Vigilância sanitária: para o ministro de Agricultura, Blairo Maggi, foi criado um alarde desmedido devido à "narrativa" utilizada para divulgar a investigação (Ricardo Moraes/Reuters)
AFP
Publicado em 20 de março de 2017 às 18h19.
Salmonela, ácidos cancerígenos e etiquetas falsas para disfarçar carne vencida ou avariada: o que se sabe até agora - e o que ainda não - sobre as denúncias de adulteração da carne brasileira?
"Inspetores públicos, mediante pagamento de propina, emitindo certificados sanitários sem qualquer fiscalização efetiva", anunciou a Polícia Federal ao lançar a operação na última sexta-feira.
Com 21 frigoríficos citados na investigação - três deles suspensos preventivamente pelas autoridades-, o Ministério da Agricultura afirma que estudará a fundo as denúncias para indicar à população exatamente quais produtos apresentaram problemas, saber se foram efetivamente comercializados e, se for o caso, retirá-los de circulação.
O presidente Michel Temer afirmou neste domingo que "destas 21 unidades, apenas seis delas exportaram nos últimos 60 dias".
Para o ministro de Agricultura, Blairo Maggi, foi criado um alarde desmedido devido à "narrativa" utilizada para divulgar a investigação e afirmou que 99% dos produtores faz as coisas direito.
Em frigoríficos de pequeno porte foi detectado o uso de produtos cancerígenos para maquiar o aspecto físico e o odor do produto estragado, informou o delegado Moscardi Grillo em entrevista coletiva realizada em Curitiba(sul).
Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, o fiscal do Ministério de Agricultura Daniel Gouveia Teixeira afirmou que um frigorífico de Curitiba utilizava ácido ascórbico; um descontaminante que se mistura aos produtos para diminuir a contaminação bacteriana e mascarar odores e outras características da carne podre.
O Ministério afirmou que as substâncias apontadas como "cancerígenas" são na verdade conservantes que, quando utilizados dentro dos limites máximos permitidos, "não representam um risco para a saúde dos consumidores".
Em outro frigorífico de pequeno porte, a polícia denunciou a mudança de etiquetas para falsificar a validade de produtos vencidos.
Em um diálogo com um de seus funcionários reproduzido no despacho judicial, o dono do estabelecimento "não demonstra qualquer surpresa com a substituição de etiquetas de validade em uma carga inteira de carne de barriga" nem com a utilização de carnes vencidas há três meses para a produção de outros alimentos.
Os investigadores também apontam que foi identificada a presença de salmonela em produtos da empresa BRF que foram exportados.
De acordo com a PF, em uma conversa telefônica interceptada pelas autoridades, um diretor da companhia fala sobre a retenção de contêineres da empresa com produtos exportados para Europa e diz que pelo menos em "quatro deles as autoridades sanitárias europeias teriam identificado traços de uma das variações da bactéria popularmente conhecida como salmonela".
A BRF disse em comunicado que "o tipo de Salmonela encontrado em alguns lotes desses quatro contêineres é o Salmonella Saint Paul, que é tolerado pela legislação europeia para carnes in natura e, portanto, não justificaria a proibição de entrada na Itália.
"A BRF não incorreu em nenhuma irregularidade", garante.
Tanto o governo como a BRF afirmaram que a versão de que um funcionário da empresa pretendia misturar carne de frango com papelão de deveu a um "mal-entendido" sobre a conversa telefônica interceptada.
"Não há papelão algum nos produtos da BRF. Houve um grande mal-entendido na interpretação do áudio capturado pela Polícia Federal", informou à empresa.
"O funcionário estava se referindo às embalagens do produto, não ao seu conteúdo", esclareceu.