Rua às escuras devido a apagão programado no Equador em 18 de setembro (AFP)
Repórter
Publicado em 14 de outubro de 2024 às 21h41.
Última atualização em 14 de outubro de 2024 às 22h10.
O apagão de energia elétrica em São Paulo após a forte chuva da última sexta-feira, 11, que deixou mais de 2 milhões de endereços sem luz nas últimas 72 horas e se tornou um cabo de guerra entre a prefeitura, a concessionária Enel e a Aneel, virou uma questão eleitoral na capital paulista.
O atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) trocaram críticas e acusações sobre o tema nos últimos dias. Apesar disso, nenhum dos candidatos apresentam propostas relativas ao enterramento de fios de energia elétrica em seus programas de governo protocolados no sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O documento, que deve ser obrigatoriamente apresentado para quem almeja assumir o cargo de chefe do Executivo Municipal, traz um resumo do que cada candidatura pretende realizar caso seja eleita para o mandato de quatro anos.
O enterramento em galerias subterrâneas é defendido por especialistas do setor como uma das medidas para diminuir o desgaste causado pela chuva, os problemas de roubo e acidentes causados por queda de árvores e postes, além de melhorar a segurança e a disponibilidade da rede de distribuição de energia.
Por outro lado, é também uma ação considerada custosa e complexa com obras que podem afetar a mobilidade em vias.
"O aterramento de fios tem que ser feito de forma cuidadosa, criteriosa e planejada", afirmou Sandoval de Araújo Feitosa Neto, diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em entrevista à EXAME em novembro do ano passado por conta do apagão que, na época, também havia deixado a capital sem energia por 160 horas.
A medida também é obrigatória desde 2005, de acordo com lei municipal sancionada pelo então prefeito José Serra (PSDB).
Apesar dos desafios e da urgência, nem Boulos e Nunes apresentam propostas sobre o tema.
Mesmo sem proposta no programa de governo, Boulos e Nunes tentaram responder à crise nos últimos dias. O atual prefeito pressiona o governo federal para romper o contrato de concessão da Enel, e diz que a culpa da falta de energia é da empresa — que nega as acusações.
Boulos, por sua vez, defende uma melhoria na zeladoria para evitar quedas de árvores e também crítica a Enel e propõe o fim da concessão de distribuição de energia na cidade.
O plano do deputado prevê o uso de tecnologias para "inovar nos serviços de zeladoria". "Vamos agregar tecnologia aos serviços de corte, poda de árvore, capinação e limpeza de bueiros, dando mais eficiência aos processos e diminuindo custos. Vamos ainda implementar uma política permanente e preventiva em limpezas de córregos e piscinões", diz em um trecho do documento.
Segundo o Ministério de Minas e Energia, 50% dos eventos de falta de energia na cidade de São Paulo foram causados por queda de árvores. Após 72 horas do forte temporal e ventos recordes que atingiram o estado de São Paulo na última sexta, 11, mais de 338 mil imóveis ainda estão sem luz.
O enterramento de fios na cidade também é obrigatório desde 2005, de acordo com lei municipal sancionada pelo então prefeito José Serra (PSDB).
Desde 2017, a administração municipal tem um projeto de enterramento de fios elétricos em parceria com a Enel. O prefeito na ocasião, João Doria, prometeu enterrar 52 km de fios em 117 vias de São Paulo. A meta era concluir as obras até julho de 2018.
Segundo a Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecom Competitivas (TelComp), São Paulo tem 20.000 km de fios aéreos, ou seja, menos de 0,3% da rede está subterrânea. O valor para aterrar os fios chegaria a R$ 81 bilhões.