Glenn Greenwald: Editor e co-fundador do site The Intercept Brasil pode ser alvo de investigação pelo Coaf sobre suas movimentações financeiras (TVCâmara/Reprodução)
Da Redação
Publicado em 4 de julho de 2019 às 18h57.
Última atualização em 5 de julho de 2019 às 16h26.
São Paulo - A OAB-RJ divulgou nesta quinta-feira (04) uma nota oficial se posicionando sobre o suposto pedido da Polícia Federal (PF) para que o Conselho de Controle de Atividade Financeiras (Coaf) levante detalhes das movimentações financeiras do jornalista Glenn Greenwald, editor e co-fundador do The Intercept Brasil.
Segundo a nota oficial, assinada pelo presidente da Comissão de Liberdade de Expressão da OAB-RJ, Marcus Vinícius Coelho, a instituição manifesta "contrariedade e preocupação" com o pedido da PF, pois representa "inaceitável prática de tolhimento e intimidação, em flagrante afronta à Constituição Federal". A nota diz ainda que Greenwald é "profissional internacionalmente reconhecido e premiado" e que "a liberdade de imprensa é pressuposto indispensável para o Estado democrático de Direito".
Ainda não há a confirmação se, de fato, a Polícia Federal fez o pedido ao Coaf contra o jornalista como foi divulgado pelo site O Antagonista.
Na última terça-feira (02), quando o Ministro Sergio Moro esteve na Câmara dos Deputados para prestar esclarecimentos sobre os diálogos divulgados pelo The Intercept Brasil, foi questionado diferentes vezes sobre a veracidade do pedido.
Moro não confirmou nem negou. Disse que não participa das investigações e que, essa questão deve ser feita “ao órgão certo”. A Polícia Federal está subordinada à pasta da Justiça, chefiada por Moro, e o Coaf à Economia.
Glenn Greenwald é um jornalista americano vencedor do prêmio Pulitzer por ter revelado, em 2013, um sistema de espionagem em massa dos EUA com base em dados vazados por Edward Snowden.
Desde o último dia 09, o site que ele edita revela uma série de conversas vazadas que mostram Moro e Deltan Dallagnol combinando estratégias de investigação e de comunicação com a imprensa no âmbito da Operação Lava Jato.
Segundo as revelações, o ex-juiz sugeriu mudanças nas ordens das operações, antecipou ao menos uma decisão e deu pistas informais de investigações nos casos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"A Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Estado do Rio de Janeiro, por meio de sua Comissão de Liberdade de Expressão, vem manifestar contrariedade e preocupação a propósito do pedido da Polícia Federal para que o Conselho de Controle de Atividade Financeiras (Coaf) levante detalhes das movimentações financeiras do jornalista Glenn Greenwald. A notícia foi veiculada pela imprensa e, caso confirmada, representa inaceitável prática de tolhimento e intimidação, em flagrante afronta à Constituição Federal.
Não haveria como desatrelar, do anunciado procedimento da Polícia, o trabalho jornalístico feito pelo site comandado por Glenn, profissional internacionalmente reconhecido e premiado.
A liberdade de imprensa é pressuposto indispensável para o Estado democrático de Direito, sendo a OAB/RJ historicamente uma de suas mais ardorosas defensoras, por inclinação e dever estatutário.
Rio de Janeiro, 4 de julho de 2019
Marcus Vinícius Cordeiro
Presidente da Comissão de Liberdade de Expressão da OAB/RJ"