PEDRO PARENTE: “houve um aparelhamento da empresa, associado à irresponsabilidade financeira e econômica” / Flávio Santana/Biofoto
Da Redação
Publicado em 30 de setembro de 2016 às 13h07.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h26.
Camila Almeida
Como recuperar uma empresa com 126 bilhões de dólares de dívida e que durante anos e anos foi saqueada por uma quadrilha? Segundo Pedro Parente afirmou na manhã desta sexta-feira, no EXAME Fórum 2016, o segredo é foco.
Para conseguir recuperar a Petrobras, o novo Plano Estratégico e de Negócios prevê 15,1 bilhões de dólares em venda de ativos até o final deste ano e mais 19,5 bilhões entre 2017 e 2018. A ideia é, enxugando a empresa, garantir benefícios como compartilhamento de risco com as empresas parceiras, intercâmbio tecnológico e, o mais importante, ampliar a capacidade de investimentos, hoje estagnada. A previsão é que, nos próximos 10 anos, a empresa possa investir cerca de 40 bilhões de dólares.
O objetivo principal, segundo Parente, é se manter na vanguarda da exploração de águas profundas. “Hoje, a tecnologia que desenvolvemos é reconhecida e premiada internacionalmente, e é nosso maior orgulho”, afirmou. No plano de corte de custos, está também o foco total na exploração de óleo e gás. “Setores como o de biocombustíveis e GLP estão integralmente descartados para os próximos cinco anos”, afirmou Parente.
O pré-sal, apesar de ser extremamente produtivo, tem extração cara, que fica pouco viável com a queda dos preços do barril internacionalmente. Na última quarta-feira, no Fórum Internacional de Energia, a Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep), definiu informalmente que vai limitar a produção – o que deve ajudar a impulsionar os preços. Hoje, os 14 países membros produzem 33 milhões de barris por dia – e essa média deve cair para 700.000 barris diários a menos. Só com o anúncio, o preço do barril subiu 5%, mas a decisão oficial deve vir só no dia 30 de novembro. O Brasil não faz parte da Organização, mas se beneficia do acordo. Para 2021, a previsão é ampliar a produção de 2,6 milhões de barris diários para 3,4 milhões de barris por dia de óleo e gás.
Até uma melhora nos preços, porém, o plano é abrir espaço para outras fontes. “Precisamos gerir de forma integrada o portfólio de projetos. Vivemos um endeusamento do pré-sal. Temos outros campos excelentes, na própria bacia de Campos, e precisamos estar sempre fazendo avaliações de retorno”, diz Parente. Enquanto isso, o desenvolvimento de produção em águas profundas continua sendo prioridade, com extensão para o mercado de refino.
Desvio de finalidade
Parente criticou o desvio de prioridades das gestões anteriores. “A Petrobras estava sendo usada para outras finalidades. Houve um aparelhamento da empresa, associado à irresponsabilidade financeira e econômica. Como uma empresa pode pensar em construir uma refinaria em Pernambuco, outra no Maranhão e outra no Ceará? Isso não é racionalidade econômica”, diz. Parente reiterou que o fundo soberano da Petrobras hoje é o maior do mundo e tem quase 1 trilhão de dólares, com recursos que podem ser aproveitado pelo orçamento da União.
Nesse choque de realismo, a empresa precisa lidar também com a resistência dos trabalhadores. Os funcionário da Petrobras rejeitaram, em assembleia realizada nesta quinta-feira, a proposta de acordo da companhia. Desta forma, podem entrar em greve em qualquer momento. Os petroleiros discordam da proposta de reajuste salarial e alegam que perderão direitos com o plano milionário de venda de ativos da companhia, que tem como meta arrecadar 34,6 bilhões de dólares entre 2015 e 2018.
Na pauta estão reajustes salariais de 19% além de manifestações contrárias à venda de ativos da empresa. A Federação Única dos Petroleiros (FUP), sindicato que responde nacionalmente pela categoria de trabalhadores, está convocando assembleias com a chamada “Operação Para Pedro”, em referência a Parente.
“Internamente, uma parte dessas pessoas foram acostumadas com generosos aumentos salariais, com ganhos reais na ordem de 50 % em dez anos. Nós queremos dar metade da inflação e isso soa como afronta. É difícil entenderem que a gente mudou”, diz Parente
Se os desafios são muitos, seu currículo traz certo conforto. O engenheiro de 63 anos tem ampla experiência no setor energético e já atuou tanto no serviço público quanto privado. Ele foi ministro da Casa Civil, do Planejamento e de Minas e Energia do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e ficou nacionalmente conhecido em 2001, ao liderar o plano de racionamento de energia. Foi consultor do Fundo Monetário Internacional e é presidente do conselho da BM&FBovespa. Por quatro anos foi presidente da empresa de alimentos Bunge e é sócio da consultoria Prada. Seu sucesso nesta empreitada será o sucesso de todos os brasileiros.