"Talvez em nenhum momento na história do Brasil e das Copas do Mundo a política se articulou tanto com o esporte" (Reprodução/ Facebook/ Palácio do Planalto)
Da Redação
Publicado em 13 de julho de 2014 às 10h23.
Brasília - Em nenhum outro momento da história do Brasil e das Copas o futebol e a política estiveram tão interligados quanto neste Mundial. A realização do torneio no País já interferiu no processo eleitoral, a goleada de 7 a 1 sofrida pela seleção diante da Alemanha vai influenciar o humor dos eleitores e o prejuízo deve cair na conta da presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição.
As afirmações são do historiador Flávio de Campos, coordenador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Futebol e Modalidades Lúdicas (Ludens) da Universidade de São Paulo (USP).
Politização inédita
"Talvez em nenhum momento na história do Brasil e das Copas do Mundo a política se articulou tanto com o esporte. Desde junho de 2013 a política acompanhou o desenrolar do torneio. Às vésperas da abertura havia um clima de desmobilização torcedora, uma apatia torcedora, e isso foi se modificando. Aquilo começou a se transformar em uma mobilização da torcida verde-amarela e curiosamente na desmobilização das manifestações sociais e mesmo dos movimentos grevistas de várias categorias que haviam se apresentado no mês de maio e começo de junho."
Torcida de shopping center
"A gente tem que levar em consideração aquela baixaria que foi o xingamento à presidente da República na partida inicial (da Copa, entre Brasil e Croácia, no Itaquerão, em São Paulo). Aquilo revela outras coisas sobre o tipo de público que foi aos estádios. Alguns analistas chamaram de público de teatro, mas não é. A imensa maioria poucas vezes foi a um estádio de futebol. E não é público de teatro, porque essa classe média não tem cultura teatral, no máximo stand up. Aquele é um público de shopping center, raivoso, rancoroso."
Impacto eleitoral
"A Copa já interferiu no resultado das eleições. Os índices de popularidade da presidenta Dilma desidrataram desde junho de 2013, quando começaram os questionamentos sobre o preço dos estádios, desvios e uso de dinheiro público, até antes do início da Copa e com o desempenho da seleção brasileira e o decorrer da competição começaram a subir outra vez. Pouco, mas avançaram."
Apropriação eleitoral
"A tentativa de apropriação eleitoral da Copa é absolutamente normal e esperada. A Angela Merkel (chanceler alemã) posou com os atletas da Alemanha no vestiário e a família real holandesa com os atletas holandeses. É normal o governo federal, que é o principal organizador da Copa, tentar extrair dividendos políticos do torneio, como também é normal que os setores oposicionistas peguem carona e tentem surfar nessa onda que é muito boa. Faz parte do jogo político e eleitoral a tentativa de sintonização com a torcida brasileira."
O campo e as urnas
"Seria melhor para o governo brasileiro que o Brasil ganhasse a Copa? Sim. A percepção da sociedade otimista tende a favorecer quem está no governo, enquanto uma percepção pessimista tende a influenciar a oposição ao governo."
Dilma perde
"Dilma sai perdendo pela falta de embate político do governo. Concordo com o Gilberto Carvalho (ministro da Secretaria-Geral da Presidência) quando ele disse que os xingamentos a Dilma (na abertura da Copa) não partiram só da elite. Está faltando para o PT a discussão política. Faltou ao governo federal alguém que faça a defesa dos aspectos positivos da Copa. Não existe quem faça isso hoje, quem combata a apropriação que a oposição faz, e vai fazer, dos problemas de organização. E isso também é absolutamente democrático." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.