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O que fica para o Brasil após 13 anos de governo do PT

Com o impeachment de Dilma Rousseff, se encerra o ciclo de 13 anos do Brasil sob governo do Partido dos Trabalhadores. Veja o que fica para o país


	Lula e Dilma: o que fica para o Brasil após 13 anos de governo do PT
 (Agência Brasil)

Lula e Dilma: o que fica para o Brasil após 13 anos de governo do PT (Agência Brasil)

Victor Caputo

Victor Caputo

Publicado em 31 de agosto de 2016 às 13h46.

São Paulo – Após 13 anos, o Partido dos Trabalhadores (PT) deixa de maneira definitiva a condução do governo federal do Brasil. A história começou em 2003, com a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência. Depois de dois mandatos, ele elegeu sua sucessora, Dilma Rousseff, a primeira presidente mulher da história do país.

Após o julgamento do Senado, Dilma é proibida de exercer o cargo de presidente. Agora, Michel Temer (PMDB) assume o governo de forma definitiva. Para a história, ficam os avanços sociais que chegaram ao longo do governo petista, além de grandes escândalos de corrupção — os principais sendo “mensalão” (sob a presidência de Lula) e o “petrolão” (este, sob o comando de Dilma).

Mas afinal de contas, o que fica de herança para o Brasil após 13 anos de governo do PT? “Um ponto positivo foi colocar a questão social no centro do debate. Isso foi feito sem uma ligação obrigatória com o status econômico. Os benefícios vieram independentemente do sucesso econômico”, falou a EXAME.com Rafael Cortez, cientista político da Tendências Consultoria.

Hoje, o eleitorado tem consciência da importância das questões sociais dentro de um cenário nacional. O principal impacto é que o custo político de mudanças nos programas sociais é alto demais, afirma Cortez. “A agenda social ganhou relevância política.”

A grande bandeira do governo petista nesse campo foi o Bolsa Família. O programa de transferência de renda foi criado em 2003, primeiro ano do governo de Lula. Com ele, o Brasil viu a taxa da população em situação de extrema pobreza cair (veja números no quadro abaixo). O programa foi elogiado pela ONU como boa estratégia de retirada de pessoas da extrema pobreza.

Programas foram criados em diversas áreas. Na educação, um exemplo é o Fies. Na área da saúde, o governo criou o Mais Médicos para melhorar o atendimento básico de saúde.

“Ainda tivemos o PAC, com programas voltados à infraestrutura. Sem dúvida nenhuma, eles apresentam falhas e sofrem críticas. Por outro lado, eles são importantes para a retomada da agenda de preocupação e orientação do governo”, falou a EXAME.com Cristiano Noronha, vice presidente da consultoria Arko Advice.

Ao longo dos 13 anos, o país viu a melhora de diversos indicadores sociais. A taxa de analfabetismo caiu e a expectativa de vida aumentou, por exemplo. A desigualdade também diminuiu. Sob o governo petista, o Brasil surfou em uma boa onda econômica—mas que eventualmente teve um fim.

Economia

Para os especialistas, é difícil falar sobre a herança econômica deixada por 13 anos de PT. As lideranças de Lula e de Dilma foram diferentes nesse campo—assim como os impactos deixados. Em 2003, Lula chegou à Presidência e se comprometeu com o tripé macroeconômico. Ele havia sido estabelecido pelo governo anterior e previa: metas de inflação, superávit primário e câmbio flutuante.

Nos anos seguintes, com alta das commodities e incentivo ao consumo, o país cresceu, subiu no ranking de maiores economias do mundo e ganhou grau de investimento de agências. Sob o comando de Lula, a inflação caiu. O Brasil foi capa da revista The Economist em 2009, com o Cristo Redentor decolando.

O símbolo da diferença da economia sob a batuta de Dilma pode ser medida pela própria The Economist. O Brasil voltou a ser capa da revista econômica, mas dessa vez em um cenário negativo.

Ainda no primeiro mandato de Dilma, o PIB brasileiro perdeu tração. A queda no preço das commodities, aliada a desaceleração da economia global e de gastos crescentes do governo criou um cenário de preocupação. No segundo mandato, Dilma traz Joaquim Levy para a Fazenda para colocar as contas em ordem. O resultado não é positivo e a situação econômica fica dramática.

A inflação dispara, o PIB encolhe e o desemprego começa a aumentar. “Eu não sou partidário da ideia de que a agenda social entra em risco com a crise econômica atual”, falou Cortez, da Tendências Consultoria. Mas a situação que o PT deixa como legado imediato da economia não é boa.

“As pessoas estão perdendo emprego e a inflação corrói a renda. O momento de bonança foi interrompido e as pessoas estão retrocedendo alguns anos em seus ganhos”, disse Noronha, da Arko Advice. “Mesmo em um cenário ruim, as pessoas não perdem 100% de seus ganhos. O nível de educação, por exemplo, aumentou. Isso não se perde.”

“O Brasil ficou eufórico e esqueceu do futuro. O governo deixou de fazer o dever de casa de atacar problemas estruturais que eram camuflados. Quando a água da piscina baixou, vimos a sujeira que estava por baixo”, afirma Noronha.

Uma herança negativa deixada pelo governo do PT teria sido a forma como se lidou com a questão fiscal e com gastos públicos. “Tivemos um retrocesso na questão fiscal com pedaladas e contabilidade criativa. Isso dificulta o monitoramento da sociedade e de artigos políticos”, afirma Cortez.

O professor de ética e política da Unicamp Roberto Romano concorda que é difícil acompanhar os feitos sociais com números que nem sempre são confiáveis. “Você não consegue saber quem fala com dados sérios e quem está repetindo slogans”, disse a EXAME.com.

Oportunidades perdidas

Algo lamentado pelos especialistas foi o fato de que o PT não realizou mudanças de extrema necessidade. “O último ano no qual se falou de reformas foi em 2003. Desde então, o país aboliu esse assunto”, afirma Noronha. “Perdemos uma excelente oportunidade. Você tinha no governo Lula um governo forte e popular. Também tinha força política no congresso para isso.”

O professor Roberto Romano lamenta oportunidades perdidas. Entre as áreas citadas estão investimentos em pesquisa, tecnologia e educação no país.

Hoje, reformas são novamente pautas sobre as quais a sociedade discute. Sejam elas da previdência, trabalhistas ou a política. Resta saber se próximos governos se aventurarão ao lidar com elas.

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