Flávio Bolsonaro: "talvez meu erro tenha sido esse: confiar demais nele, sem dúvida", disse o senador (Edilson Rodrigues/Agência Senado)
Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de maio de 2019 às 10h38.
Brasília — O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) disse em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que o Ministério Público prepara manobra para dar "verniz de legalidade" à investigação envolvendo o caso Fabrício Queiroz.
Segundo ele, é por isso que promotores correm para obter autorização da Justiça e quebrar seu sigilo bancário e fiscal.
"Para que o pedido se meu extrato já apareceu na televisão? Eles querem requentar informação que conseguiram de forma ilegal", disse. "A investigação tem de ser arquivada e eles sabem disso."
Filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro, Flávio passou a ser investigado após o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificar movimentação financeira atípica em sua conta corrente e na de seu ex-assessor, Fabrício Queiroz.
O caso foi revelado pelo Estado. Ele nega que tenha pedido a seus funcionários parte do salário. Mas diz que Queiroz tem de se explicar: "Talvez tenha sido meu erro confiar demais nele".
Onde está Fabrício Queiroz?
Como é que vou saber? Ele tem um CPF e eu tenho outro. A última vez que falei com Queiroz foi quando, após a cirurgia do câncer, liguei para saber se estava tudo bem. E nunca mais falei com ele. Não sei onde está, não tenho informação.
Mas ele trabalhou mais de dez anos para o senhor.
Sim, trabalhou. Ele tinha a minha confiança.
Ele não tem mais?
Está demonstrado que não é merecedor dela. A demora dele em falar me atrapalhou muito. Fui sendo fritado enquanto ele não falava nada.
Ok, mas o senhor não é investigador. Para o senhor, não era importante entender o que de fato aconteceu?
Era importante, mas aí ele descobriu o câncer, foi operar e eu não falei mais com ele.
Por que não procurar Nathália Queiroz, que também foi sua funcionária, para ela explicar?
O Queiroz tinha muita autonomia no gabinete para escolher as pessoas, principalmente as equipes de rua. Ele que geria tudo e me pedia: "Poxa, dá para colocar minha filha para trabalhar?".
Abria espaço no meu gabinete e eu, na confiança, dizia: "Pode colocar". Óbvio que cobrei, mas ele não me deu as explicações precisas à época, me deu de forma genérica. Talvez meu erro tenha sido esse: confiar demais nele, sem dúvida.
Ele tinha confiança do seu pai?
Com certeza, ou não teria vindo trabalhar comigo. Ele convivia mais comigo. Mais de dez anos trabalhando comigo quase todo dia. Eu estava mais junto com o Queiroz algumas vezes do que com a minha família.
A relação foi sendo construída, de confiança. Mas não tinha como prever, como ainda não há como ter convicção de que houve ilegalidade.
Queiroz, primeiro, não quis falar nada. Depois, falou que vendia carros. Em seguida, que pegava o dinheiro para aumentar o gabinete. Não é estranho?
Acho estranho, ele tem que explicar qual é a verdade.
Essa é o tsunami que o presidente disse que pode vir na semana que vem?
De jeito nenhum. Não tem nada a ver. Ele estava falando da MP 870, da reorganização dos ministérios.
Por que o senhor resolveu falar agora?
Vejo intenção de alguns do Ministério Público de me sacanear, de mais uma vez colocar em evidência coisas que não fiz. Meu processo corre em sigilo, mas os caras vazam tudo.
O Judiciário entendeu que o caso deveria prosseguir no Rio.
Sou a favor de qualquer investigação, sempre estive aberto para prestar informações. Só que quebraram meu sigilo bancário sem autorização da Justiça e expuseram isso em rede nacional. Como me defendo? Minha intimidade, ninguém respeita?
Minha chateação é com alguns integrantes do Ministério Público que estão tentando atacar minha imagem para atacar o governo Jair Bolsonaro.
Infelizmente, tem militância política em tudo quanto é instituição. O Ministério Público está esculachando o Judiciário toda hora em meu caso e o Judiciário não faz nada.
O sr. já reclamou dos vazamentos, mas disse também que é algo fácil de explicar. Por que não abrir mão de seu sigilo?
Fui para a televisão e expliquei passo a passo. Está eternizado. Por que estão querendo agora pedir autorização para quebrar meu sigilo bancário se meu extrato já apareceu na televisão? Eles querem requentar uma informação que eles conseguiram de forma ilegal.
Como viram a cagada que fizeram, querem requentar, dar um verniz de legalidade naquilo que já está contaminado e não tem mais jeito. Não tem outro caminho para a investigação a não ser ela ser arquivada e eles sabem disso.
Mas como o sr. pode afirmar que ele vazou informação?
Posso. É dar vista ao Ministério Público e quase que imediatamente cair na imprensa. Estou sendo vítima no Rio de Janeiro de perseguição implacável.
Houve "rachadinha", devolução do salário de servidores?
Claro que não. Queiroz estava na mesa quando empresários queriam doar alguns milhões de reais na campanha. Neguei na frente de todo mundo.
O que isso tem a ver?
Ele estava vendo qual era a minha postura. Se eu quisesse dinheiro, eu aceitava. Essa história de rachadinha não tem liga com o histórico do nome Bolsonaro. Não tem por que o Queiroz ter feito isso. Se fez, foi sem o meu consentimento.
O Coaf identificou movimentação que seria acima de sua renda. De onde vem seu dinheiro?
Não tem nada de atípico. Vem de minha atividade parlamentar e da minha empresa.
Quanto vem da empresa?
Prefiro não falar, porque é meu patrimônio particular. Não tem porque ficar falando aqui quanto ganho e deixo de ganhar. Declaro tudo à Receita, nunca tive problema nenhum com o Fisco.
O senhor empregou mulher e filha de um policial acusado de integrar milícia. Qual a sua relação com Adriano da Nóbrega?
Conheci em 2003. Era acusado de ter matado trabalhador e, na verdade, era traficante. Queiroz me apresentou. Resolvi abraçar a causa e o homenageei. Ele, agora, está sendo acusado de um monte de coisa. Se estiver errado, que a lei pese sobre ele.
Queiroz teve elo com milícia?
Claro que não, né? Bem, que eu saiba, não. Só me falta mais essa: Queiroz miliciano. Ele sempre foi policial.
O Congresso tirou o Coaf de Sérgio Moro. Concorda?
Estava na mesa quando o Moro conversava com Jair recém-eleito e pediu para levar o Coaf. Jair falou: problema nenhum, é seu. Nunca tínhamos ouvido falar de Coaf na vida. Óbvio que esse relatório é uma derrota política para o governo. Ainda teremos a discussão em plenário. Meu voto é do governo.
O sr. tem de apagar incêndios criados por seu irmão Carlos?
Carlos coloca nas redes sua opinião, que nem sempre é a do presidente ou a minha. Meu trabalho é fazer a ponte. Demandas legítimas ajudo a levar. Não sou de ir para internet lavar roupa suja.
Gosto de trabalhar as coisas olhando no olho. A postura do Carlos não pode ser interpretada como palavra do governo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.