Bolsonaro: repórteres insistiram para apresentar provas de suas acusações, mas o presidente se negou (Adriano Machado/Reuters)
Reuters
Publicado em 16 de agosto de 2019 às 15h43.
Brasília — O presidente Jair Bolsonaro voltou a acusar os médicos cubanos que estavam no Brasil dentro do programa Mais Médicos de terem sido enviados, a pedido do PT para criarem "células terroristas" no país, mas disse que não precisa apresentar provas de sua acusação.
"O PT botou no Brasil cerca de 10 mil fantasiados de médicos aqui dentro, em locais pobres para fazer células de guerrilhas e doutrinação. Tanto é que quando eu cheguei eles foram embora porque eu ia pegá-los", acusou Bolsonaro.
O presidente voltou às acusações contra Cuba e o PT — partido que estava no governo quando o Mais Médicos foi criado —, ao ser questionado sobre propostas para resolver problemas sociais do Brasil, depois de reclamar de reportagens que mostravam a situação difícil que vive a família da primeira-dama, Michele, em uma cidade-satélite de Brasília.
Ao ser perguntado diretamente sobre provas das acusações que faz aos médicos cubanos, Bolsonaro evitou responder. "Precisa ter prova disso daí? Tu acha que está escrito isso aí em algum lugar?", disse.
Diante da insistência dos repórteres, afirmou que Cuba exportava guerrilheiros na década de 70 para Angola e que estava difícil apurar a ação dos cubanos no Brasil porque "o PT sumiu com muita coisa".
O presidente também foi questionado se sabia de alguma ação guerrilheira dos cubanos durante os anos que estiveram no Brasil e respondeu que estavam aqui em "preparação". "É preparação, é preparação. Você não faz as coisas de uma hora para outra, fazendo a cabeça do povo", afirmou.
Bolsonaro usou ainda como justificativa o que diz ser falta de qualidade da medicina em Cuba. Mais uma vez, lembrou que o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez foi para o país para ser tratado de um câncer agressivo e morreu.
"Alguém já viu um médico cubano andando pelo mundo defendendo teses? Não. Nem tem internet em Cuba. Eles nem conseguem ter acesso a outras fontes de informação. Não tem nada lá, meu Deus", afirmou.
O presidente comparou, ainda, o programa Bolsa Família a uma espécie de "condução coercitiva" do PT para as pessoas mais pobres e que o programa serve para angariar votos.
"Eu lembro que, num debate de 2014, uma candidata bateu no peito e disse que 'em nosso governo 50 milhões de pessoas vivem do Bolsa-Família'. Obviamente, muita gente humilde necessitava até disso daí. Mas, outra parte, não. Porque não era também estimulada a sair desse tipo de condução coercitiva, vamos por assim dizer", afirmou.
Depois, questionado sobre sua afirmação, disse que "em parte, o Bolsa Família foi usado para angariar votos". Crítico do programa quando era deputado federal, Bolsonaro durante a eleição prometeu que não iria acabar com o Bolsa Família e, ao assumir, disse que criaria um 13º para o programa. A proposta, no entanto, ainda não foi implementada.
Em mais uma série de críticas ao PT, disse que o importante para o partido era que pessoas sem estudo tivessem "o título de eleitor em uma mão e o cartão de um programa social na outra".
"Em alguns casos são necessários até pela idade e pela condição da pessoa, mas não podemos crescer pensando nisso", afirmou.
Em meio a um discurso pelo dia nacional da juventude, Bolsonaro ainda voltou a suas falas de campanha em que acusava o partido adversário de incentivar a homossexualidade.
"Se fosse quatro anos atrás talvez tivesse dois homens se beijando aqui na frente, desconstruindo a heteronormatividade", disse. "Nada contra, mas não podemos impor isso aí."