas e presença de criminosos”.

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