Vista aérea das obras em aeroporto: o custo com os voos cancelados sem necessidade aumenta o prejuízo das empresas e deve impactar no preço da passagem, disse especialista (Sergio Moraes/Reuters)
Da Redação
Publicado em 12 de fevereiro de 2014 às 14h01.
São Paulo - Uma série de obras estão sendo feitas neste momento nos aeroportos brasileiros, em uma tentativa de melhorar a infraestrutura às vésperas da Copa. A execução das obras, no entanto, tem apresentado mudanças de cronograma, causando prejuízo a empresas e passageiros.
Um levantamento feito pela Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear) a pedido do jornal O Estado de S. Paulo aponta que diversos voos foram cancelados para liberar as pistas para a realização de obras, que acabaram adiadas.
Apenas uma das empresas perdeu R$ 10,7 milhões com as alterações no cronograma de obras de sete aeroportos durante o ano passado, informa a Abear, sem revelar o nome da companhia. Nesse caso, cerca de 52 mil passageiros foram afetados pelas mudanças nos voos.
No aeroporto de Goiânia, por exemplo, o cronograma previa obras na pista entre os dias 1º de março e 2 de julho de 2013. Mas as obras começaram sete dias depois e acabaram 22 dias antes do previsto. As empresas só retomaram os voos no dia 2 de julho e o aeroporto ficou sem voos mesmo em períodos em que a pista estava livre.
As empresas mexem em dezenas de voos para fazer uma mudança na malha. Se o voo for cancelado, ele é retirado do sistema de vendas e não dá para reativar de última hora, explica o diretor de operações da Abear, Ronaldo Jenkins.
Segundo ele, as companhias entendem que as obras são necessárias, mas precisam que o cronograma seja cumprido para minimizar o impacto nos voos. O ideal, diz Jenkins, seria que as obras fossem confirmadas com 90 dias de antecedência.
É um absurdo o aeroporto ficar parado. O assento no avião é um produto perecível. As empresas não têm como repor essas perdas, disse Jenkins.
O custo com os voos cancelados sem necessidade aumenta o prejuízo das empresas e deve impactar no preço da passagem, ressalta o professor de transporte aéreo da UFRJ, Elton Fernandes. A ineficiência do sistema entra como um risco do negócio. E, quando há mais risco, os preços sobem.
Desgaste
Os voos começam a ser vendidos pelas empresas um ano antes. Quando há necessidade de cancelar ou alterar o horário, a empresa precisa retirar esse voo do sistema e reacomodar os passageiros que já compraram a passagem.
Apesar das alterações nas datas da reforma de aeroportos não dependerem da empresa, é obrigação dela comunicar as mudanças nos voos aos passageiros.
No caso da reforma do aeroporto de Salvador, que previa o fechamento da pista por três horas durante nove dias em novembro, a ação foi agendada quatro vezes.
Essas mudanças levaram a alterações em diversos voos e impactaram 15 mil passageiros, estima a Abear. Isso gera um desgaste das empresas com os passageiros, diz Jenkins.
As reformas continuam em 18 aeroportos brasileiros neste ano, aponta o levantamento da Abear. A Infraero diz que muitas obras ocorrem ao mesmo tempo por esgotamento da infraestrutura e porque foram adiadas a pedido das próprias empresas aéreas.
A Copa não tem nada a ver com isso. É uma questão de continuidade da infraestrutura, diz o superintendente de Gestão Operacional da Infraero, Marçal Goulart.
As empresas não querem diminuir em nada a operação. Fomos adiando muitas obras por conta do interesse delas. Só conseguimos comprovar que a obra é necessária quando a estrutura chega no limite.
Segundo ele, um exemplo de obra adiada a pedido das empresas é a ampliação da pista do aeroporto de Confins, que deveria ter ocorrido em 2013 e foi cancelada.
O plano original previa retirar os voos internacionais por seis meses. Mas as empresas reclamaram e o plano foi alterado, atrasando a obra. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.