Dilma Rousseff durante interrogatório no Senado - 29/08/2016 (Agência Brasil)
Talita Abrantes
Publicado em 29 de agosto de 2016 às 12h44.
São Paulo – Em seu discurso inicial de defesa para o Senado, a presidente afastada Dilma Rousseff (PT) adotou um tom mais emocional do que técnico. Reforçou a tese de que o processo de impeachment em curso é um golpe contra a democracia e voltou a repetir elementos dos discursos que marcaram os 110 dias em que esteve apartada do poder. Veja íntegra do discurso.
A sessão de hoje — uma das principais do julgamento final — começou com meia hora de atraso com casa lotada. Dilma Rousseff falou durante cerca de 44 minutos aos senadores.
Da galeria do plenário, era ouvida atentamente pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu padrinho político, que acompanhou o discurso ao lado do cantor Chico Buarque e outros 30 convidados da petista.
A presidente afastada abriu sua fala inicial lembrando que foi eleita por 54 milhões de votos e que jamais “praticaria atos contrários aos interesses daqueles” que a elegeram. Ela admitiu que, nessa jornada longe do cargo, ouviu muitas críticas e as acolhia com humildade. “Até porque, como todos, tenho defeitos e cometo erros”, disse.
Ditadura
Em mais de um momento, Dilma lembrou de sua luta contra a Ditadura Militar e disse que, apesar do medo da morte e das sequelas da tortura, resistiu. “Aos quase setenta anos de idade, não seria agora, após ser mãe e avó, que abdicaria dos princípios que sempre me guiaram”, afirmou.
Voltou a afirmar que, com o processo de impeachment em curso, sente novamente, na boca, “o gosto áspero e amargo da injustiça e do arbítrio”. Diante disso, afirmou que luta pela democracia. “Não luto pelo meu mandato por vaidade ou por apego ao poder”, afirmou.
Golpe
“No passado, com as armas, e hoje, com a retórica jurídica, pretendem novamente atentar contra a democracia e contra o Estado do Direito”, disse. “São pretextos, apenas pretextos, para derrubar (...) o governo de uma mulher que ousou ganhar duas eleições presidenciais consecutivas”.
De acordo com ela, a continuidade de seu mandato não é o único aspecto em jogo neste processo. “O que está em jogo é o respeito às urnas, à vontade soberana do povo brasileiro e à Constituição”, disse.
“Quem afasta o Presidente pelo “conjunto da obra” é o povo e, só o povo, nas eleições. E nas eleições o programa de governo vencedor não foi este agora ensaiado e desenhado pelo Governo interino e defendido pelos meus acusadores”, afirmou.
"A forma só não basta. É necessário que o conteúdo de uma sentença seja justa. Nunca haverá justiça em uma eventual condenação minha", afirma.
Democracia
A presidente afastada afirmou que não abriu mão do cargo porque respeita o Estado democrático de direito. "Jamais o faria porque não renuncio à lei", disse. "A violência do preconceito me assobrou e, em alguns momentos, muito me magoaram".
E voltou a agradecer o empenho das mulheres que a acompanharam nesse período de luta: "Bravas mulheres brasileiras que tenho a honra de representar como primeira presidente da República", afirmou.
"Tenho a consciência tranquila, não pratiquei crime de responsabilidade. Cassar meu mandato é como me submeter a uma pena de morte política", disse.
Emocionada, a presidente afastada relembrou da tortura e do câncer que combateu antes das eleições de 2010. Disse que temeu a morte nessas duas ocasiões, mas que, hoje, só teme a "morte da democracia".
Veja a íntegra do discurso de Dilma e continua acompanhando o interrogatório no blog ao vivo de EXAME.com