(Rodrigo Sanches/Site Exame)
Valéria Bretas
Publicado em 1 de janeiro de 2018 às 07h00.
Última atualização em 1 de janeiro de 2018 às 07h01.
EXAME convidou três analistas e consultorias para traçar previsões para o cenário político em 2018. Veja o que eles disseram:
Quem diz: Vitor Oliveira, sócio-diretor da Pulso Público
Entre 1994 e 2014, houve uma boa dose de previsibilidade em nosso sistema político. 2018 anunciava ser um ano revolucionário, mas a inércia deve ser maior do que o esperado por muita gente.
Mesmo sob o efeito da Operação Lava Jato, a perspectiva de múltiplas candidaturas presidências foi reduzida; outsiders ao sistema partidário não se viabilizaram, o PSDB melhorou sua coordenação interna e amenizou seu oposicionismo, enquanto o PT voltou seu discurso para as bases, visando mobilizar sua base e reduzir o risco de alternativas no campo da esquerda.
Sem a economia como catalizadora de uma candidatura, reduz-se a chance de que o atual Governo corra sozinho em 2018, reforçando a perspectiva de coordenação das forças que levaram Temer ao poder.
Ademais, o próprio sistema eleitoral favorece a concentração de votos em poucos candidatos, por conta do comportamento estratégico do eleitor – o famoso voto útil – já no 1º turno. Isto reduz o risco de uma candidatura extremista ser viável.
Parece provável um cenário eleitoral próximo ao de 2002, com menor protagonismo mas elevada competitividade de PT e PSDB, ainda que isto manifeste apenas às vésperas da votação, quando o peso de suas estruturas nacionais, das prefeituras e governos que controlam e da campanha na TV terá mais impacto.
Até a eleição, a agenda legislativa deverá ter o predomínio de temas que distribuam benefícios a grupos de interesse específicos e eleitoreiros, em detrimento de uma agenda que crie conflitos entre grandes grupos sociais e dependa de quórum elevado, como a reforma da previdência em seu formato atual, dada a fragilização da liderança do Planalto junto à Coalizão de Governo. Isso não torna impossível a aprovação da reforma previdenciária, mas requer que o custo político seja pago com ajustes severos no texto e mais concessão de cargos e recursos de governo.
Quem diz: Marco Antonio Carvalho Teixeira, professor de Ciência Política da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo
O cenário para as eleições 2018 ainda é cercado de mistério. Vários são os fatores que podem alterar o xadrez político e interferir na decisão do voto. As pesquisas eleitorais, até o final de 2017, apontam para o caminho de uma polarização entre Lula e Bolsonaro, numa situação em que ambos estão se descolando dos demais concorrentes.
Entretanto, os dois são vulneráveis a revezes. Contra Lula pesam dois riscos: 1) o fato de sua candidatura acabar não sendo registrada caso o Judiciário o condene em segunda instância em processos da Lava Jato e os recursos possíveis não lograrem êxito; 2) mesmo registrada, sua candidatura tende a se tornar vulnerável pela ameaça de poder não cumprir o mandato em decorrência de decisões judiciais que podem ocorrer no período posterior às eleições.
Quanto a Jair Bolsonaro, sua intenção de voto até o momento é fruto da carga emocional e moral que vem impondo a temas como ordem e segurança pública, assuntos que se tornaram caros no imaginário social do brasileiro. Todavia, numa eleição presidencial fatores como tempo de TV, capilaridade nacional da coligação e preparação técnica do candidato para enfrentar o debate público em questões espinhosas como Economia e Globalização pesam bastante. Bolsonaro não tem demonstrado habilidade quando chamado ao debate público e não foi acolhido por nenhum dos partidos com estrutura para conduzir uma campanha de âmbito nacional.
Por fim, os que ainda estão largando por fora e vem construindo alianças razoavelmente fortes, como Geraldo Alckmin, Marina Silva e Ciro Gomes, ainda podem avançar nesse jogo. Também existe espaço para que algum outsider com capacidade de aglutinar apoios ao centro e atrair partidos de tamanho médio possa surgir como surpresa.
O presidente Michel Temer deve seguir em frente com reformas econômicas em 2018, principalmente no primeiro semestre. Medidas como um novo marco regulatório para o setor de telecomunicações, cadastro positivo para o crédito e a privatização da Eletrobras têm boas chances de serem aprovadas no Congresso. A maior dificuldade é justamente na reforma mais importante: a da Previdência. Não descartamos totalmente a aprovação, mas acreditamos que o governo não conseguirá os 308 votos necessários mesmo oferecendo mais concessões. A chave está na comunicação.
A melhora econômica, porém, terá um impacto mínimo nas eleições por causa da profunda raiva contra a classe política. Nesse ambiente, a campanha não focará na ideologia partidária, mas sim na disputa entre o novo o velho. Será preciso olhar se a oferta de candidatos satisfaz a demanda por sangue novo. Com isso, nomes como Jair Bolsonaro podem ir bem. A corrida continua aberta para novas caras como Joaquim Barbosa.
É verdade que o ex-presidente Lula lidera as pesquisas hoje, mas ele terá muitas dificuldades. Sua vantagem inicial é principalmente por ser mais conhecido do que os concorrentes em um campo ainda indefinido. Mas a chance de ele ser desqualificado são altas. O julgamento do TRF-4 em janeiro indica que outros recursos jurídicos poderão já estar definidos a tempo das eleições. Com a pressão da população por mudança, será difícil para o Judiciário ignorar a Ficha Limpa.