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Novo ministro da Justiça escolhe delegado Paulo Maiurino para comandar PF

A Polícia Federal é subordinada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública. Em recente conversa com o presidente, Torres disse a ele que o enfrentamento à pandemia também terá o olhar atento da corporação

O primeiro discurso de Torres no cargo, nesta terça-feira, 6, já foi afinado com o presidente Jair Bolsonaro. (Carolina Antunes/PR/Flickr)

O primeiro discurso de Torres no cargo, nesta terça-feira, 6, já foi afinado com o presidente Jair Bolsonaro. (Carolina Antunes/PR/Flickr)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 6 de abril de 2021 às 19h01.

Última atualização em 6 de abril de 2021 às 19h05.

O novo ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, escolheu o delegado Paulo Maiurino como novo diretor-geral da Polícia Federal. Ele substituirá o atual chefe da corporação, Rolando Souza. Com a mudança, a PF terá o terceiro chefe em apenas dois anos e três meses de governo.

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O delegado Paulo Maiurino atuou no ano passado como secretário de Segurança do Supremo Tribunal Federal, na gestão Dias Toffoli. Antes, trabalhou no governo de São Paulo como secretário de Esporte, Lazer e Juventude, na gestão de Geraldo Alckmin (PSDB)O novo diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal será Silvinei Vasques.

O primeiro discurso de Torres no cargo, nesta terça-feira, 6, já foi afinado com o presidente Jair Bolsonaro. Ao tomar posse em cerimônia fechada, sem transmissão ao vivo, o titular da Justiça defendeu a presença da "força da segurança pública" para assegurar "um ir e vir sereno e pacífico".

O pronunciamento de Torres foi feito justamente no momento em que Bolsonaro trava uma disputa com governadores e prefeitos sobre medidas de isolamento social para combater a disseminação de covid-19. O presidente chegou a entrar no Supremo Tribunal Federal (STF) contra decretos de toque de recolher editados por governadores do Distrito Federal, Bahia e Rio Grande do Sul, mas não obteve êxito. Além disso, na semana passada Bolsonaro demitiu o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e o comandante do Exército, Edson Pujol, que se recusaram a politizar as Forças Armadas.

"Neste momento, a força da segurança pública tem que se fazer presente, garantindo a todos um ir e vir sereno e pacífico. Contem com o Ministério da Justiça e Segurança Pública para dar esta tranquilidade", afirmou Torres, que também destacou o combate ao crime organizado como uma de suas prioridades.

A Polícia Federal é subordinada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública. Em recente conversa com o presidente, Torres disse a ele que o enfrentamento à pandemia também terá o olhar atento da corporação.

No início da gestão de Bolsonaro, a PF era comandada pelo delegado Maurício Valeixo, indicado pelo então ministro Sérgio Moro, ex-juiz da Lava Jato. Bolsonaro reclamava da atuação de Valeixo e exigiu sua cabeça. Moro pediu demissão, alegando interferência política. Mas desde que Rolando de Souza assumiu como diretor-geral, em maio do ano passado, a PF abriu outros inquéritos que incomodaram o Palácio do Planalto.

O mais recente deles, iniciado em março, investiga negócios envolvendo Jair Renan Bolsonaro, filho "04" do presidente. O objetivo da Procuradoria da República no Distrito Federal é saber se houve crimes de tráfico de influência e lavagem de dinheiro praticados por um grupo empresarial do setor de mineração e o filho de Bolsonaro.

Os outros três filhos políticos do presidente também são alvo da PF. O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) é acusado de comandar um esquema de rachadinha quando era deputado no Rio. O esquema, que também abrigaria funcionários fantasmas, seria usado, ainda, pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Já o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) está na mira de inquérito do STF que investiga a propagação de fake news contra ministros da Corte e o financiamento de atos antidemocráticos.

Em outra frente, a PF abriu inquérito contra o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello para apurar se ele cometeu crimes na gestão da pandemia de covid-19. Outras duas apurações em andamento, que também interessam o presidente, são as que tratam dos atos antidemocráticos e do inquérito das fake news.

Ao discursar na cerimônia de posse de Torres, Bolsonaro disse que o novo ministro da Justiça terá o comando de "sua própria PF". "Não é fácil e não é um Ministério complicado, mas é um ministério que tem muita responsabilidade. Abaixo de você, ali, diretamente subordinada - entre outras, né? -, a sua própria Polícia Federal", afirmou o presidente.

Bolsonaro considerou a mudança como "natural". "(…) A gente sabe que você (Torres), todas as mudanças que efetuará no seu Ministério é (sic) para melhor adequá-lo ao objetivo, ao qual você traçou. Você quer o Ministério da Justiça o mais focado possível para o bem de todos em nosso País", argumentou.

Mudança

A definição sobre a mudança na PF ocorreu após uma reunião entre Bolsonaro e Torres, na semana passada. Ficou decidido ali que o chefe da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Eduardo Aggio, também será substituído. A nova cúpula da PF e da PRF deverá ser anunciada até o fim da semana.

Delegado de carreira, Torres mantém relação próxima com o presidente desde o tempo em que os dois trabalhavam na Câmara. Quando Bolsonaro era deputado federal, o agora ministro ocupava o cargo de assessor legislativo de uma associação de delegados da Polícia Federal. Torres também foi chefe de gabinete do deputado Fernando Francischini (PSL-PR), aliado de primeira hora da campanha de Bolsonaro, em 2018.

O discurso oficial do governo é o de que Bolsonaro deu carta branca para o novo ministro da Justiça montar sua equipe e por isso ele nomeará outro diretor-geral para a PF. O Estadão apurou porém, que a mudança não fazia parte dos planos de Torres, quando ele foi convidado para o cargo.

A troca na cúpula da PF será feita onze meses depois da polêmica dispensa de Maurício Valeixo, que levou ao pedido de demissão de Moro, em abril do ano passado. Moro saiu acusando Bolsonaro de tentar interferir politicamente na PF.

Na época, o plano do presidente era nomear para o comando da corporação o delegado Alexandre Ramagem, de quem é amigo. A indicação, porém, foi barrada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Rolando, que trabalhava com Ramagem na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), foi a alternativa encontrada.

Interferência

A PF ainda conduz o inquérito aberto pelo Supremo para apurar a acusação de Moro contra Bolsonaro. Um dos episódios sob investigação, nesse caso, é a reunião ministerial de abril de 2020, quando o presidente se queixou de que a Polícia Federal não lhe dava "informações".

"Pô, eu tenho a PF que não me dá informações; eu tenho as inteligências das Forças Armadas que não têm informações; a ABIN tem os seus problemas, tem algumas informações. Só não tem mais porque está faltando, realmente… Temos problemas. Aparelhamento, etc. A gente não pode viver sem informação", disse Bolsonaro naquela reunião, que foi gravada em vídeo. "E me desculpe o serviço de informação nosso - todos. É uma vergonha, uma vergonha que eu não sou informado. Não dá para trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir. Ponto final. Não é ameaça, não é extrapolação da minha parte. É uma verdade".

Irritado, Bolsonaro também admitiu, naquela reunião, que havia tentando trocar, sem sucesso "gente da segurança" no Rio. "Isso acabou. Eu não vou esperar f… minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar. Se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira", esbravejou o presidente, diante dos ministros. Dois dias depois, Moro pediu demissão.

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