Entrada da Boate Kiss após o incêndio que causou mais de duzentas mortes na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul: estima-se que mais de 1,5 mil pessoas estavam no local quando a tragédia ocorreu (REUTERS/Edison Vara)
Da Redação
Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.
São Paulo - O Ministério Público manifestou nesta segunda-feira suspeitas de que houve adulteração de provas que comprovariam supostas irregularidades na boate Kiss, onde um incêndio no domingo (27) matou mais de 230 pessoas em Santa Maria, no interior do Rio Grande do Sul.
De acordo a Procuradoria, os proprietários da boate não forneceram imagens das câmeras internas de segurança aos órgãos de investigação e tampouco repassaram os registros do caixa, que poderia comprovar o número de pessoas que entraram no local durante a noite.
Segundo o depoimento de 17 testemunhas, além de imagens de vídeo e conclusão da perícia, deveriam haver mais de 1,5 mil pessoas no local. A polícia afirma que a capacidade máxima aprovada para a boate seria de apenas mil pessoas. Os promotores acham que ainda não há evidências para responsabilizar agentes públicos, como fiscais da Prefeitura, por exemplo, por permitir a realização da festa e o funcionamento da casa.
Entenda
O incêndio com mais mortes nos últimos 50 anos no Brasil causou comoção nacional e grande repercussão internacional. Em poucos minutos, mais de 230 pessoas - na maioria jovens - morreram na boate Kiss de Santa Maria - cidade universitária de 261 mil habitantes na região central do Rio Grande do Sul. Outras 127 ficaram feridas.
A tragédia começou às 2h30 de domingo (27/01), quando um músico acendeu um sinalizador para dar início ao show pirotécnico da banda Gurizada Fandangueira. No momento, cerca de 2 mil pessoas acompanhavam a festa organizada por estudantes do primeiro ano das faculdades de Tecnologia de Alimentos, Agronomia, Medicina Veterinária, Zootecnia, Tecnologia em Agronegócio e Pedagogia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Uma fagulha atingiu o sistema de exaustão da casa noturna e o fogo se alastrou rapidamente pelo teto com papelão e material de proteção acústica. A maioria das vítimas, porém, não foi atingida pelas chamas - 90% morreram asfixiadas.
Uma série de erros potencializou a tragédia. Sem porta de emergência nem sinalização, muitas pessoas em pânico e no escuro não conseguiram achar a única saída existente na boate. Com a fumaça, várias morreram perto do banheiro. Para piorar, seguranças da casa tentaram impedir alguns frequentadores de sair antes de pagar a comanda. Na rua estreita, o escoamento do público foi difícil. Bombeiros e voluntários quebraram as paredes externas da boate para aumentar a passagem. Mas, ao tentarem entrar, tiveram de abrir caminho no meio dos corpos para chegar às pessoas que ainda estavam agonizando. Muitos celulares tocavam ao mesmo tempo - eram pais e amigos em busca de informações.
Como o Instituto Médico-Legal não comportava, os corpos foram levados a um ginásio da cidade, onde parentes desesperados passaram o dia fazendo reconhecimento. Lá também foi realizado o velório coletivo.
Ao longo do dia, centenas de manifestações de solidariedade lembraram a tragédia em todo o País. Emocionada, a presidente Dilma Rousseff chorou duas vezes ao falar do caso - ainda no Chile, de manhã, onde deixou um encontro com presidentes, e à tarde, ao lado do governador Tarso Genro, já em Santa Maria.