Dilma Rousseff no Senado fazendo sua defesa no julgamento do impeachment (REUTERS/Ueslei Marcelino)
Talita Abrantes
Publicado em 31 de agosto de 2016 às 09h16.
Última atualização em 20 de março de 2017 às 13h21.
São Paulo - A saga da presidente afastada Dilma Rousseff (PT) para se manter no comando do país deve chegar ao fim no início da tarde desta quarta-feira. Há 112 dias apartada do poder, a primeira presidente mulher da história do Brasil pode ver hoje o fim precoce de seu segundo mandato.
Foram nove meses marcados por uma sucessão de derrotas. A primeira delas, logo no início: partiu de um membro de sua base aliada a iniciativa para acolher o pedido de impeachment.
Nessa altura dos acontecimentos, a presidente afastada tem poucas chances de virar o jogo — no entanto, vale dizer, as articulações de seus aliados continuam a todo vapor no Senado.
Durante o período em que esteve afastada do poder, a presidente Dilma fez de tudo para tentar neutralizar erros do passado: tentou se aproximar de parlamentares, povoou as redes sociais com críticas à atual gestão, viajou pelo país para engrossar o coro dos que gritam “fora, Temer” e declarou apoio até à convocação de um plebiscito para consultar a população sobre a possibilidade de novas eleições ainda neste ano.
Os esforços, aparentemente, não serão suficientes. E a última votação no Senado endossa essa percepção. Bastava a maioria simples dos votos do plenário para garantir o julgamento final da presidente afastada. Mas o governo interino conseguiu mais do que isso: foram 59 votos a favor e 21 contra.
Se nenhum senador mudar seu voto hoje, a Casa já teria mais do que o necessário para impedir o mandato da presidente afastada. Para que o processo seja levado a cabo, é necessário que 2/3 (54 votos) dos senadores o aprovem.
Na sessão de ontem, 44 senadores declararam voto favorável ao impeachment. Só faltam 10 para aprovar o fim do mandato de Dilma.
Na versão contada nos documentos que marcam o processo, os fatores que colocaram o mandato da petista por um fio podem ser resumidos em dois conceitos: pedaladas fiscais e abertura de créditos suplementares. No entanto, na prática, foi a inabilidade política da petista para costurar de acordos e uma sucessão de erros na economia que a conduziram para esse desfecho.
Sucessão de erros
As primeiras rachaduras na sustentação do mandato de Dilma surgiram quando o governo passou a ignorar a ideia de que governar significa, na verdade, compartilhar poder. De acordo com os especialistas, as eleições de 2014 deixaram isso evidente.
Depois de um pleito acirrado, Dilma Rousseff subiu pela segunda vez a rampa do Planalto fragilizada pelo discurso que a reconduziu ao poder, já que dificilmente seria possível cumprir suas promessas de campanha dada a situação econômica em que se encontrava país.
A missão era difícil: para aprovar medidas impopulares, teria que compor maioria em um Legislativo ainda mais fragmentado.
O PMDB, por outro lado, deixou a corrida eleitoral ainda mais poderoso ao eleger as maiores bancadas na Câmara e no Senado, além do maior número de governadores, tornando se ainda mais poderoso.
Em fevereiro do ano passado, veio o primeiro dos principais revezes do segundo mandato. Contrariando os esforços contrários do PT, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), então desafeto declarado de Dilma, assumiu a presidência da Câmara.
O avanço das investigações da Lava Jato só engrossou esse caldo de más notícias para a gestão Dilma. Com a reputação em xeque diante de parte da opinião pública, que encheu ruas em protestos, o governo viu também seu poder de articulação desgastado.
Vale lembrar que foi em resposta à decisão da legenda de abrir um processo ligado às suspeitas que pairavam sobre Cunha que o então presidente da Câmara decidiu acolher a denúncia contra a presidente.
Faltando poucos dias para a votação do impeachment na Câmara, mais um abalo nas estruturas do mandato: o PMDB anuncia rompimento com o governo. Foi questão de tempo para que outras legendas seguissem a mesma orientação.
Se as previsões dos especialistas se confirmarem, o Senado coloca hoje um ponto final aos 13 anos do PT no comando do país. A maneira como a narrativa do impeachment ficará para a história será fundamental para a reconstrução do partido. O tom adotado por Dilma Rousseff durante seu interrogatório mostra que tanto ela quanto a legenda estão cientes dessa condição.
A sessão que marca o fim do julgamento final de Dilma Rousseff começa por volta de 11h. A votação, no entanto, só deve acontecer no início da tarde.
Relembre o processo