EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 27 de janeiro de 2012 às 11h47.
Rio de Janeiro - Dois andares estavam com obras sem regulamentação no maior dos três edifícios que desabaram no centro do Rio de Janeiro na noite de quarta-feira, o que ressalta a possibilidade entre especialistas de que danos causados à estrutura do edifício provocaram o acidente que deixou ao menos três mortos e 16 desaparecidos.
Os três prédios comerciais, o mais antigo deles com quase 70 anos, ficam numa região do centro da cidade onde, segundo historiadores, havia lagoas no século 16, o que despertou preocupações sobre um risco amplo para outras construções da região em consequência da instabilidade do solo.
Mas as primeiras avaliações sobre as causas do acidente apontam que o prédio de 20 andares, que tinha obras sendo feitas sem registro do Crea no 3o e 9o pisos, ruiu de cima para baixo, provavelmente levando consigo os vizinhos de 10 e 4 andares.
"O 3o e 9o andares estavam com obras sem registro no Crea, não sabemos se estavam sendo feitas por um pedreiro leigo ou se tinha algum engenheiro civil", disse à Reuters o presidente da Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio (Crea-RJ), Luiz Antonio Cosenza.
"Algumas possibilidades existem, mas o que é mais possível de ter acontecido é uma falha estrutural. Na nossa opinião não é projeto errado, mas podem ter sido modificações feitas ao longo do tempo no prédio", acrescentou o engenheiro.
Os prédios desabaram pouco antes das 20h30, horário de baixa circulação de pessoas no centro do Rio e de menor movimento nos prédios comerciais. Testemunhas disseram que o expediente já estava encerrado na grande maiorias das empresas em funcionamento nos edifícios quando ocorreu o desabamento.
Eles estavam localizado na rua 13 de Maio, ao lado do Theatro Municipal, um dos prédios históricos mais famosos da cidade e que foi restaurado recentemente. Apenas uma bilheteria externa do Municipal sofreu alguns danos em consequência dos escombros.
Ruas e avenidas perto do local foram interditadas e não há prazo para serem reabertas. Prédios próximos também foram isolados e interditados pela Defesa Civil por precaução.
Alicerces
O Theatro, que foi inaugurado em 1909, serve como indicativo de que a área é segura para construções feitas com estacas de até 10 metros de profundidade, como provavelmente era o caso dos prédios que desabaram, de acordo com o professor de Engenharia Geotécnica da Coppe-UFRJ Mauricio Ehrlich.
"Os prédios lá normalmente são estaqueados, você põe estacas em profundidade de 8 a 10 metros. Mesmo os prédios mais antigos já eram feitos assim. O Theatro Municipal é do início do século passado e já era estaqueado", disse.
"Certamente não é uma condição global da área, esses prédios estavam lá pelo menos há 40, 50 anos. De maneira geral os problemas lentos em fundação dão sinais por bastante tempo. É muito pouco provável que seja um processo lento. Eu acho que alguém fez uma intervenção que não devia ter feito", afirmou Ehrlich , explicando que um processo lento de queda teria deixado sinais visíveis, como grandes rachaduras, por bastante tempo.
Já o arquiteto e historiador Milton Teixeira não descarta que tenha havido problemas nos alicerces.
A ocupação da região da Cinelândia, segundo ele, começou no século 20, quando autoridades da cidade quiserem transformar a área que ficava de frente para a Baía de Guanabara numa "espécie de vitrine do Rio de Janeiro". Os primeiros prédios, de até quatro andares, deram espaço aos edifícios maiores a partir da década de 1930, .
"A parte fraca dessas construções ainda eram os alicerces. Eu fico pensando se esses alicerces não tiveram problemas. Outros prédios dos anos 1940 e 1950 que foram abaixo tiveram problemas com os alicerces muito comprometidos", disse ele.
Em 2002, o desabamento de um outro prédio no centro do Rio matou duas pessoas que estavam hospedadas num hotel que funcionava no local. Autoridades disseram na época que o incidente foi provocado por uma demolição inadequada durante uma obra feita no térreo do edifício de cinco andares, onde funcionava um restaurante.
Quatro anos antes, o edifício Palace 2, na Barra da Tijuca, desabou parcialmente, causando a morte de oito pessoas. Mas naquele caso houve uma má execução da obra -um erro estrutural de cálculo nas vigas de sustentação. O edifício, que era novo, foi implodido.