Roberto Carvalho de Azevêdo: o mundo inteiro coloca sobre ele a responsabilidade por recuperar a relevância de uma organização com 159 membros (Marcello Casal Jr/Abr)
Da Redação
Publicado em 8 de maio de 2013 às 12h19.
São Paulo – A eleição de qualquer diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) já seria notícia em todo o globo. Mas a leitura da mídia internacional com a vitória do brasileiro Roberto Azevêdo parece sugerir que a responsabilidade assumida por ele vai pesar um pouco mais que a de seus antecessores.
A tarefa do diplomata será de devolver à OMC a relevância que se espera dela, como defendeu o The New YorK Times, ou ao menos impedir que ela perca a importância que resta, como assinalou o espanhol El País.
A moral da OMC está baixa desde o fracasso da Rodada de Doha, que buscava selar acordos multilaterais de livre comércio entre os países, que vêm hoje privilegiando as negociações bilaterais, principalmente desde a crise de 2008.
O trabalho é hercúleo porque Azevêdo terá de encontrar consensos em uma organização formada por 159 nações de todos os tamanhos e interesses.
Veja abaixo evidências de que a vida do primeiro latino-americano a chefiar a OMC, com posse marcada para setembro, promete não ser fácil. Clique nos títulos para ter acesso aos links originais.
Pressão: “O sr. Azevêdo deve tirar a OMC da paralisia”
O jornal francês afirma em editorial que o brasileiro deve iniciar uma reforma na organização. Caso contrário, isso “significaria o retorno de práticas comerciais abusivas impostas pelo mais forte, mas também um ressurgimento do protecionismo, uma ameaça ao crescimento global”.
O Le Monde aponta que dirigir uma instituição do sistema Bretton Woods era “um velho sonho da diplomacia brasileira”, o que confirma o Brasil no “clã dos grandes”.
Mas o veículo francês relembra que, apesar do sucesso na OMC, Azevêdo representava até então a política protecionista de Dilma Rousseff, um fator que pesa contra ele.
Pressão: “O sr. Azevêdo assume em um período em que a OMC parece ter perdido o seu caminho”
O periódico norte-americano lembrou que o brasileiro vai tomar as “rédeas no momento em que o grupo (OMC) está lutando para permanecer relevante“.
Um dos entrevistados, Petros Mavroidis, da Universidade de Columbia, é extremamente crítico em relação à escolha do diplomata. “O Sr. Azevedo é um hábil embaixador, mas eu acho que você precisa de alguém para agitar aquele lugar. E eu não sei se ele é o apto a fazê-lo”, disse.
Pressão: “O grande desafio do próximo diretor-geral da OMC será impedir a organização de perder toda a relevância como árbitro do comércio internacional, dada a proliferação de acordos bilaterais regionais”
O El País menciona uma fala, de certa forma conformada, do diplomata brasileiro: "definir as regras fora da OMC pode ser um processo irreversível", reconheceu Azevêdo.
Pressão: “Oficiais do Brasil não escondem o prazer que um de seus próprios tenha sido escolhido para ser o próximo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio. Eles talvez queiram moderar esse entusiasmo”
O jornal norte-americano chama o Brasil de um “país que talvez tenha se envolvido em uma cota mais do que justa de políticas protecionistas”.
Pressão: “Não importa quão puro tecnocrata ele seja, Azevêdo vai achar difícil afastar a influência de Brasília”
O britânico Financial Times dedicou várias matérias para analisar a eleição do brasileiro. No blog beyondbrics, é apontado que a vitória dele é também do país, o que traz para sua eleição uma carga não positiva de protecionismo.
“Muitas vezes, Azevêdo defendeu posições adotadas pelo Brasil que eram vistas como obstrução ao progresso nas negociações multilaterais”, escreveu o jornal.
Mas há espaço para esperar melhorias. “Apoiadores dizem que o seu conhecimento da instituição e o amplo apoio em muitos mercados emergentes pode ajudar a superar a divisão norte-sul dentro da OMC, e revigorar as negociações antes de uma conferência ministerial de dezembro, em Bali”, diz texto do Financial Times.