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Mulheres refazem grafites vandalizados de Marielle e Maria da Penha

O grafite da vereadora do PSOL, assassinada no ano passado, havia sido pintado pela ativista paquistanesa Malala Yousafzai

Mônica: viúva de Marielle comemora novos grafites "pintaremos quantas vezes for necessário" (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Mônica: viúva de Marielle comemora novos grafites "pintaremos quantas vezes for necessário" (Fernando Frazão/Agência Brasil)

AB

Agência Brasil

Publicado em 15 de janeiro de 2019 às 09h54.

A viúva da vereadora Marielle Franco, Mônica Benício, refez no início da noite de hoje (14) o grafite em homenagem à parlamentar assassinada que havia sido pintado pela ativista paquistanesa Malala Yousafzai em julho do ano passado e vandalizado cinco meses depois.

Também foi refeito o grafite em homenagem à ativista Maria da Penha, que tinha sido apagado com tinta preta no dia 10 de dezembro, quando é comemorado o Dia Internacional dos Direitos Humanos.

A homenagem a Marielle e Maria da Penha foi feita por Malala, usando a técnica stencil em parceria com a grafiteira Panmela Castro.

O stencil consiste no uso de uma forma com o traçado do desenho a ser pintado. Panmela é fundadora da Rede Nami, um grupo que forma grafiteiras e discute violência conta a mulher na favela Tavares Bastos, na zona sul do Rio de Janeiro.

A grafiteira disse que refazer o retrato de Marielle no muro, com o apoio da dona da casa, foi um ato de resistência.

"As pessoas estão tentando abafar o que aconteceu e tirar a nossa voz, mas a gente está resistente. A gente vai refazer quantas vezes precisar", disse Panmela, que também distribuiu 600 cartazes que trazem reproduções do grafite de Marielle.

Panmela organizou o ato para refazer o grafite e teve o apoio de coletivos de mulheres lésbicas e blocos de carnaval. Mônica Benício disse que fez questão de participar e reconstruir a homenagem com suas próprias mãos, usando a mesma técnica usada por Malala.

"Queria que fosse feito com solidariedade, com afeto e com amor. Pedi a participação de blocos coletivos e das mulheres da resistência sapatão, para fazer algo com cara de Marielle, com alegria. Ela era uma pessoa que gostava muito de celebrar a vida. É fundamental para a gente dizer que vai ter resistência e que a memória da Marielle não vai ser violentada e não ser esquecida", disse Mônica.

Investigações

A viúva de Marielle disse que acompanha com pouco ânimo as últimas declarações de autoridades sobre o caso.

Recentemente, o governador Wilson Witzel disse que a investigação está perto de um desfecho e, hoje, o procurador-geral de Justiça do estado do Rio de Janeiro, Eduardo Gussem, disse que não há dúvidas da ligação de milicianos com o assassinato.

"Não consigo ver essas notícias com grande ânimo, porque desde o meio do ano passado é dito pelas autoridades que o caso está perto de ser solucionado", disse Mônica, que torce para que dessa vez os resultados da investigação apareçam.

"As autoridades não mostram nada de concreto que faça a gente acreditar que isso seja real".

Para Mônica, é muito importante que o poder público se comprometa a garantir que o resultado das investigações seja preciso e bem embasado.

"Quem pode achar sou eu que não sou autoridade. As autoridades competentes envolvidas no caso tem que garantir com certeza. Inclusive existe o medo de que seja entregue uma resposta que não seja uma resposta real a fim de tentar silenciar o caso e encerrar essa história".

Bloco

Ao fim da pintura do grafite, o ato tomou forma de um bloco de carnaval e desceu parte da ladeira Tavares Bastos, distribuindo os cartazes em homenagem à vereadora assassinada e cantando sambas e marchinhas de carnaval.

Mônica disse que fazer justiça à Marielle é uma luta que não termina com a prisão dos responsáveis por sua execução.

"A Justiça para Marielle não se fará só no resultado das investigações, mas na disputa por uma sociedade mais justa e igualitária por que ela lutava e é o que vamos seguir lutando".

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