Marcelo Odebrecht sendo escoltado pela Polícia Federal: sua empreiteira teria financiado campanhas presidenciais de Dilma e Aécio com propina (REUTERS/Rodolfo Burher)
Talita Abrantes
Publicado em 4 de junho de 2016 às 14h33.
São Paulo – Tudo o que uma parcela (significativa) da classe política menos queria aconteceu nesta semana. A empreiteira Odebrecht já teria fechado ou estaria muito perto de fechar um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal no âmbito da operação Lava Jato.
A expectativa é de que o possível depoimento de cerca de 50 executivos da empreiteira – entre eles, Marcelo Odebrecht, o principal herdeiro do grupo – cause um estrago para a carreira de partidos e políticos comparável à potência de uma “metralhadora de [calibre] ponto 100”, segundo o ex-presidente José Sarney disse em diálogo gravado de forma oculta.
Ao que tudo indica, Sarney estava certo. Segundo reportagem da revista VEJA desta semana, a delação de Odebrecht atingirá até políticos rivais como Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). De acordo com relato de um dos advogados da empresa para a publicação, propina paga pela empreiteira financiou a campanha de ambos na eleição de 2014.
Quem será citado?
De acordo com VEJA, 13 governadores e 36 senadores serão citados na delação – entre eles, a presidente afastada Dilma Rousseff.
O senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB, também está na lista e seria destinatário de pagamentos ilegais da empreiteira para sua campanha presidencial em 2014.
Segundo a revista, os depoimentos também podem atingir o governo interino. Ao menos dois ministros – Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) e Henrique Eduardo Alves (Turismo) – também teriam sido citados.
Além deles, senador Romero Jucá (PMDB), o primeiro ministro do governo Temer a cair, seria outro alvo da delação. Ele teria sido acusado de receber propina para acolher emendas de interesse da Odebrecht no Senado.
O que Odebrecht pode revelar sobre Dilma?
VEJA sugere que a presidente afastada Dilma Rousseff deve ser uma das principais protagonistas dos depoimentos. No cerne da delação estariam detalhes sobre recursos ilegais que teriam abastecido a campanha da petista em 2014.
Os investigadores da Lava Jato afirmam que a Odebrecht teria repassado 22,5 milhões de reais ao marqueteiro João Santana entre outubro de 2014 e maio de 2015. Responsável pela campanha à reeleição da petista, Santana está preso desde fevereiro do ano passado.
Reportagem da revista Istoé desta semana revela também que a própria presidente afastada Dilma Rousseff teria cobrado uma doação “por fora” de 12 milhões de reais de Odebrecht para sua reeleição. O pedido teria sido feito pelo então tesoureiro de campanha, Edinho Silva, e confirmado pela petista.
Como estão as negociações para a delação?
O MPF não confirma oficialmente a delação, mas, na última quinta-feira, o juiz Sergio Moro suspendeu as ações penais contra a empreiteira com a justificativa de que negociações estariam em andamento. Segundo a revista Istoé, o acordo teria sido firmado na última semana. De acordo com a Veja, cerca de 50 altos executivos devem prestar depoimento.
Munidos de informações neste teor, os investigadores da Lava Jato devem começar uma nova fase de trabalho. E a já conturbada novela da crise política nacional ganhará um novo e dramático capítulo. Sarney não poderia estar mais certo.