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Estes são os dilemas do PSDB hoje, segundo 3 especialistas

O partido enfrenta dois dilemas: apoiar um governo envolvido em escândalos de corrupção e ter Aécio Neves investigado por suspeita de receber propina da JBS

Aécio Neves: imagem destacada (Ueslei Marcelino/Reuters)

Aécio Neves: imagem destacada (Ueslei Marcelino/Reuters)

Valéria Bretas

Valéria Bretas

Publicado em 29 de junho de 2017 às 06h30.

Última atualização em 29 de junho de 2017 às 06h30.

São Paulo – A denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente Michel Temer (PMDB) reforçou o racha no PSDB sobre a permanência do partido na base aliada.

Apesar do esforço do Palácio do Planalto para manter os tucanos - que hoje têm quatro ministérios e 46 deputados - ao seu lado, o presidente pode não contar com a maioria na votação da admissibilidade de denúncia no plenário da Casa. Para ser apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, a denúncia precisa do aval de dois terços da Câmara dos Deputados.

Sondagem do jornal O Estado de S. Paulo com 31 dos 46 integrantes da bancada mostra que, desses, 15 afirmaram que votarão a favor da denúncia, sete contra e nove afirmaram estar indecisos ou não opinaram.

Se não bastasse a dúvida sobre apoiar um governo envolvido em escândalos de corrupção, o PSDB enfrenta o desgaste político de ter a sua principal liderança, Aécio Neves, investigada pela suspeita de ter recebido 2 milhões de reais em propina da JBS.

Por essas razões, três especialistas consultados por EXAME.com afirmam que o PSDB fica enfraquecido, mas que ainda tem chances de virar o jogo até as eleições presidenciais de 2018.

Permanência na base

Segundo Rafael Cortez, analista político da Consultoria Tendências, a denúncia contra Temer retoma o dilema central da sigla: se manter ou não na base governista. Levando em consideração uma eventual aliança para a corrida eleitoral de 2018, romper o vínculo com o governo, na opinião de Cortez, pode trazer um risco político muito maior.

“Existe sim um custo de reputação para o partido em manter o apoio, já que o governo está envolvido em desdobramentos judiciais”, diz. “No entanto, o PSDB cravou sua associação ao governo federal quando decidiu apoiar o impeachment e renunciar a um projeto autônomo para servir de base aos peemedebistas”.

Para o analista político, mesmo que a bancada tucana oficialize o desembarque da base aliada, dificilmente vai conseguir se livrar do desgaste político. “Quando a cúpula do PSDB se uniu ao PMDB com o discurso de buscar soluções contra a crise política, uma expectativa de mudança foi gerada na sociedade que, posteriormente, não foi confirmada no plano político”, afirma.

O fato é que não existe uma “solução ótima” para o partido, diz Cortez. A saída, segundo o especialista, é definir qual caminho deseja seguir. “O PSDB precisa reconstruir a identidade que acabou sendo perdida pela decepção do eleitorado com os desdobramentos políticos do governo”, afirma Cortez. “O tucanato tem que defender, de uma vez por todas, o seu posicionamento, seja ele qual for”.

Fator Aécio Neves

“A imagem do partido, de fato, está ameaçada. Ter se colocado como uma sigla defensora da moralidade é o que pode gerar o maior desgaste para a bancada”, afirma Cláudio Couto, cientista político Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Segundo o cientista político, o envolvimento da principal liderança de um partido em escândalos de corrupção também soma como motivo suficiente para afetar a reputação de uma sigla.

Para Couto, Aécio já é carta fora do baralho. Desde que o áudio do empresário da JBS foi divulgado, no dia 17 de maio, o tucano perdeu mais de 84 mil seguidores em sua página no Facebook, segundo a ferramenta de monitoramento de redes Quintly.

“Em 2014, o Aécio ganhou espaço com o eleitorado e se tornou uma força muito importante dentro do partido. Não é fácil construir uma liderança com essa representatividade”, diz Soraia Marcelino Vieira, professora de ciência política na UFF e autora do livro “O Partido da Social Democracia Brasileira – trajetória e ideologia”. “Com as investigações, cabe ao tucanato tomar uma decisão: quem vai ser essa pessoa agora?”.

No entanto, para ela, esse é um momento chave para o partido se reinventar. “Essa é uma oportunidade de o PSDB fazer uma auto análise e repensar suas estratégias”, diz. “Não se pode negar que o partido está enfraquecido, mas, tanto o PSDB, como as outras bancadas partidárias, continuarão sendo importantes para a garantia da governabilidade e para a criação de políticas públicas”, diz.

Eleições de 2018

De acordo com Cláudio Couto, cientista político Fundação Getúlio Vargas (FGV), o futuro do partido nas eleições presidenciais de 2018 ainda é incerto.

O governador Geraldo Alckmin, na visão de Couto, é ainda a opção mais viável para disputar o pleito.  “Aécio já está descartado da jogada. José Serra, por razões de saúde e devido ao desaparecimento da cena pública, também. O novato João Doria é uma aposta, mas pode acabar sofrendo eventuais desgastes até a eleição”, diz.

Para Soraia, professora de ciência política da UFF, o fato de o PSDB estar vinculado ao governo de Michel Temer, que também foi alvo das delações de Joesley Batista, não é a melhor estratégia para o partido visando as eleições presidenciais.

“Ainda há tempo de criar um nome competitivo para 2018”, diz. “No entanto, o partido vai ter que adotar medidas disciplinares e assumir publicamente que é contra condutas ilícitas, como a de Aécio”.

Apesar da tempestade contra o partido, a professora da UFF acredita que a carga histórica de relevância da sigla para o país é um dos fatores que pode livrar o PSDB de uma eventual situação de naufrágio.

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