Reporter colaborador, em Brasília
Publicado em 12 de abril de 2023 às 14h40.
Última atualização em 12 de abril de 2023 às 14h49.
Um Grupo de Trabalho (GT) na Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE), formado por deputados e senadores, irá discutir pontos a serem atacados pela proposta do governo para tributar produtos vendidos como remessa internacional de pessoa física em sites como Shopee, Shein e AliExpress.
De acordo com parlamentares ouvidos pela EXAME, o GT deve ser instalado na próxima semana com intuito de formular um relatório com pontos de atenção. O objetivo do grupo é ir além dos assuntos já tratados na Medida Provisória (MP) na qual trabalha atualmente o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
De acordo com o deputado Zé Neto (PT-BA), membro da FPE, os parlamentares querem discutir, entre outros pontos, qual será o impacto da tributação e como poderá ser feito o que já é proposto na reforma tributária, como a tributação na origem.
“A gente quer discutir a viabilidade dessa forma de tributação também nesse comércio eletrônico", diz. "Se isso não for solucionado, a perda [na arrecadação causada pela ausência de tributação dessas vendas] pode ser ampliada, o que afeta o mercado interno e grandes varejistas de forma negativa."
Ainda segundo o parlamentar, o que se pretende com a formação do grupo de trabalho é demonstrar que esta "é uma discussão de Estado e que é uma solução com apoio parlamentar".
"Se permanecer da forma como está, em dois anos nós vamos ser um pária internacional, nossa indústria continuará sendo prejudicada”, completou.
A expectativa do grupo é que um detalhamento sobre o tema seja apresentado após o retorno do ministro de Haddad da viagem à China com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Quando ele voltar, então até a próxima semana, deve ter um posicionamento claro sobre o tema”, disse Zé Neto.
Outra parlamentar, também membro da frente, disse à EXAME que a tributação dos sites nesse modelo já havia sido discutida pela FPE com o ministro. A avaliação dele é que, no momento, não seria necessário a elaboração de um projeto de lei, de modo que uma medida provisória seria suficiente para solucionar o problema.
Vale destacar que a MP teria vantagens ao governo, por passar a valer a partir da sua publicação. Como o tema tem apoio do Congresso e sofre pressão de grandes empresários brasileiros — que alegam que há uma competição desleal, uma vez que essas empresas não pagam tributos no país —, a medida não encontraria resistência para ser validada pelo parlamento. Medidas provisórias têm validade de 120 dias antes de caducar.
O governo trabalha em um medida provisória que pretende acabar com a regra que isenta de impostos as remessas internacionais com valor inferior a US$ 50 (pouco menos de R$ 250 na cotação de hoje). O benefício é exclusivo para pessoas físicas.
Pelas regras atuais, uma pessoa física no Brasil pode comprar algo de outra pessoa física no exterior sem pagar impostos se o valor for abaixo de US$ 50.
A Receita Federal avalia, porém, que empresas de outros países estariam vendendo a brasileiros ilegalmente por esse sistema. Outra possível fraude seria declarar o bem por valor inferior, ficando dentro do limite de US$ 50. Como a fiscalização da Receita hoje ocorre por amostra, parte dessas remessas consegue entrar no país sem tributação, embora sem cumprir as regras.
Segundo a Receita Federal, não há majoração de tributo na medida provisória preparada pelo governo.
Atualmente, já existe a tributação de 60% sobre o valor da encomenda, mas que não tem sido efetiva. É essa alíquota que a Fazenda estuda aplicar.
A medida, segundo o secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, em entrevista ao UOL, “irá propor ferramentas para viabilizar a efetiva fiscalização e exigência do tributo por meio de gestão de risco: obrigatoriedade de declarações completas e antecipadas da importação (identificação completa do exportador e do importador) com multa em caso de subfaturamento ou dados incompletos/incorretos”, afirmou.
Ainda segundo ele, não haverá mais distinção de tratamento nas remessas por pessoas jurídicas e físicas. Na visão do governo, hoje as remessas por pessoas físicas de bens com valores relevantes são inexpressivas.
“Com essas medidas, os consumidores serão beneficiados: com a declaração antecipada, a mercadoria poderá chegar no Brasil já liberada, podendo seguir diretamente para o consumidor", disse Barreirinhas.
"A Receita vai centrar a fiscalização nas remessas de maior risco, em que nossos sistemas de gestão de riscos, alimentados pelas declarações antecipadas, apontem risco maior de inconsistências. Com o tempo, o próprio consumidor vai preferir comprar de empresas confiáveis, que atendam estritamente a legislação brasileira”, completou o secretário.