EDUARDO CUNHA: com postura altiva no momento da prisão, ex-deputado tem como pontos fracos o envolvimento de sua mulher e filha nas investigações da Lava-Jato / Igo Estrela/ Getty Images
Da Redação
Publicado em 20 de outubro de 2016 às 05h28.
Última atualização em 23 de junho de 2017 às 18h56.
Ainda que caminhava de cabeça erguida, como um mártir injustiçado, Eduardo Cunha exibiu em seu semblante uma rara faceta de vulnerabilidade enquanto era levado pela Polícia Federal à Curitiba para ser encarcerado na quarta-feira. Postura típica de quem não está acostumado a se curvar.
Fraqueza deve ser palavra proibida em seu dicionário. Nem mesmo quando teve seu mandato cassado por 450 votos de seus pares se mostrou abalado. E não são poucos os casos em que Eduardo Cunha se mostrou absolutamente impassível quando ofendido publicamente por adversários. Muito pelo contrário. Quando ofendido, Cunha se mostrou frio, no que parecia o mais absoluto desprezo por seus oponentes. Pudera: no início de 2015, quando se candidato à cadeira de presidente da Câmara, tinha sob controle nada menos que 130 parlamentares.
No entanto, em apenas um episódio o deputado pareceu balançar. Em seu discurso público de renúncia à presidência da Câmara – que tanto negou que faria –, Cunha foi às lágrimas ao mencionar a “perseguição” que sofria junto com sua família. Mencionar a mulher e a filha tornou-se um marco de emoção sem precedentes para o então deputado. Chama atenção nisso seu possível ponto fraco.
Fazer pressão sobre possíveis sanções jurídicas à Cláudia Cruz, sua esposa, e Danielle Dytz da Cunha, a filha, pode ser uma ferramenta de barganha usada pelo Ministério Público Federal caso haja interesse em que Cunha delate o que sabe sobre o núcleo duro do governo.
As provas contra Cunha são suficientemente sólidas para que ele seja condenado, mas sua esposa tem aberta ação penal muito semelhante e permanece em liberdade. Opositores da Lava-Jato dizem que a tática de forçar prisões processuais para obter confissão é prática costumeira para a força-tarefa da operação.
“Com o constrangimento, o réu quer resolver seu problema. Conta tudo o que sabe e até o que não sabe. Não posso criar prisão com finalidade de delatar. Se não tivéssemos prisões processuais da Lava Jato, teríamos tantas delações? Provavelmente não.”, afirma Alamiro Salvador Netto, professor da Faculdade de Direito da USP e presidente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária do Ministério da Justiça em entrevista a EXAME Hoje.
Seria esse o caminho? Talvez. Basta saber se o Ministério Público Federal tem algum interesse em abrir uma frente de negociação com o ex-deputado. “Mesmo com o controle que ele exerce em parlamentares, duvido que o MPF aceitaria trocá-lo por inúmeros deputados de baixo clero que cometeram crime de caixa dois. É errado, mas é o crime eleitoral mais comum do Brasil há 500 anos” afirma Lucas de Aragão, cientista político e diretor da Arko Advice.
De fato, um Eduardo Cunha com contas milionárias na Suíça, ex-presidente da Casa, com porcentagem de contratos na Petrobras e investigado por propinas em projetos de governo federal é muito mais interessante. Para se livrar, Cunha teria que demonstrar que o que sabe é maior e mais importante do que o que representa no esquema de corrupção na Petrobras, apresentando as devidas provas. Resta saber, portanto, até quando a postura altiva do ex-deputado irá durar.