Prefeito Ricardo Nunes demite subprefeito da Lapa após apoio de Rubinho Nunes a adversário e enfrenta riscos de debandada na coligação (Leandro Fonseca /Exame)
Agência de notícias
Publicado em 2 de setembro de 2024 às 19h15.
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), demitiu o subprefeito da Lapa, Luiz Carlos Smith Pepe, após o vereador Rubinho Nunes (União), responsável pela indicação de Pepe ao cargo, declarar apoio ao adversário Pablo Marçal (PRTB). A demissão foi confirmada por Nunes, que justificou a ação como resultado da "traição" de Rubinho. A subprefeitura será agora comandada por Ana Carolina Nunes Lafemina, atual secretária-adjunta da Secretaria Municipal das Subprefeituras (SMSub).
"Eu demiti porque havia uma indicação dele (Rubinho) e é natural, uma vez que está configurada ali a questão do perfil dele, de um traidor, de uma pessoa que não tem caráter. Nada contra o subprefeito em si, mas como foi uma sugestão dele (Rubinho), é natural que eu exonere para colocar alguém que eu tenha uma proximidade maior", disse Nunes a jornalistas durante uma agenda de campanha na Vila Nova Cachoeirinha, Zona Norte da cidade.
Nesta segunda-feira, 2, Rubinho Nunes participou de um "adesivaço" em apoio a Marçal em frente ao portão 7 do Parque Ibirapuera, trajando o boné do "M" e demonstrando seu apoio ao candidato adversário. No evento, Rubinho se envolveu em uma discussão com um youtuber que o acusou de oportunismo por trocar o apoio a Nunes pelo ex-coach, visando aproveitar o "hype" da campanha de Marçal. A troca de farpas incluiu um empurrão de Rubinho no youtuber, que transmitia a cena ao vivo. Rubinho o chamou de esquerdista e mostrou um papel com a foto de uma carteira de trabalho, o que levou o youtuber a se afastar sob protestos.
Rubinho Nunes é um exemplo de candidato ao Legislativo municipal que traiu Nunes ao apoiar Marçal abertamente. Outros exemplos incluem Daniel José (Podemos), Joice Hasselmann (Podemos), Claudia Baronesa (Republicanos) — que na última sexta-feira participou de uma carreata com o ex-coach —, além de Adrilles Jorge (União), que já indicou alinhamento a Marçal. Além disso, alguns candidatos têm "escondido" Nunes de seus materiais de campanha e redes sociais. Partidos da coligação, como União, PL e Podemos, já anunciaram cortes de recursos financeiros e de tempo de TV e rádio para candidatos que não se comprometerem com a candidatura de Nunes.
A traição de Rubinho foi minimizada por Nunes, que mencionou divergências anteriores com o vereador, como a proposta polêmica de multar em R$ 17 mil quem doasse comida para pessoas em situação de rua. Pessoas ligadas ao União Brasil criticam a estratégia de comunicação da campanha de Nunes, citando pesquisas internas que indicam que ele "já não segura mais" Marçal. Esses próximos dez dias são considerados cruciais para a disputa, com o risco de mais vereadores da base aliada seguirem o caminho de Rubinho caso Nunes não reaja nas pesquisas.
Milton Leite, presidente do União Brasil paulistano e aliado de longa data de Nunes, tem mantido diálogo constante com o prefeito e agiu rapidamente para punir Rubinho, cortando seus repasses financeiros e seu tempo de TV e rádio, medida comemorada por Nunes. "Outras medidas serão analisadas ao longo da campanha, inclusive uma possível expulsão", declarou Milton Leite em nota no sábado. Após o anúncio de Rubinho, Leite trocou sua foto de perfil no WhatsApp, passando a usar uma em que aparece ao lado de Ricardo Nunes. O prefeito também afirmou que tem conversado frequentemente com Leite e chegou a mostrar mensagens trocadas com o presidente da Câmara. Na semana passada, Leite participou de agendas com Nunes na Zona Sul, reduto eleitoral de ambos.
"Ele tem participado bastante (da campanha), em duas caminhadas que eu não pude ir, ele me representou, ele vai me mandando mensagem o dia todo, eles fazem pesquisas que mostram que eu estou na frente", explicou Nunes, que comentou sobre a atitude de Rubinho: "O Rubinho a gente já esperava. Já é um cara cuja trajetória tá bem longe da minha, queria fazer aquela loucura de multar em R$ 17 mil quem doava comida."
No sábado, Rubinho disse ao GLOBO que "respeita Milton Leite como líder partidário" e que "sabia que poderia sofrer consequências". O vereador afirmou que avisou o dirigente antes de declarar apoio a Marçal.
"Não vejo identificação com o atual prefeito. Contribuí com o governo, mas via resistência às coisas que eu acredito. É muito difícil o contato com ele (Nunes). Eu vinha acompanhando a campanha do Marçal, tenho um alinhamento ideológico muito grande com ele", afirmou Rubinho.
Apesar das ações de contenção, Ricardo Nunes enfrenta uma ameaça de debandada dentro de sua base aliada. Nomes como Joice Hasselmann (Podemos), Claudia Baronesa (Republicanos), Adrilles Jorge (União), Daniel José (Podemos) e Policial Machado (Republicanos) têm sinalizado apoio a Pablo Marçal nas últimas semanas.