José Mariano Beltrame, ex-secretário de Segurança Pública estadual do Rio (Credit Suisse/Divulgação)
Luiza Calegari
Publicado em 31 de janeiro de 2018 às 18h13.
Última atualização em 31 de janeiro de 2018 às 18h23.
São Paulo – O ex-secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro José Beltrame acredita que, “em segurança pública, você nunca ganha, você só perde de pouco. No máximo empata a partida”.
Essa foi a premissa que baseou a implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), na capital fluminense, a marca da gestão de Beltrame à frente da pasta e uma das razões para que o presidente Michel Temer cogite nomeá-lo para integrar um possível novo ministério, o de Segurança Pública.
Beltrame também se disse favorável à privatização dos presídios, e afirmou que o combate à criminalidade é mais difícil em São Paulo do que no Rio.
“Aqui [em São Paulo] o PCC [Primeiro Comando da Capital] é uma estrutura criminosa efetivamente organizada. É uma instituição que pensa no dinheiro; não quer barulho, não quer matar ninguém. No Rio de Janeiro, a sorte é que você tem o crime desorganizado, onde a pessoa quer ostentar, andar de carrão, encher a festinha de mulher. O PCC é exatamente o contrário, tem dinheiro e trabalha silenciosamente”, opinou.
Ele participou nesta quarta-feira da Latin American Investment Conference, promovida pelo banco de investimentos Credit Suisse.
Beltrame criticou o governo federal por não se responsabilizar pela questão da segurança pública, delegando a tarefa aos governos estaduais. “Por que isso não é prioridade do governo federal. Morrem 60 mil pessoas por ano por causa da falta de segurança”, disse.
"Sem segurança pública, não tem prosperidade. As pessoas estão indo embora do país por causa da sensação de insegurança. Os investidores vão buscar lugares mais seguros para fazer seus investimentos. Para parlamentares, para a esquerda, a segurança é um patinho feio. Mas não adianta fazer Minha Casa Minha Vida em uma área dominada pelo crime", argumenta o ex-secretário.
Para ele, é preciso que o governo federal assuma a responsabilidade pelo assunto, e comece a prestar atenção ao problema das fronteiras, por exemplo, que é por onde entra boa parte das drogas consumidas no país.
Questionado, então, sobre se a legalização das drogas resolveria esse problema, ele rebateu que, de certa forma, o uso de drogas já está liberado. Além disso, ele afirmou que o combate às drogas no modelo atual é “irracional”, que precisa ser repensado.
“Essa pergunta sempre é feita da forma errada. Não é para perguntar para a população se é a favor ou contra. A pergunta que deve ser feita é ‘como vamos fazer se legalizar?’ É mentira que o mercado vá se ajustar sozinho. Precisamos saber como lidar com isso, se tem capacidade de oferecer atendimento de saúde para quem quiser parar de usar”, argumentou.
Beltrame também não fugiu de outros temas polêmicos, como a privatização dos presídios. “Eu sou a favor de tentar. Sempre que algo não está funcionando, você testa algo novo. Tudo depende do contrato que você faz. Se você for ver nos Estados Unidos, a empresa que cuida do presídio recebe uma multa altíssima em caso de fuga. Quantas vezes você ouve de preso fugindo lá?”, comentou o ex-secretário.