Eunício Oliveira: senador do PMDB não quer ter imagem associada a investigados do seu partido (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 20 de fevereiro de 2017 às 10h24.
Brasília - O presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), tenta descolar sua imagem da do seu antecessor, Renan Calheiros (PMDB-AL), e de outros caciques peemedebistas da Casa que são investigados na Operação Lava Jato, como o líder do governo no Congresso, Romero Jucá (PMDB-RR), e o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Edison Lobão (PMDB-MA).
Na quinta-feira passada, dia 16, Eunício despachou de volta para a Câmara o projeto 10 Medidas Contra a Corrupção, que foi aprovado pelos deputados com alterações.
Depois de seguir para o Senado, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux determinou, em dezembro, a devolução do pacote para as Câmara, mas a decisão foi ignorada por Renan, então presidente do Senado.
Em conversas reservadas, Eunício teria dito que não teria a mesma postura de enfrentamento com o Judiciário de seu antecessor.
No dia anterior, Eunício já havia atuado como "conciliador" em uma polêmica criada pelo colega de bancada Romero Jucá.
Foi ele quem pediu a Jucá para retirar de tramitação a proposta de emenda à Constituição (PEC) que blindava todos os membros da linha sucessória de serem investigados pela Justiça por atos cometidos antes do mandato.
A proposta beneficiaria diretamente o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado.
Eunício alegou desconhecer o projeto e, após repercussão negativa, foi ao gabinete de Jucá pedir que ele retirasse a proposta.
"Fui pessoalmente conversar com ele. Fiz um apelo para que retirasse e ele já retirou, não consta mais no sistema", afirmou o presidente do Senado na ocasião.
O receio do peemedebista era de que a opinião pública se voltasse contra ele, que seria beneficiado pelo projeto. "Não poderia fazer tramitar essa proposta, ia parecer que eu estava legislando em causa própria".
Eunício, que não é investigado, foi citado na Lava Jato. Uma eventual aprovação do projeto impediria o STF de abrir um inquérito contra ele. Maia também teve o nome mencionado no âmbito da operação.
Em outra ocasião, Eunício também se distanciou da articulação para antecipar a sabatina do ministro licenciado da Justiça, Alexandre de Moraes, indicado para o cargo de ministro do Supremo.
Enquanto Jucá e Renan operavam na CCJ para acelerar o processo, Eunício afirmava que não via razão para antecipar os questionamentos a Moraes. Jucá e Renan acabaram vencidos. A sabatina do ministro licenciado está marcada para esta terça-feira, 21.
Novamente em lados opostos, Eunício e Renan divergiram sobre a distribuição de comissões. Eunício passou as duas primeiras semanas insistindo que os líderes acertassem as presidências dos colegiados com base na proporcionalidade. Ele chegou a alfinetar o ex-presidente da Casa.
"Esse não será o Senado da Agenda Brasil nem da pauta do presidente, será o Senado das comissões", afirmou Eunício, em referência à pauta que Renan tentou aprovar durante seu mandato.
Apesar de tentar buscar uma imagem de "independência" de seus correligionários implicados na Lava Jato, o presidente do Senado, que está no primeiro mandato, sempre foi próximo dos caciques do PMDB.
Mesmo com as divergências dos últimos dias, interlocutores afirmam que Eunício trabalha em conjunto com Renan e Jucá.
"Renan é muito forte e Eunício é muito forte. Renan só é líder e Eunício só é presidente porque jogam juntos. Essa divisão está na cabeça de vocês", disse Lobão ao ser questionado sobre a tentativa de distanciamento do presidente da Casa.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.