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'Não é não': Carnaval carioca quer proteger as mulheres

paralelamente à dança, à música e à alegria transbordante, eclodem os casos de assédio e aumentam os estupros

Campanha por um carnaval mais seguro para as mulheres durante desfile do grupo Loucura Suburbana no Rio (AFP/AFP Photo)

Campanha por um carnaval mais seguro para as mulheres durante desfile do grupo Loucura Suburbana no Rio (AFP/AFP Photo)

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Agência de notícias

Publicado em 10 de fevereiro de 2024 às 12h37.

Evite ficar sozinha no meio da multidão, opte por bebidas em lata, use o QR code para emergências: no Rio, multiplicam-se as recomendações às mulheres para que fiquem seguras durante o carnaval, quando os assédios aumentam.

O Rio, que inaugurou oficialmente na sexta-feira a sua festa mais emblemática, é palco de multidões nas ruas, dos tradicionais blocos, por vezes com centenas de milhares de pessoas.

Mas paralelamente à dança, à música e à alegria transbordante, eclodem os casos de assédio e aumentam os estupros.

Uma pesquisa recente do Instituto Locomotiva revelou que no Brasil sete em cada dez mulheres (73%) temem ser assediadas sexualmente durante as celebrações.

A pesquisa, feita em janeiro com 1,5 mil pessoas, mostrou que metade das mulheres (50%) sofreu agressões em edições anteriores do carnaval.

A explicação se resume em duas palavras: álcool e machismo, segundo Erica Paes, especialista em segurança feminina.

"Os homens acham que eles têm direito e poder sobre o corpo da mulher", disse Paes, que também é campeã mundial de MMA (artes marciais mistas), à AFP.

Ela criou e coordena o programa Empoderadas, do governo do estado, que hoje redobrou esforços para fornecer informações sobre como se comportar, quais situações evitar e, caso seja vítima de violência, para onde se dirigir.

"Então a gente divulga as ferramentas preventivas de proteção a elas e também falamos sobre a questão do consumo de álcool (...) para que elas tenham a ciência de que realmente estão entre amigos e amigas e que estão seguras com aquela turma", afirma Paes.

Informação é poder

Em dezembro, o Brasil aprovou a lei "Não é Não", que estabelece um protocolo obrigatório em espaços de entretenimento para proteger a vítima de abusos, incentivar denúncias e preservar possíveis provas.

A regra é inspirada na catalã No callem (Não se calem, em tradução livre), que possibilitou levar a julgamento o jogador de futebol Dani Alves após ser acusado de estuprar uma mulher em uma boate de Barcelona.

"Vamos espalhar a informação que salva vidas e reforçar que depois do não, é assédio", disse em nota Joyce Trindade, da Secretaria da Mulher da Prefeitura do Rio, responsável pela campanha Carnaval+Seguro.

Este ano há postos de atendimento às mulheres agredidas ou que se sentem em perigo no Sambódromo e na Avenida Intendente Magalhães.

Os códigos QR com informações (em quatro idiomas) sobre como e onde procurar ajuda podem ser consultados em diversos espaços públicos, como os banheiros do Sambódromo e dos blocos.

Nos ônibus, trens ou vagões do metrô, que também ficam lotados no feriado, é possível se deparar com uma equipe da Empoderadas aconselhando as usuárias.

Uma questão importante: se for beber, certifique-se de estar em um grupo de amigos. "Infelizmente, às vezes o perigo mora ao lado", diz Paes.

O governo também lançou uma campanha pelo respeito às mulheres e recomenda ligar para 180 em caso de emergência.

"Não resolve o problema"

Nos arredores do hospital psiquiátrico Nise da Silveira, na zona norte do Rio, o rebuliço cresce enquanto se acertam os detalhes para a saída do seu tradicional bloco Loucura Suburbana.

Misturadas entre as centenas de foliões estão cerca de dez mulheres de violeta e purpurina da campanha Carnaval+Seguro, que distribuem adesivos e leques com as frases "Respeita as Minas" e "Não é Não".

Mas para alguns, é insuficiente.

"As campanhas ainda não dão conta da gravidade do que é a situação das mulheres no carnaval", lamenta Daniele Ribeiro, de 38 anos, que participa do bloco.

"É melhor que nada, mas acho que por si só não resolve o problema", disse à AFP esta historiadora, que acredita ser necessário proporcionar mais locais para denunciar e punições mais severas para os abusadores.

Os homens "devem construir outra forma de estar no carnaval".

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