Sônia Braga: "é muito importante entender que no Brasil está ocorrendo algo", disse a atriz, que ontem participou de um protesto no tapete vermelho de Cannes (Eric Gaillard / Reuters)
Da Redação
Publicado em 18 de maio de 2016 às 13h03.
Cannes - O Festival de Cannes serviu na terça-feira de plataforma à equipe do filme "Aquarius", que quis denunciar o que considera um golpe de Estado encoberto em seu país, que está "dividido" como nunca desde que a democracia foi instaurada, como ressaltou a atriz Sonia Braga.
"É muito importante entender que no Brasil está ocorrendo algo", disse a veterana atriz, que ontem participou com o resto da equipe do filme de um protesto no tapete vermelho de Cannes.
O diretor do filme, Kleber Mendonça Filho, disse que a divisão no Brasil "é dramática e terrível" e está "tirando o pior das duas partes, mas especialmente da direita, que está mostrando "cunhos de fascismo".
Como exemplo, Mendonça afirmou que no parlamento houve quem propusesse que as mulheres não trabalhem porque estão grávidas, ou o fato de que tenha desaparecido o Ministério de Cultura, agora integrado no de Educação.
É uma das medidas do governo do presidente interino Michel Temer, que assumiu o cargo na semana passada depois que Dilma Rousseff foi suspensa temporariamente de seu cargo.
"Há pessoas no novo governo que são corruptas, já há casos e provas, e no momento em que assumirem seu posto, terão que renunciar. Isto é muito prejudicial para nossa democracia e é duro de aceitar", disse Braga emocionada.
Essa situação é a que a equipe de "Aquarius", que participa da competição oficial de Cannes, quis denunciar ontem antes da projeção do filme, mostrando oito pequenos cartazes nos quais apontavam o que acontece no Brasil.
"O Brasil está vivendo um golpe de Estado" e "O Brasil já não é uma democracia" foram algumas das frases que formaram um protesto da equipe.
"Não queria fazer algo que fosse inadequado e chegamos à ideia de tirar oito peças de papel com frases curtas que expressam o que está ocorrendo no Brasil", explicou Mendonça.
O Festival de Cannes "tem muitas câmeras" e o protesto funcionou muito bem. "Estou muito emocionado com a reação dos meios de comunicação", acrescentou o diretor.
"Queríamos que o povo saiba que está acontecendo algo no Brasil agora e queríamos usar a plataforma que é Cannes e fazer esse pequeno gesto".
Um pequeno protesto que Braga esteve a ponto de perder porque se antecipou a seus companheiros. "Nesse momento estava mais acima e vi que estavam abaixo, desci como pude com meu vestido e meus altos saltos, mas cheguei a tempo", relatou a atriz.
A atriz lembrou sua origem humilde, o que a levou a deixar a escola aos 14 anos, em uma família de sete filhos que sua mãe teve que criar sozinha.
"Não há nada de errado com os pobres, o problema é com os ricos, que querem mais e mais" e isso é o que reflete "Aquarius", um filme centrado na especulação imobiliária que está expulsando muita gente para fora das grandes cidades, onde só os endinheirados podem viver.