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No Brasil para o G20, secretária do Tesouro dos EUA discutirá economia e geopolítica

anet Yellen terá agendas no Rio e em Belém, incluindo uma reunião bilateral com o G7 para falar sobre Ucrânia e Oriente Médio; taxação de super-ricos deve ser debatida com Haddad

JANET YELLEN, PRESIDENTE DO FED: discurso deve trazer novas pistas sobre aumento da taxa de juros nos Estados Unidos / Alex Wong/ Getty Images (Getty Images)

JANET YELLEN, PRESIDENTE DO FED: discurso deve trazer novas pistas sobre aumento da taxa de juros nos Estados Unidos / Alex Wong/ Getty Images (Getty Images)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 22 de julho de 2024 às 07h26.

Em visita ao Brasil para o G20, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, terá uma série de agendas com autoridades no Rio de Janeiro e em Belém a partir desta segunda-feira, incluindo uma reunião bilateral com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na qual a proposta de taxação de grandes fortunas será novamente debatida.

Segundo o subsecretário para assuntos internacionais do Tesouro americano, Jay Shambaugh, Yellen discutirá questões que vão do sistema financeiro global, como o fortalecimento de bancos multilaterais e o apoio a economias emergentes, até desafios geopolíticos, como os conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio. A viagem acontece em meio à escalada da polarização na política americana após a tentativa de assassinato do ex-presidente Donald Trump e a crescente pressão dentro do Partido Democrata para que o presidente Joe Biden abandone a corrida eleitoral.

"O presidente Biden e a secretária Yellen acreditam que uma economia global próspera e estável beneficia o povo americano", disse Shambaugh em conversa com jornalistas. "É por isso que estamos desempenhando um papel de liderança e nos concentrando no G20 para trabalhar de forma construtiva com países de baixa e média renda, para apoiá-los e apoiar a economia global."

O subsecretário elencou algumas medidas que serão abordadas por Yellen na visita, como a liberação de mais recursos para bancos multilaterais de desenvolvimento.

"Desbloqueamos mais de US$ 200 bilhões em capacidade de empréstimo adicional aos bancos multilaterais de desenvolvimento e vamos pressionar por reformas operacionais essenciais para enfrentar melhor alguns dos desafios mais urgentes do mundo, incluindo mudanças climáticas, pandemias, fragilidades e conflitos", destacou Shambaugh

Encontro do G7 à margem do G20

No aspecto geopolítico, o encontro será uma oportunidade para Yellen dialogar com ministros das finanças de países aliados, incluindo do G7 (Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão e Reino Unido, além do próprio Estados Unidos), sobre sanções econômicas para frear os esforços de guerra da Rússia e as ambições do Irã no Oriente Médio, adiantou o subsecretário.

"Enquanto estiver no G20, a secretária Yellen trabalhará com nossos aliados, inclusive por meio de uma reunião do G7 à margem do evento, para enfrentar os desafios geopolíticos como a guerra ilegal de agressão da Rússia e a instabilidade causada pelo Irã e seus tentáculos",disse

Impacto da eleição americana

As agitações na política doméstica americana, no entanto, não devem fazer parte das discussões no G20, grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo ao lado da União Europeia e da União Africana, segundo uma autoridade sênior do Tesouro que conversou com o GLOBO sob condição de anonimato.

A possibilidade de uma vitória do ex-presidente republicano Donald Trump nas eleições de novembro — que ganhou corpo depois do atentado — e a incerteza em relação à permanência de Biden na disputa acendem o alerta sobre a continuidade das iniciativas discutidas no G20 em uma eventual mudança na Casa Branca.

O futuro dos EUA e seu impacto no restante do mundo deve se tornar pauta — muito embora reservadamente — na Cúpula de Líderes do G20, que acontecerá no Rio de Janeiro nos dias 18 e 19 de novembro. Até lá, tudo indica que o vencedor das eleições americanas, previstas para 5 de novembro, já será conhecido.

Em caso de uma vitória de Trump, o avanço do multilateralismo deverá dar lugar à política "America's first" ("EUA primeiro", em tradução livre) vista no seu primeiro mandato. Conhecido pelo protecionismo comercial, o magnata prometeu uma nova taxação de 10% sobre todas as importações e 60% sobre produtos chineses, uma drástica medida que deve impactar toda a cadeia de produção e comércio global, além de provocar inflação no país em decorrência da diminuição da oferta de produtos.

Para o Brasil, soma-se também o possível fim da colaboração nas questões ambientais, caras a Joe Biden —o primeiro presidente americano a contribuir para o Fundo Amazônia. Uma vitória do republicano abre um cenário de incerteza sobre o destino dos US$ 500 milhões prometidos por Biden para a preservação ambiental da região. Ao final de 2023, apenas US$ 15 milhões haviam sido repassados. Em julho, o governo enviou mais US$ 47 milhões, quitando a primeira parcela do montante prometido.

Sob Trump, os EUA foram o primeiro país do mundo a abandonar o Acordo de Paris, medida revertida posteriormente pelo chefe de Estado democrata. A depender da fragilidade dos tratados climáticos que podem ser firmados no G20, não seria uma surpresa se eles fossem rasgados pelo republicano em um eventual retorno à Casa Branca.

O dilema da taxação de grandes fortunas

Do ponto de vista econômico, um dos pontos em discussão no fórum será a proposta brasileira de taxação de grandes fortunas, a ser defendida novamente por Haddad esta semana. O ministro argumenta que o valor arrecadado deve ser usado para financiar medidas de enfrentamento às mudanças climáticas.

Hoje, estima-se que o imposto médio pago pelos super-ricos não ultrapasse 0,3% da sua fortuna. O Brasil encomendou um estudo do economista francês Gabriel Zucman, professor da Universidade de Berkeley, na Califórnia, que propõe uma taxação de 2% sobre o patrimônio dos cerca de 3 mil bilionários que existem hoje no mundo.

A medida será analisada no G20 e, se aprovada,levaria à arrecadação de até US$ 688 bilhões por ano. O feito repetiria umacordo histórico assinado em 2021, quando 130 países, incluindo o Brasil, concordaram com uma taxação de 15% para multinacionais.

Publicamente, a secretária do Tesouro americano já se manifestou contra a proposta. Em entrevista ao Wall Street Journal em maio, Yellen afirmou que acredita em uma "tributação progressiva" e não apoiará nenhum "acordo global comum".

Não seria uma novidade caso os Estados Unidos optassem por não ratificar o acordo. O país não é signatário de diversos tratados de grande adesão, como o Protocolo de Kyoto e o Tratado de Roma, documento basilar do Tribunal Penal Internacional.

Nesse caso, no entanto, dada a relevância da economia americana para o sistema financeiro global, a negativa poderia levar ao fracasso completo da iniciativa, que já conta com o apoio de nações como França, Espanha e África do Sul.

Segundo uma fonte do Tesouro ouvida pela reportagem, Yellen continuará defendendo um "sistema tributário progressivo para combater a desigualdade", sob a justificativa de que "as soluções tributárias mais eficazes vão variar bastante entre as jurisdições".

"Temos diferentes cenários e contextos [dentro do G20]. Os princípios são importantes e discuti-los conjuntamente é importante, mas provavelmente eles serão aplicados de forma diferente", disse a fonte familiarizada com as discussões. "Não espero que essas reuniões resultem em um imposto único para bilionários".

 

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